domingo, 29 de março de 2009

Boas novas: balas dum-dum

O controle remoto, essa maravilha, estimula a preguiça física dos que fogem da preguiça mental. Como é saudável exercer o supremo poder de mudar de canal! O âncora almofadinha fala algo que me desagrada e, sem piedade, clico nele! A moça do cabelão anuncia alguma notícia absolutamente dispensável e, o que diabos eu tenho a ver com isso, clico nela também!

Clicando aqui e acolá se descobrem maravilhas, pasmem, na tv aberta. Aliás, já é a segunda crônica que escrevo a respeito dessas primorosas descobertas. Isso é algo significativo (ao menos para mim!). Sinal de que continuo sem dinheiro para assinar uma tv a cabo. De que ainda não oferecem netcat no lugar onde moro. Ou, talvez, de que ando meio sem assunto... Deixo pros leitores avaliarem essa última suposição.

Mas o fato é que, nessas trocas de canais, me deparei com dois programas importados da tv a cabo gringa, o "Troca de famílias" e o "10 anos mais jovem", apresentados, respectivamente, pela Record e pelo SBT. Ambos, que já eram bem interessantes em suas edições originais, ficaram ainda melhores na versão tupiniquim.

O primeiro, como o nome anuncia, promove as mais inusitadas trocas de famílias e provoca reflexões relevantes sobre a família brasileira, a dificuldade de convivência e de aceitação das diferenças. Na versão original, muito da cultura estrangeira parecia bizarra aos olhos nacionais. Contudo, a TV Record tem sido muito feliz nas escolhas dos participantes, muitas vezes surpreendentes e, confesso, sempre emocionantes.

"10 anos mais jovem" é um programa que à primeira vista pode parecer fútil. A ideia é dar uma recauchutada em mulheres que andam pra lá de maltratadas. Mas, por trás da intenção inicial, busca-se o resgate da autoestima feminina que, infelizmente, depende também do fator estético para apoiar o que tantas guerreiras se desdobram para fazer e que se torna invisível se o cabelo não está pintado, se a unha não está feita ou se a roupa não revela curvas que muitas vezes não existem mesmo. Fazer o quê? O mundo é assim, e nós não só o aceitamos como ainda o alimentamos.

Mas, verdade seja dita, a equipe brasileira do programa dá de 10x0 nos gringos. "Nossas" mulheres saem impecáveis e, não raro, rejuvenescem bem mais do que 10 anos, levando as mais duronas guerreiras às lágrimas. Assim como suas famílias, amigos e telespectadores... (Francamente, até eu tenho pensado em me inscrever!!!)

Entretanto, o tempo também corre para frente na tv aberta. E, como num passe de mágica, a caixa de fazer loucos vira uma bola de cristal. É possível antever coisas incríveis em sua tela. Vi imagens interessantíssimas de um microchip que, quando instalado no cérebro de um paciente paralisado e associado a uma malha - que poderia ser um terno, um casaco, uma calça, enfim -, gerará estímulos elétricos que ativarão os movimentos musculares pelo pensamento.

Essa maravilha, que traz esperanças concretas a tantas vítimas de paralisia no mundo inteiro, começou a ser desenvolvida por um brasileiro nos EUA. O programa "Roda Viva", da TV Brasil, apresentou Miguel Nicolelis a milhares de ignorantes que, como eu, desconheciam esse neurocientista que, com o apoio do governo federal, voltou ao Brasil e está criando centros de tecnologia e pesquisa no país.

O primeiro, em Natal, promove a cidadania através da educação e da iniciação científica de crianças consideradas "casos perdidos". Em parceria com o hospital Sírio e Libanês, de São Paulo, o centro já possui um hospital da mulher que futuramente promoverá o projeto de bolsa de estudo para a vida toda, na qual a mãe em tratamento pré-natal fará a inscrição intrauterina do futuro estudante do centro.

O segundo será construído no semiárido baiano, por ser um exemplo de sistema exclusivamente brasileiro onde, segundo o cientista, da bactéria ao ser humano, tudo ali é exemplo de sobrevivência. A intenção é promover a bioeconomia e a sustentabilidade dos diversos ecossistemas brasileiros, além de oferecer condições de vida local excluindo a hipótese de êxodo. Ousado, futurista e genial!

Para finalizar, a grande novidade da semana! Jovens trabalhadores europeus resolveram fazer justiça com as próprias mãos, sequestrando os grandes responsáveis pela “caca” em que se encontra a economia mundial – seus chefes, os executivos. Parece que o filme "Edukators" resolveu saltar das telas e virar realidade.

Contudo, no Brasil, o país onde o buraco é mais embaixo, a revolução é feita de outra forma. O povo está se organizando e criando seus próprios bancos, com direito a empréstimos, poupanças, cartão de crédito e até moedas paralelas muito mais confiáveis e com poder de compra maior do que as oficiais. Foi o que mostrou o programa 3x1, também da TV Brasil.

Um exemplo bem sucedido de banco comunitário é o Banco Palmas, do Ceará, pioneiro no Brasil e capitaneado pelo ex-seminarista Joaquim de Melo Neto. Há 11 anos, o banco vem sendo responsável por uma melhora significativa na qualidade de vida dos moradores do bairro Conjunto Palmeiras, na periferia de Fortaleza.

Juros baixos, honestidade e bom senso são a tônica da relação entre a instituição e os clientes. Tudo o que falta nas instituições financeiras de grande porte. E na trilha do sucesso do Banco Palmas, outros bancos às avessas vão pipocando pelo país nos locais menos prováveis, como na região quilombola de Alcântara (MA) ou em tribos indígenas à beira do Rio Amazonas.

“Senhoras e senhores, trago boas novas...” Divido-as com vocês para mostrar que boa informação na tv existe e entra que nem balas dum-dum na nossa ignorância, na nossa apatia e explodem dentro da cabeça trazendo esperança de um mundo melhor, disparadas por loucos que acham que nada está perdido, apesar das aparências. É verdade, gente! Eu vi isso tudo na tv!!!


Imagem retirada do site: www.hipowersandhandguns.com/.../image006.jpg