sexta-feira, 31 de março de 2006

O Rio "na fita"

Sempre ficava enciumada quando artistas cariocas escolhiam outras cidades para gravar seus dvds ou cds ao vivo. Ficava me perguntando, se os artistas estrangeiros vêm à cidade e a elegem como a mais bonita do mundo e seu público como o mais caloroso de todos, por que justamente os artistas locais vão gravar em outras praças?

A ciumeira bateu mais forte com o "Instinto coletivo", dO Rappa, e com o "MTV apresenta Seu Jorge", gravados, respectivamente em Porto Alegre e São Paulo. E nem adianta dizerem que “tantos outros já gravaram aqui”, ou que “o show do primeiro DVD dO Rappa é no Olimpo”, que “a Madonna adorou o Rio”, que “os Chili Peppers amam tocar aqui”, que “os Stones fazem show ‘de graça’ pra gente”, que “o Bono disse que o sonho dele era tocar no Maraca”, que o Jamiroquai e o Light House Family usam imagens da nossa cidade em seus clipes... NÃO ADIANTA!!! Somos (os cariocas) mimados e esses espinhos ficaram entalados em nossas gargantas.

Pois bem, parece que eu não fui a única enciumada. Prova disso é que o Barão Vermelho não negou suas origens e fez seu DVD com duas noites de Circo Voador. Ontem foi a vez de Fernanda Abreu, no Teatro Carlos Gomes; e, na próxima terça, Cidade Negra faz seu show-tipo-exportação na Fundição Progresso.

Esses são artistas que honram suas origens – a gema!
Eu também quero meu crachá! Sou carioca, pô!!!

DROPS
• Até terça-feira, das 09h às 18h, no Senac da rua Marquês de Abrantes, 99 (Flamengo), acontecem workshops, oficinas e exposição dos melhores projetos de design dos estudantes de 11 instituições de ensino. É a feira RIO FAZ DESIGN. Grátis.

• Segunda-feira, às 19:30h, a Livraria DaConde homenageia o escritor francês Honoré Balzac, com leitura de contos e textos. Grátis.

• Vai só até o dia 21 de abril, a Feira Internacional de Linguagem Eletrônica – FILE, no Centro Cultural Telemar!!! Grátis.

• Além do novo cd de Chico Buarque, que deve chegar às lojas em abril, uma outra novidade promete causar furdunço nos ouvidos cariocas – Sábado é o novo disco de Bena Lobo (filho de Edu Lobo). A bolachinha trará músicas suas em parceria com Seu Jorge, Pedro Luís e Lenine. Na banda que o acompanha, virão Arthur Maia e João Vianna. Ulalá!

• Às terças, a Modern Sound abrirá suas portas para pocket shows com os lançamentos da gravadora Deckdiscos. Enquanto isso, a Saraiva da rua do Ouvidor abre espaço para os lançamentos da gravadora Delira Música, às sextas, às 12:30h. TUDO DE GRAÇA!

PROGRAMAÇÃO

SEXTA, 31/03
Banda de Pífanos de Caruaru. Xote, ciranda, baião, samba e pífanos, claro!. Bar do Tom (R. Adalberto Ferreira 32, Leblon). R$ 20

SÁBADO, 01/04
Feira Rio Antigo. Antiquários, decoração, acessórios e boa música. Lavradio. Grátis.

TERÇA, 04/04
•CIDADE NEGRA grava seu dvd convidados especiais Lulu Santos e Paralamas do Sucesso.
Fundição Progresso. R$ 35
•Namadera. Banda do consagrado baterista Wilson das Neves. Estrela da Lapa. R$ 15

QUARTA, 05/04
•Gente Fina & outras coisas. No repertório da banda, Moacir Santos, Pixinguinha, Noel e Chico Buarque. Modern Sound. Grátis.

QUINTA, 06/04
•LOS DJANGOS e outros. Festival Geringonça – Amostra Grátis. Sesc Tijuca às 17:30h. Grátis.

Sexta e sábado, 07 e 08/04
•O RAPPA. Show acústico registrado em dvd. Fundição Progresso. R$ 35
•Jack Johnson. Músico havaiano, toca sua surf music de estilo casual e semi-acústico pra molecada. Apoteose. R$ 100

DOMINGO, 09/04
Mercado Mistureba. As bandas Binário e Moptop, que abriu o último show do Oasis no Brasil, serão as atrações musicais da feira. Vale conferir. Teatro Odisséia. R$ 3 ou um Kilo de ñ-perê.

CINEMA – ESTRÉIAS
•"Crianças invisíveis": falei nesse filme na semana passada, na matéria sobre o Spike Lee, lembram? Então, além dele e da Kátia Lund (BR), Riddley Scott, John Woo e mais 3 diretores de diferentes nacionalidades mostram as mazelas da criançada em seus respectivos países.
•"As férias da minha vida": A história eu nem sei se é boa, mas o elenco promete – LL-“I’m gonna knock you out”- Cool J., Queen Latifah e Gerard Depardieu... Humm!!!!

EXPOSIÇÕES
•CARLOS CONTENTE. Desenhos, pinturas, esculturas... A Gentil Carioca(R. Gonçalves Ledo, 17, Centro). Grátis.
•17º SALÃO CARIOCA DE HUMOR. Centro Cultural dos Correios e Casa de Cultura Laura Alvim. Das 12h às 19hDas 12h às 21h. Grátis.
•A CARA DO RIO 2006. Centro Cultural dos Correios. Das 12h às 19h. Grátis.
•VISÕES DUB.2. Arte, fotos, vídeo, design em ritmo de Dub.Espaço Repercussivo (Av. Gastão Senges 185, Barra da Tijuca). Das 12h às 19h(Seg. a sex.). Grátis.

quinta-feira, 30 de março de 2006

Carangueijos invadem a Lapa

Aqui no Rio, muita banda boa pendurou as chuteiras porque o glamour da cidade-grande-capital-cultural-alto-falante-da-mídia-nacional cruelmente impõe aos corajosos artistas estreantes a obrigação de estourar e vender milhões e milhões de cópias. A responsabilidade acaba pesando demais e se os caras não têm a marra do D2, a ginga do Falcão ou a persistência de um BNegão, acabam largando o osso mesmo.

Por sorte, há muitos artistas bons correndo por fora, vindos de lugares considerados "menores". Lugares menos ofuscados pelas luzes dos tais holofotes. Lugares onde a pressão é menor e o ar é mais despreocupado. Daí, surge a pergunta: "por que no rio tem pato comendo lama?" Porque o pato do rio não é bobo e sabe que a lama ali é rica pra chuchu.

E "pato carioca" come a lama do mangue pernambucano pra ficar feliz. Prova disso foram os recentes shows das bandas Eddie e Mundo Livre S.A., respectivamente no Teatro Odisséia e Circo Voador, num intervalo de uma semana entre os dois.

"Animação" foi a palavra da noite no show de lançamento do álbum "Metropolitano", da banda Eddie. O Teatro Odisséia encheu para receber o quinteto de Olinda, liderado por Fabio Trummer (também apresentador de um programa sobre a cena musical pernambucana na TV local).

Mesclando as músicas novas com as dos cds anteriores "Sonic Mambo" e "Original Olinda Style", os olindenses colocaram todo mundo pra dançar com o "gafieira style" característico da banda. Explico: um misto de samba canção, frevo e reggae, com toques latinos. Irresistível.

Recuperado do machucado no olho esquerdo, provocado pelo cão de estimação, que o obrigou a usar um tapa olho no show de abertura pra Seu Jorge na festa "Enquanto isso na sala de justiça", no pré-carnaval de Olinda, Trummer e seu jeito desengonçado de dançar cativaram o público que agitou bastante e acompanhou todas as músicas dos trabalhos anteriores.

As músicas do disco novo – destaque para a faixa que dá nome ao disco, "Vida Boa", "Lealdade", "Maranguape" e "Fuleragem", instantaneamente absorvidas pelos presentes – soam exatamente como as já conhecidas do público: melancólicas, mas espirituosas. Dançantes, mas inteligentes. O que assegurou o bom andamento do show, que também contou com as citações a "Eu bebo sim", de Luis Antônio e João do Violão (incidental em "O Amargo"), "Cristina", de Carlos Imperial e Tim Maia – erradamente creditada à banda Picassos Falsos –, e "Retrato de um forró", do imortal Gonzagão.

Quem está lendo e lamentando por não ter ido, agora já sabe o que está perdendo. Eddie deixou saudades...

Eddie é Fábio Trummer (Voz e Guitarra), os gêmeos Kiko Meira (Bateria) e Rob Meira (Baixo), Alexandre Ureia (Voz e Percussão) e André Oliveira (trompete, teclados e sample).

Resenha publicada no site 021.

terça-feira, 28 de março de 2006

Tecendo asas

“Meu fá, minha fã
A massa e a maçã
Minha diva, meu divã
Minha manha, meu amanhã
Meu lá, minha lã
Minha paga, minha pagã
Meu velar, minha avelã
Amor em Roma, aroma de romã
O sal e o são
O que é certo, o que é sertão
Meu Tao, e meu tão...
Nau de Nassau, minha nação”

(“Meu amanhã – Intuindo o til”, Lenine)

É delicioso observar uma pessoa que se expressa bem. Falar bem é uma arte. Não me refiro apenas à dicção ou à voz. Aliás, como sempre, a forma nem é tão importante se o conteúdo for interessante. O mesmo se aplica à letra e ao texto, mesmo hoje em tempos de teclado e monitor. É a articulação entre a idéia e as palavras que me encanta.

Admito que tem sido cada vez mais raro encontrar pessoas capazes disto, mas adoro parar para ouvir quem tem algo a dizer. E há aqueles que, mesmo sem ter nada a declarar, são tão convincentes que fazem o nada parecer relevante.

Desde que comecei a me interessar por literatura, percebi que os maiores autores escolhiam as palavras que melhor combinavam com o tema da história a ser contada. Se o texto relatasse a morte de alguém, palavras fúnebres já ambientavam o leitor para o desfecho que a cada linha se aproximava. Prosas de amor eram recheadas de “palavras cor de rosa”. Rubem Fonseca, por exemplo, me ensinou a escrever vários termos que via os delegados nas séries de TV usando.

O mesmo acontece com algumas pessoas à nossa volta. Podem reparar. Há pessoas que abrem a boca e, em poucos minutos, se desnudam. Nas primeiras frases, pelas palavras que escolhem, já denunciam se estão felizes ou infelizes. Doentes ou bem dispostas. Amando ou solitárias.

Mas há uma outra categoria de gente. Aquela que usa e abusa das palavras. Que ousa imprimir felicidade a uma palavra habitualmente triste. Vivifica seres inanimados. Sombreia até as lâmpadas mais incandescentes. São os poetas. Eles têm o poder de transformar o denotativo em conotativo e confundir os que dão os primeiros passos numa língua desconhecida.

Há poucos dias suei a camisa. Tentava convencer alunos, em seus primeiros passos na língua inglesa e com dicionários em punho, de que a tradução que dei para as palavras da música disposta no quadro negro, apesar de um pouco diferente da definição do dicionário, faria mais sentido se ainda houvesse aulas de literatura nas escolas. Não pareceram muito convencidos com a explicação de que o sentido literal é o apresentado nos glossários e que o bom poema brinca com as palavras, exatamente como Zeca Baleiro havia feito na música em questão, o “Samba do Approach”.

Citei vários exemplos que pude sacar na hora para mostrar a eles como os poetas se utilizam das palavras e das imagens para criar novas idéias e dar novas formas a velhas definições. A pedra no meio do caminho de Drummond, o amor “eterno enquanto dure” de Vinícius, o erro que tem vez para Leminski, a estrela cadente que se joga de Gilberto Gil e o “vigia” que cata a poesia entornada no chão ou o paletó que enlaça o vestido, de Chico Buarque. Alguns foram compreendidos. Outros, não.

Fiquei bastante preocupada. Estará surgindo uma geração de órfãos de poemas? E pior, de poesia? Se a literatura é uma janela aberta para sonhar e ampliar nossa visão de mundo, a poesia nos dá as asas para voar para fora dessa janela. Se esses meninos não sabem sonhar, esses meninos não podem voar! Que futuro árido nos aguarda...

A ilustração que melhora esta coluna é de Wilson Domingues. Thanx, Wilbor!

sexta-feira, 24 de março de 2006

Um plano perfeito para o final de semana

Admito. Não foi com as primeiras versões de A Escrava Isaura nem de Sinhá Moça que comecei a pensar e me irritar com a condição dos negros no Brasil. Foi com os filmes do Spike Lee. Devia ter uns 14 anos quando vi Faça a coisa certa pela primeira vez. Aprendi que preconceitos raciais existem não só contra negros e não só no Brasil. Depois disso, quase todos os filmes dele que entraram no grande (e médio) circuito eu fui conferir. Sim, a questão racial está presente em grande parte dos trabalhos desse diretor que quando não torce pelo time de Cuba, torce pelo Brasil nos panamericanos, mas a maneira de mostrá-los nunca é a mesma. E nunca é tão ranzinza que não consiga arrancar umas boas risadas no de(s)correr do tanto de informação que é socada para dentro do cérebro daqueles que se dispõem a assistir seus filmes com a atenção merecida.

No ano passado, foi representado no Festival BR de Cinema pelo filme Crianças invisíveis, no qual 7 diretores de diferentes nacionalidades (entre eles a brasileira Katia Lund) foram incumbidos de mostrar um pouco da realidade das crianças de rua de seus países.

Hoje entra em cartaz mais um filme de Lee, O plano perfeito. E, a exemplo de seus Malcolm X e Mais e melhores blues, o melhor ator negro americano interpreta o papel principal. Tem como perder um filme de Spike Lee, estrelado por Denzel Washington, que ainda por cima rivaliza com o malvado Clive Owen? É demais para meu pobre coração! Pena ter de encarar a louraça Jodie Foster... Mas pensando bem, além de boa atriz, os meninos-espectadores também merecem um colírio!

OBA OBA
Mostra de teatro estudantil no CCBB. Sábado e domingo, às 19h, até 26 de março. GRÁTIS.
http://www.bb.com.br/appbb/portal/bb/ctr/rj/index.jsp

PROGRAMAÇÃO
Sexta, 24/03
•O bloco do Boi Tatá anima a rua do Mercado, próxima à Praça XV, a partir das 20h. Grátis.
•MUNDO LIVRE S.A.: apresenta o show de seu último cd Bêbado Groove..., Circo Voador . R$ 30
•A FILIAL: festa Ronca Ronca + hip hop ao vivo . Teatro Odisséia . R$ 20.

Sábado , 25/03
Jamiroquai: Claro Hall, R$ 120 (ui!) MUITO CARO E MUITO LONGE.

Segunda, 27/04
•FORA DA ORDEM: show de protesto contra a Ordem dos Músicos do Brasil, sob os Arcos da Lapa, com Lenine, Barão, Jards Macalé, Claudio Zoli, Zelia Duncan, etc. A partir das 16h. Grátis.

Sexta e sábado, 30 e 31/03
•FERNANDA ABREU: grava seu dvd no Teatro Carlos Gomes. R$ 20

Terça, 04/04
•CIDADE NEGRA: e seus convidados especiais Lulu Santos e Paralamas do Sucesso. Fundição Progresso. R$ 35

Sexta e sábado, 07 e 08/04
•O RAPPA: apresenta, na Fundição Progresso, o show acústico registrado em dvd. R$ 35

EXPOSIÇÕES

•CARLOS CONTENTE: desenhos, pinturas, esculturas... A Gentil Carioca (R. Gonçalves Ledo, 17, Centro). Grátis.
•17º SALÃO CARIOCA DE HUMOR: Centro Cultural dos Correios . Das 12h às 19h. Casa de Cultura Laura Alvim. Das 12h às 21h. Grátis.
•FOTO 2005 – PRÊMIO HERCULE FLORENCE: Casa França Brasil. Das 12h às 20h. Grátis.
•A CARA DO RIO 2006: Cultural dos Correios. Das 12h às 19h. Grátis.

MOSTRA DE FILMES E DOCUMENTÁRIOS
•É TUDO VERDADE: http://www.itsalltrue.com.br/2006/index_2006.html Confiram! A programação é extensa e eclética.

sexta-feira, 17 de março de 2006

Curta e Grossa

Sabem aqueles dias em que a gente acorda sem vontade?
Sem vontade de nada, de falar, de não falar, de trabalhar, de ficar em casa dormindo, de sorrir, de chorar, de se mexer, de ficar parada...
Então, hoje é o dia.

Mas preciso contar uma coisa. Chegou a vez da Praça XV “sofrer” o mesmo processo de revitalização pelo qual a Lapa vem passando nos últimos anos. Bom pro Rio! Bom pros cariocas! E quem vem puxando o bloco da ressurreição é o CIRCUITO CULTURAL MERCADO DO PEIXE e a Cooperativa de Artistas Anônimos. Por enquanto, a programação GRATUITA está focada em teatro, festas populares, festival gastronômico, seminários sobre cultura, oficinas e rodas de samba e choro. Quem quiser saber mais deve acessar o site: www.teatrodoanonimo.com.br.

Outra coisa: quem vai assistir aos shows do Eddie e do Mundo Livre pode ir aquecendo as turbinas no site http://www.aponte.com.br/video/1de-andada.html Lá estão ótimos e curtos vídeos de todas as figurinhas do movimento mangue-beat mostrando seus points preferidos e seus habitats naturais. Imperdível!

É isso! Até os shows!

PROGRAMAÇÃO
Sexta, 17/06
MULHERES DE HOLLANDA: vocais femininos cantam as mulheres de Chico. Sala Baden Powell, 19h. R$ 10
EDDIE: os pernambucanos lançam o novo disco Metropolitano, Teatro Odisséia, 22h. R$ 20.

Sábado, 18/03
SANTANA: Praça da Apoteose, R$ 120
LIMUSINE NEGRA: Excelente banda gaúcha de soul e suingue. Estrela da Lapa, 22h. R$ 20.

Domingo, 19/03
MERCADO MISTUREBA: moda e shows de rock Teatro Odisséia das 15h às 23h 1 Kg de alimento não perecível ou R$ 3

Terça, 21/03
FILE RIO: Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, C.C. Telemar, até 21/04. Grátis.

Quarta, 22/03
F.U.R.T.O.: Yuka + banda recebem convidados como Elza Soares e Pedro Luís, E.C. Sérgio Porto. R$ 15
LUIS MELODIA: clássicos do negro gato. Teatro Rival, 19:30h. Quinta também! R$ 20.
BLACK ALIEN: ex-Planet Hemp mata as saudades do seu único disco Babylon by Gus... , Teatro Odisséia, 22h. R$ 15.

Sexta, 24/03
MUNDO LIVRE S.A.: pais do mangue-beat apresentam o show de seu último cd Bêbado Groove..., Circo Voador. R$ 30
A FILIAL: festa Ronca Ronca + hip hop ao vivo. Teatro Odisséia. R$ 20.

Sábado, 25/03
JAMIROQUAI: Claro Hall, R$ 120

CINEMA (pré e) estréias
"O plano perfeito" – dirigido por SPIKE LEE, com (suspiros) Denzel Washington, Clive Owen e Jodie Foster.
"O mercador de Veneza" – Shakespeare! (ING)
"Sal de prata" e "Gatão de meia idade" – são nacionais.
"O veneno da madrugada" – de Ruy Guerra... (Arg/Bra/Por)

FUTURO DISTANTE
Em outubro, chega ao Rio o Supersurf 2006 . Evento que conta com as etapas do Campeonato Brasileiro de Surf, e a constelação de estrelas do mar a qual já estamos acostumados, show de rock à noite e apresentações de skate. Nação Zumbi já está na fita dos primeiros shows. Vamos torcer para que a banda seja a atração da etapa carioca que vai rolar na Barra da Tijuca...

VEM AÍ, EM ABRIL, DISCO NOVO DE CHICO BUARQUE!!!!!!!

quinta-feira, 16 de março de 2006

Coisa de criança

“Na história dos rios nunca acontecera um tal caso, estar passando a água em seu eterno passar e de repente não passa mais, como torneira que bruscamente tivesse sido fechada, por exemplo, alguém está a lavar as mãos numa bacia, retira a válvula do fundo, fechou a torneira, a água escoa-se, desce, desaparece, o que ainda ficou na concha esmaltada em pouco tempo se evaporará. Explicando por palavras mais próprias, a água do Irati retirou-se como onda que da praia reflui e se afasta, o leito do rio ficou à vista, pedras, lodo, limos, peixes que saltando boquejam e morrem, o súbito silêncio.”

("A jangada de pedra", José Saramago)


Desde pequena, sempre quis saber como seria o chão no fundo do mar. Sempre perguntei, mas ninguém nunca me deu uma explicação convincente. Precisava ver com meus próprios olhos. Então, um dia passeando resolvi mergulhar. Venci o medo do mar. Escolhi um lugar tranqüilo, de águas quentes e claras. Calcei pé de pato, coloquei o equipamento básico e fui.

Parecia um cinema!!! Tão lindos os peixes, a vegetação submarina, as conchas e estrelas do mar, os cavalos marinhos... que nem reparei o chão. Esqueci de olhar! De volta à selva de pedra é que me dei conta. Prometi que voltaria para matar essa curiosidade. Nunca mais voltei.

Nas últimas férias, soube de um lugar onde o mar descansa pela manhã. Tira as primeiras horas de folga. Deve ter estado a namorar a lua até mais tarde e sente muito sono de manhã... Simplesmente, se retira. Quando ouvi falar disso, pensei imediatamente: “– É a minha chance!”

Fui lá ver! Fiquei encantada. Olhando para o horizonte, por cima daquela ausência, os barcos distantes pareciam navegar sobre a areia que, sem a malha ora verde ora azul que cobre a maior parte do planeta, apresenta milhares de pegadas. Foi aí que descobri porque dizem que o mar anda. Ela anda mesmo e deixa a marca de seus muitos pés na superfície. Pra onde será que ele vai? Isso eu não sei, só sei que sempre volta. E naquele dia, ele voltou num piscar de olhos. Na subida da maré.

Quando somos crianças achamos que nossos pais podem explicar tudo. Tive sorte. Quando meus pais não podiam, sempre tinha os irmãos mais velhos para responder. Até hoje, quando me pego soltando suspiros para tentar colocar para fora as angústias e dúvidas que às vezes apertam meu peito e a boca do estômago, tenho vontade de ligar e fazer muitas perguntas. Mas as histórias são tão longas... Complicadas... A conta de telefone é tão cara... E a resposta pode ser tão diferente do que eu gostaria de ouvir... Quem sabe nas próximas férias eu não descubro o que ainda falta?

Trilha sonora sugerida:
• "Miragem do Porto", Lenine.

A foto que melhora esta coluna é minha mesmo, tirada durante o carnaval de 2006 em Mangue Seco, PE, e mostra o recuo do mar. Thanx, God!

sexta-feira, 3 de março de 2006

A rosa amarela

“Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios milênios no ar”

(“Futuros Amantes”, Chico Buarque)

Para Gercina e Carlos Brandão






Ela era uma estudante interna do convento de Santo Antônio. Ele não era mais que um rapaz. Mas nas horas vagas do convento, ele já enxergava nela a musa, a inspiração para os frevos que sua gente cantaria e espalharia pelo mundo afora.

O tempo passou. Cresceram. Casaram. Ela com o pai de seus muitos filhos. Ele com a mãe dos seus. Mas a vida nunca apagou a chama do amor juvenil que embalou tantas tardes ensolaradas na pequena praça de Igaraçu. Um dia, perceberam que a chama estava mais forte do que nunca. Renderam-se. Não havia mais porque lutar.

A rosa, marcada pelo tempo, deu-se conta de que a vida já aprontara o bastante. E decidiu que só valia ser vivida com uma mão amiga para apoiar, nas horas incertas, e afagar, nas de agonia. Virou o jogo. Sabida, agora amarelada, a bela flor desabrochou do feitiço que a vida lhe impôs e viu que a dor era inevitável, mas que a felicidade podia ser a companheira num caminho tortuoso, desde que convidada.

Viveram uma bela história de amor. Um amor maduro, sábio e valente. Um amor que nunca se preocupou com o que os outros iriam pensar. Um amor que sabia que pra viver só precisava dos dois e de mais ninguém.

O poeta se foi. Ela ficou. Com as lembranças do amor que teve tempo de ser vivido e a certeza de tê-lo encontrado de fato.



"Rosa Amarela"

Encontrei uma rosa amarela
Tão singela e formosa
Guardei-a comigo
Porque lembrava você,
Menina rosa

Mas o tempo passou tão depressa
E a linda promessa você esqueceu
E a rosa já envelhecida
Esmorecida, entristeceu

Você foi a rosa mais linda
Foi a preferida do meu jardim
Esse jardim que um dia
Cheio de esperança
E alegrias sem fim

Por isso eu guardo comigo
A rosa amarela
E sabes por quê
Ela é flor tão singela
É pura, é bela
E lembra você.

(Frevo canção composto por Pedro Costa há muitos anos e cantado até hoje nos carnavais de Recife.)


Agradecimentos:
• Maria das Dores e Carlos Brandão (saudade!) – filhos da rosa.
A linda ilustração que melhora esta coluna é de Wagner Paula. Thank you, man!