sexta-feira, 17 de junho de 2005

Arraiá!

Quando eu era pequena, cada um dos vários prédios da minha rua organizava um grupo de habitantes mirins para defender seu edifício no nosso arraial. Um mutirão era formado para enfeitar a rua. Era o grande evento que encerrava o primeiro semestre. Comparado somente aos festejos de fim de ano e ao carnaval, representado pelo bloco “Vai e Vem”, cujo nome definia o percurso dos foliões e o “extenso” repertório.

Lembro que minhas irmãs me levavam pela mão para vê-lo passar. E lembro também que a bateria me fazia sentir “um negócio estranho” no peito. Negócio que voltei a sentir nos shows de rock que passei a freqüentar uma década depois.

Minhas irmãs também ajudavam na festa: maquiavam alguns foliões e caipiras. Era divertido ver na minha própria casa os astros bailarinos e cantores da minha infância se preparando para brilhar. Que orgulho!

Com o tempo, pessoas estranhas e carrancudas começaram a observar nossas festas. Em seguida, alguns estalos foram ouvidos, pessoas correndo, algumas feridas, gritaria. E esse foi o fim das festas na minha rua.

Há dois anos, fui à festa junina do colégio do meu sobrinho e, para minha tristeza, o figurino e a coreografia da turminha dele era de cowboy… Em novembro, eles comemoram o Halloween. Nunca mais voltei às festas da escolinha.

Neste ano, tive a felicidade de ouvir Pífanos de Caruaru. Que saudade que me deu das festas juninas lá da rua. E soube que algumas pessoas estão tentando resgatar essa tradição aqui no Rio. Prova disso são os arraiais com brincadeiras e comidas e bebidas típicas que estão pipocando pela cidade, como o Arraiá Voador, do Circo, com a banda Xaxados e perdidos (leia-se Forroçacana); e o do Maraca, todos os finais de semana de junho no maior estádio de futebol do mundo, mas com Alcione e a bateria da Mangueira (como assim???). Será que dá pra matar a saudade?

Matando ou não, não podemos abrir mão da nossa cultura e de seu eterno resgate.

O povo “cabeça” terá um final de semana e tanto no ensolarado e belo Rio outonal. Uma mostra de teatro internacional traz aos palcos do CCBB 4 peças estrangeiras: a americana "After Eros", a dinamarquesa "Salt", a chilena "Gemelos" e a russa "White Cabin". As duas primeiras quase não têm fala, as demais contarão com legendas em português. Quem arrisca?

Estréias interessantes no cinema: "Nicotina" (MEX/ARG), "Espanglês" (EUA), "O cachorro" (ARG), "The corporation" (CAN)

Hoje, 16/06
• Otto no Rival R$24,00 (amanhã também)
• Fashion Club: em frente ao estacionamento do MAM, encerrando o Fashion Rio, música eletrônica e hip hop cara pra chuchu... R$45,00, mas a bebida é liberada!

Sábado, 17/06
• Players, hip hop festival: Black Alien, MV Bill e BNegão e, de Sampa, Helião e Negra Li, são os principais nomes do festival que vai arrancar R$30 dos fãs do estilo que apresentarem flyer ou carteira de estudante na Fundição Progresso.

Domingo, 18/06
• Volta ao redor da Baía da Guanabara a bordo do rebocador Laurindo Pitta (última embarcação da Primeira Guerra Mundial ainda intacta guardada pela Marinha). Saída do Espaço Cultural da Marinha (Av. Alfred Agache s/nº, Praça XV), às 13:15h e 15:15h. R$ 8 e R$ 4, para crianças até 12 anos, estudantes e maiores de 60. De quinta a domingo.
• Dança em Trânsito: no calçadão de Copa, da Praça do Lido ao Copacabana Palace, apresentação de grupos de dança nacionais e estrangeiros. A partir das 15h. Grátis.

Terça, 21/06, e Quarta, 22/06
• Baseado na obra de Tchecov, a companhia japonesa Pappa Tarahumara traz ao Espaço Sesc o espetáculo de teatro, dança e canto "As três irmãs". Após a apresentação do dia 21, haverá uma palestra com a professora da PUC-SP, Christine Greiner, que falará sobre a dança japonesa e sua relação com a cultura pop. No dia 22, das 9h às 15h, haverá workshop com o diretor Hiroshi Koike. Desse encontro, serão selecionados profissionais para compor o elenco de uma montagem nipo-brasileira em 2006.

Colaboraram com esta edição: Joana Simões e Fabíola Andrade. Thanx, girls!!!

sexta-feira, 3 de junho de 2005

Caia no suingue pra se consolar

Quarta-feira eu acordei assustada.

Já chegamos à segunda metade do ano. O tempo está passando depressa demais até mesmo para aqueles que, como eu, não estão conseguindo construir nada de concreto para as suas vidas.

A sensação de correr contra o tempo e de ver o escorregar da areia na ampulheta deixa nos ombros o peso da ansiedade, levemente amenizada somente quando se olha pros lados e vê que as pessoas da sua idade também têm realizado pouco. Será que uma geração inteira está fadada ao fracasso?

Será que a geração Hollywood Rock apostou as fichas no grunge e enterrou seu futuro com Kurt Cobain?

Vejo os recém-checados aos 30 receberem seus suados salarinhos num dia e ficarem totalmente lisos na semana seguinte (quando muito). Será que nos espelhamos na administração pública para gerir nossos recursos privados?

Prefiro pensar que daqui a 10 anos vamos olhar pra trás e ver que fomos uma geração de hedonistas construindo sem perceber uma cultura que daqui de onde estou ainda não consigo enxergar, mas que no final das contas se divertiram muito com o pouco que tinham.

Afinal, somos a última geração de crianças que conseguiam inventar brinquedos com o material que tivessem à mão, e se não tivessem material algum por perto, juntavam a molecada pra jogar pique-bandeira, pique-tá (ou pique-cola), pique-esconde, queimado, taco... E se o número de pragas fosse insuficiente para um jogo coletivo como esses, apertar as campainhas dos vizinhos e sair em disparada já garantia a diversão e horas e horas de riso histérico.

Nossa infância começou com o silêncio da mão de lata da ditadura brasileira, mas foi se soltando aos poucos, até conseguir gritar os palavrões e as indecências de Marcelo Nova e Roger Moreira, esses sim, os nossos grandes ícones alienados. Não me venha falar da poesia de Cazuza ou do engajamento romântico do Renato Russo. A gente gostava mesmo era da bagunça. Nossas musas eram a Mary Lou e a Sílvia. Nunca foi Andrea Dória.

Mas o tempo passou e nós que realmente vivemos aquilo tudo não temos saco pra ir em festas ploc. Queremos novos ares, novas farras, as melhores bandas de todos os tempos da última semana. E neste final de semana – se Deus quiser – com sol, vamos assumir os gays que não temos dentro de nós na orla, vamos mostrar a decendência nordestina que escondíamos pra chacoalhar o esqueleto de graça no Arpoador... Divirtam-se!

No cinema, alguns chutes: "Quanto vale ou é por quilo", "Brown Bunny", "O segredo de Vera Drake" e "Tentação" (só para ver o bonitão da série "A sete palmos" – eu não presto!).

Nos palcos, pernadas: estréia no Teatro João Caetano, o novo espetáculo de Deborah Colker, "Nó". O tema dessa vez é o mais interessante possível: o desejo. De 5ª a domingo, R$ 15,00. Bom, né?

Sexta-feira, 03 de junho
• Loja PLANO B: (R. Francisco esquina com Riachuelo, Lapa - tel.: 3852-1431) apresenta djs de dub, raggajungle, breaks, drum'n'bass, hardcore, lançamento do videoclip "ambulante" e projeções CAVIDEO nesta sexta, 03/06 às 19:00h. Grátis.

Sábado, 04 de junho
•Pedro Luís e a Parede: Teatro Odisséia R$ 30,00
•Na Praça 11, em frente ao metrô, os shows de Nelson e os Gonçalves, Os Lammas, Don Negrone, Dj Gutz e outras atrações marcam a inauguração do picadeiro da ONG Pequeno Tigre como um espaço aberto para a arte independente pela Roda da Solidariedade, movimento formado por artistas e instituições atuantes na área sociocultural.

Domingo, 05 de junho
•Das 14:00h às 22:00h, o Espaço Marum (R. do Catete, 124) apresenta o Manifesto New School (www.manifestonewschool.kit.net) moda, música e arte via bazar, bandas, exposições, DJ, além de concurso de looks conceituais. Tema desta primeira edição: Dia dos Namorados.
•RIO MARACATU: Praia do Arpoador, 15:00h. Grátis.

Sexta-feira, 10 de junho
MONOBLOCO e ELETROSAMBA na Fundição Progresso. R$ 40,00 (inteira), mas praticamente boa fatia da torcida do Flamengo tem direito a meia entrada. Veja no site: www.fundicao.org/programacao/programacao.html

Sábado, 11 de junho
•Skol Beats/ Chemical Music Festival: no Rio Centro (até amanhã) R$ 40,00, (até o dia da festa) R$ 50, (na hora) R$ 70,00. Estudantes e idosos cadastrados terão direito a desconto. (www.chemicalmusic.com.br)