segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

“Brasileiro é ladrão”*

Faz pouco tempo, ganhei um atlas ilustrado da América do Sul publicado pela National Geografic. Recheada com fotos convidativas, a publicação rendeu a brilhante idéia de me meter numa aventura pela Guiana Francesa com o intuito de fazer um curso de imersão na língua local. Fui veementemente desencorajada pela minha então professora de francês que me esclareceu serem os brasileiros muito mal vistos por lá. Registrei.

Foi por isso que, com menos surpresa do que tristeza, vi um grupo de parrudos surinameses (vizinhos da tal Guiana) dizerem em frente às câmeras da equipe de reportagem da Band, com toda clareza possível, que brasileiros não são mais bem-vindos por lá. Para não restar qualquer dúvida, dias antes da reportagem, brasileiros foram atacados e expulsos de Albina, cidade daquele país, a golpes de paulada e facão.

Os nativos enfatizaram o interesse desmesurado dos garimpeiros e prostitutas brasileiros como o estopim para a revolta na noite de natal. O homem morto por um garimpeiro brasileiro, após uma discussão em um bar naquela noite, não teria sido o primeiro. Além dele, dias antes, um taxista e um casal, cuja mulher estava grávida, foram outras vítimas da ganância verde e amarela. “Brasileiros resolvem as discussões na bala”, disseram eles.

Entre o grupo de surinameses revoltados em frente às câmeras, o que parecia ser o líder disse não haver restrições à presença de estrangeiros, desde que estes se adaptem aos costumes locais. Esta parece ser a chave da questão.

Todos sabemos que brasileiros estão por toda parte. E todos conhecemos o caráter, digamos, “expansivo” do nosso povo. O que alguns chamam de um povo alegre, para outros é um povo espaçoso. Característica que tem pontos positivos e negativos.

Entre os positivos, o temperamento extrovertido dos nossos representantes no estrangeiro acaba por divulgar e abrir portas para o interesse de outros povos pela nossa cultura e criatividade. Bons exemplos disso são a capoeira, a música, a moda brasileira já bastante apreciadas além-mar.

Entre os negativos, o temperamento extrovertido dos nossos representantes lá fora que querem brincar quando a chapa está quente ou que ainda insistem em dar um “jeitinho” como se cá ainda estivessem. A bendita malandragem tupiniquim, a mania de querer levar vantagem em tudo, que nós brasileiros queremos impor dentro e fora das linhas de fronteira nacional.

Sinto calafrios ao tomar conhecimento de novas levas de iludidos que arrumam as malas e pagam com todas as suas economias pela chance de tentar a vida no exterior. Sinto pena por pensarem que a vida que levarão lá será muito melhor recompensada do que a que levam por aqui. Em raras exceções, isso acontece. Que fique bem claro, na grande maioria das vezes, se dá bem no exterior e ganha muito dinheiro quem já tinha dinheiro aqui.

E pior do que calafrios e pena, sinto vergonha de ver brasileiros bem preparados, que poderiam estar batalhando por um país melhor aqui, aceitarem subempregos no exterior. Sinto vergonha de ver brasileiros presos lá fora, seja por clandestinidade ou má conduta.

Acho feio quando compatriotas que tinham tudo para dar certo por lá, jogam fora a chance e se envolvem em escândalos. É horrível ter a nação representada por mulheres trapaceiras que acham que vão contar uma história de novela e todo mundo vai acreditar. Ou acessar um jornal estrangeiro e ver estampadas histórias de religiosos que querem explorar a fé alheia em outros países.

Para constatar este caráter “espaçoso” do brasileiro, não é preciso viajar para o exterior. Nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro, é fácil notar que a chegada de contingentes absurdos de migrantes que impõem na marra seus diferentes estilos de vida em detrimento do padrão de comportamento local, vem transformando a cidade maravilhosa em uma terra de ninguém, onde cada um faz o que quer.

Encerrei o ano de 2009 lendo as “Confissões” de Darcy Ribeiro. Este estudioso que mergulhou tão fundo nas raízes das nações latino americanas tinha uma fé inabalável no nosso povo. Admiro e concordo com quase tudo que li, mas esta fé não consigo sentir.

Vejo nas três vertentes que ele cita como formadoras de nosso povo – o europeu, o índio e o negro –, respectivamente, os degredados de péssimo caráter; a ingenuidade solícita e pacífica; e a revolta indignada de quem é roubado de sua terra natal. Uma mistura que adicionada à má formação escolar e acadêmica dificilmente poderá render os frutos que o querido antropólogo sonhou.

Recentemente, em um almoço entre amigas, uma delas comentou que a ideia de que dinheiro não traz felicidade é “coisa de pobre”. Mas ao ver os brasileiros resgatados do Suriname, observei que não havia ricos entre eles. Por outro lado, não são pobres os gananciosos políticos que vemos diariamente nas manchetes de jornais atolados até o pescoço de denúncias.

Ao comparar certos (maus) costumes do nosso povo – pobres e ricos – com os representantes escolhidos por ele para as cadeiras do executivo e do legislativo, só nos resta lamentar. A ganância não é só coisa de ricos. Quem dera, amiga. Quem dera!


*A frase que serve de título para esta crônica foi proferida por um surinamês em entrevista à Band em dezembro de 2009.

Trilha sonora sugerida:

.R.E.M., “Stand”.

.Titãs, “Lugar nenhum”

.Paralamas do Sucesso, "Melô do marinheiro"

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A dinâmica da chuva no subúrbio do Rio

20:30 - Cenário após 10 minutos de chuva forte na zona norte da cidade maravilhosa.

(Abaixo, Avenida Lobo Júnior, um dos principais acessos à Avenida Brasil.)









20:40 - Depois de 20 minutos, ruas cheias e sacos de lixo boiando entre os carros.








20:45 - Só os carros de grande porte conseguem passar.








21:20 - A chuva passa, os carros passam, mas o lixo fica espalhado pelas ruas.







A culpa é dos moradores?

Não. A Comlurb orienta os moradores da área a depositarem seus sacos de lixo nas esquinas!!!

A culpa é dos garis?

Não. Às 21:30 os garis passaram catando com as mãos os sacos que boiavam e o lixo espalhado no meio da rua. Fizeram o melhor que podiam.

A culpa é de quem?

Seria exigir uma inteligência sobrenatural que a companhia responsável pela coleta urbana utilizasse estruturas suspensas ou protegidas da chuva para que os moradores pudessem recolher seus lixos?

E agora o que fazer? Esperar sentado a próxima chuva?

Não. Resta a nós suburbanos torcer para que o mesmo aconteça no Jardim Botânico para que a “imprensa” faça um escândalo e o prefeito passe a pressionar a Comlurb em busca de uma solução óbvia. Enquanto isso, evitem perambular nas ruas suburbanas na hora da chuva.

Há outra alternativa?

Sim. Duas.

A 1ª: Não esqueçam dessas imagens, tenham uma consciência crítica e pensem bem na hora de votar nas próximas eleições para prefeito. Chega de mauricinhos!!!

A 2ª: Contratem os caciques da tribo Cobra-Coral e peçam uma consultoria sobre os horários mais apropriados para não sair de casa. Segundo um certo secretário municipal eles mandam na chuva!

Carta aberta à população do estado do Rio de Janeiro

Nós, professores servidores do estado do Rio de Janeiro, escrevemos esta carta aberta à população para mostrar o que realmente envolve a questão da incorporação da gratificação chamada "Nova Escola"*, que vem sendo veiculada na mídia, e a diminuição do nosso plano de carreira.

* Nova Escola foi o esquema criado pelo ex-governador Anthony Garotinho para avaliar o desempenho das escolas, por meio de métodos até hoje ainda não compreendidos pela maioria, e que desnivelou os salários da classe.

A princípio, não foi dito o valor do salário do professor estadual iniciante, que é de apenas R$ 607,26. A população deve imaginar que recebemos alguma ajuda extra, como vale transporte, vale refeição, que qualquer empresa é obrigada a pagar a seu funcionário. Porém, não é isso o que acontece. Não recebemos tais benefícios, apesar de serem direitos de todo o trabalhador, e ainda temos o desconto previdenciário de 11%, recebendo um salário líquido de aproximadamente R$ 540,00.

O Governo veicula comerciais na TV, afirmando ter distribuído laptops para todos os professores. Mas, na verdade, esses laptops foram adquiridos pelo sistema de comodato, ou seja, os equipamentos são emprestados pelo governo que, quando bem entender, pode pedi-los de volta. Além disso, os professores iniciantes não foram agraciados.

Atualmente, observamos a climatização das salas de aula em um esquema em que o Governo aluga os aparelhos, gerando ainda elevado consumo de energia elétrica.

A citada incorporação do Nova Escola se dará até 2015, divida em 7 parcelas. Há casos de professores que receberão em 2010 um aumento de R$ 2,47. Valor que talvez não seja suficiente para pagar uma passagem.

Outro ponto é o grande número de pedidos de exoneração de professores. Estima-se que sejam aproximadamente 30 por dia! Também não há condições de trabalho e isso nos incomoda. Contudo, o que causa maior indignação é a carta compromisso enviada aos nossos lares na qual o mesmo governador empenhou sua palavra e agora se esquece de tudo que prometeu. As promessas foram as seguintes:

Promessa 1- Reposição das perdas dos últimos 10 anos. (Realidade: Reajuste de 4% e mais 8% de uma perda de mais de 70%.)

Promessa 2- Manutenção do atual plano de carreira e inclusão dos professores com carga horária de 40h. (Realidade: Não só manteve o professor de 40h fora do plano, como diminuiu as diferenças entre os diferentes níveis de 12% para 7,5%.)

Promessa 3- Fim da política de gratificação Nova Escola e incorporação do valor da gratificação ao piso salarial. (Realidade: Esqueceu de avisar que seria em 7 anos, sem reposição da inflação e sem equiparação salarial.)

Promessa 4- "A secretaria de Estado de Educação do meu governo terá como titular pessoa com histórico na área de educação e vínculos com o magistério." (Realidade: A atual titular da pasta é da área de computação, burocrata, sem passagem pelo magistério.)

Além de nunca dar voz aos trabalhadores, prática que inclui os professores, a imprensa ainda distorce a situação real. Somos pais e mães de família, que fizeram um curso superior na esperança de um futuro melhor.

Contamos com a compreensão e a colaboração do povo do nosso estado. Você pode não ser professor, seu filho e sua família podem não precisar da escola pública, mas nossa sociedade só vai melhorar com Educação Pública de qualidade.

Vista a camisa da Educação. Faça a sua parte para promover uma verdadeira mudança na história da Educação no estado do Rio de Janeiro. Precisamos consertar a verdadeira realidade do magistério estadual. E, nas próximas eleições, pense em tudo isso antes de votar.

Vamos mostrar a nossa força!!!

Agradecemos imensamente a atenção,

Professores do Estado do Rio de Janeiro

sábado, 2 de janeiro de 2010

Pesadelo na ilha dos sonhos

O vírus da estrada se instalou em meu sangue desde pequena. Lembro bem de ainda estar usando fraldas quando fiz minha primeira viagem. A família toda, malas, sacos de viagem, lanches e muitas horas de ônibus até o Rio Grande do Sul. Depois desta, muitas se sucederam.

No início da década de 80, a família toda apertada num Opalão caramelo descia as curvas da Rio-Santos, rumo a Angra dos Reis. Minha tia que morava conosco se casara e se mudara para o paraíso tropical. Na primeira viagem, ao chegar à cidade e ver a placa de um dos primeiros resorts a se instalar ali, perguntei ao motorista ingênua: “– Pai, estamos em Portugal?”. A gargalhada foi geral.

Passei muitos verões com ela. De início, dependia de alguém para me levar e buscar. Nos últimos, já na universidade, ia e voltava só. Meus primeiros passos para a independência. Muitas foram as vezes em que precisei retardar meu regresso devido a quedas de barreiras na estrada. Em várias destas temporadas em Angra, pude contar nos dedos os dias de sol. Ia mesmo pela companhia, pois sabia que a probabilidade maior seria ficar presa dentro de casa.

Abaixo, trilha em Ilha Grande em 2008.

Um dia, descobri Ilha Grande. Estranho ter estado tão perto durante toda a infância e nunca ter ido até lá. Foi uma paixão fulminante. O primeiro mergulho. A água morna do mar. Nem um dia de chuva. A melancolia no regresso. Sonhei com a Ilha muitas vezes e acordava feliz em todas elas. Apesar disso, levei seis anos para me dar de presente outra temporada por lá em 2008. Mas algo havia mudado. Não sei se em mim ou na Ilha.

No álbum que montei na Internet, me refiro a ela como “melhor lugar do mundo”. O sol continuava lá me acompanhando todos os dias e bronzeando as lembranças molhadas da infância em terra firme. Mas o excesso de turistas dava um ar confuso à Ilha. O mar revolto me assustou algumas vezes, deixou a água turva para o mergulho e quase virou o barco na volta do passeio a Lopes Mendes. Apesar disso, voltei com a sensação de que o presente valeu.

Sempre sinto medo nas viradas de ano. Um medo contido e escondido. Vou dormir após a ceia e os fogos com medo das notícias do dia primeiro. Entra ano e sai ano, a sensação é de que há sempre uma tragédia à espreita. Tenho medo também do que o futuro reserva. Mas procuro adiar a hora de dormir ou me confortar com a esperança de que nada ruim acontecerá.

Na primeira noite de 2010, a Ilha voltou aos meus sonhos. Mas acordei triste no meio da madrugada. Sonhei com uma avalanche me empurrando para dentro do mar. Fruto das imagens vistas nos noticiários. Que pena o “melhor lugar do mundo” ter sido o cenário para tão tristes notícias. Pena ter virado referência de tristeza e dor para tantas famílias. Mesmo assistindo a tudo de longe, vou demorar para lembrar da Ilha como antes.

Que descansem em paz todos aqueles que a água levou em seus braços. Força e fé para os que ficam e precisam continuar.

Acima, Cunha: outra cidade devastada pelas chuvas do ano novo.
Foto de 1º de janeiro de 2004.