domingo, 18 de março de 2007

O medo e o caminho


"O medo é medonho, o medo dominaO medo é a medida da indecisão" ("Miedo", LENINE)


Na ânsia de fazer o primeiro gol com a camisa do novo time, o rapaz mal recebera a bola e saiu correndo alucinado sem olhar para os lados, nem para os companheiros de equipe que livres esperavam o passe, ou mesmo para os jogadores do time adversário. Seus olhos enxergavam apenas a si mesmo fazendo a volta de comemoração pelo gramado, saudando a torcida, vibrando para a câmera da TV. Seus ouvidos só queriam escutar a massa gritando seu nome. Danou-se a correr, sem muita elegância. Até que chegou o momento de encarar o goleiro. Sentiu um frio na barriga. Nos milésimos de segundo que sucederam, foi tomado pelo pânico de conseguir o que tanto queria. Seus músculos congelaram, suas pernas endureceram. Cara a cara com o goleiro – que, cego de medo de tomar um gol, deixara para trás o gol livre, – errou o chute... Aquele até eu faria!!!

Do gramado para a vida, perdemos vários gols todos os dias. Gols de placa ou de barriga, tanto faz. Perdemos. E pior, muitas vezes até nos furtamos de jogar para não admitir a possibilidade de perder o jogo ou errar o chute. O que é pior?

O pior não é perder o gol. O pior é perder a jogada. Quantas vezes vemos dribles tão alucinantes, passes tão perfeitos que ficam na memória mais tempo do que um gol bobo? Quantas vezes, para realizar uma simples tarefa, encontramos no meio do caminho pessoas tão incríveis ou vemos gestos tão singelos que nos fazem esquecer o que era mesmo que íamos fazer?

Momentos como esses são sagrados. Representam tanto e quase nem reparamos neles. Acontecem a todo instante, mas só percebemos se conseguimos nos manter atentos. Se conseguimos nos manter presentes no presente. São momentos em que nos desligamos do passado e esquecemos do futuro. Em que conseguimos olhar para o agora. Em que não permitimos que nossa mente nos leve embora em devaneios quase sempre desnecessários. E que, geralmente, não nos levam a lugar nenhum.

Ter objetivos é necessário. Mas prestar atenção nos caminhos que traçamos para atingi-los é o que faz da jornada uma boa história para contar. Por isso, cada passo é importante e deve ser bem dado, o que não é nada fácil. A todo instante nos desviamos e o passado insiste em bater à nossa porta. Ou a perspectiva do que vai ou não acontecer nos traz a sensação de medo que nos paralisa. E o medo domina, toma conta, interrompe o caminho, nos faz perder tempo demais com algo que está absolutamente fora do nosso controle: o amanhã.

O medo é tão forte que nos impede de caminhar. Deixamos de ver e de viver lindos momentos, causamos sofrimento a nós mesmos e aos outros por conta dele. Pulamos para fora do barco, roemos a corda, amarelamos... por pura falta de atenção no presente, nos presentes que ganhamos do agora.

Quantos gols você fez hoje? Não importa. Mas e as belas jogadas? Nenhuma? Ainda há tempo. O juiz nos concedeu mais alguns minutinhos...

Este texto é dedicado a Paulo Costa.