domingo, 4 de janeiro de 2015

Diário de bordo de uma dona de casa sem fôlego


      As festas acabaram e as visitas retornam para os seus lares alegres, bronzeadas e rechonchudas. Mas, depois de despedidas e acenos, fica o gosto amargo da primeira faxina do ano novo no que sobrou do que você costumava chamar de "sua casa" e das "surpresinhas" que você vai descobrindo em cada cantinho. Aqui vão algumas dicas do que fazer e não fazer quando o trabalho é muito, mas a disposição já não é mais a mesma dos anos anteriores. Esse é o lado b, o que está por trás, das fotos festivas e felizes que todos veem e curtem no facebook (onde tudo são flores).


      Começo o dia. Minhas visitas cooperaram: antes de partirem, recolheram toda a roupa de cama e colocaram ao lado da máquina de lavar.  Ao separar as peças por cor, uma das surpresas realmente mais inesperadas do dia: duas fronhas se cansaram dessa vida de aparador de cabeças e resolveram reencarnar em pano de chão. Mas nada de tristeza, por sorte havia comprado, semanas antes do natal, fronhas lisas por R$ 2,99 numa banca na Rua dos Romeiros (o seguro morreu de velho). Pelo estado em que as encontrei entre o restante das roupas de cama, concluo que, no mínimo, os sonhos devem ter sido animados! Rs

      Hora de chamar os amigos. Aqueles que são pau para toda faxina. Sem os quais, não sei como seria a vida. Que não cobram nada além da conta de luz e de mercado no começo de cada mês. Conta de luz, aliás, que espero que neste mês venha acompanhada de um pote de vaselina porque vai ser doída...

 



      Roupas de cama (ao menos, as que sobraram inteiras) na máquina. Decido fazer um remix nos programas de lavagem e escolho um número cabalístico para a quantidade de vezes que vou bater a roupa. Escolho o 7 pra dar sorte e decido reutilizar a água. Mais tarde, vocês saberão para quê.




      Deixo a máquina trabalhar e resolvo atacar a sala primeiro. Aspirador a postos, descubro que o encardido do estofado não sairá com sucção. Há areia grudada no tecido e por baixo das almofadas.  O trabalho é maior do que imaginava. Deixo todas as almofadas peladinhas. Capas e tapetes entram na fila da máquina de lavar. E o couro come entre aspirador, almofadas e alvenaria. 


       É importante escolher o instrumento certo para cada superfície e limpar bem os aparelhos quando terminar de usar. Assim, o trabalho vai mais rápido.


      E o resultado, voilà!




 
      A máquina terminou a lavagem da roupa de cama que já está secando ao sol “suave” das 11h da manhã. É a vez das capas das almofadas entrarem no banho. Enquanto isso, é hora de pegar no pesado: tirar o pó dos objetos e estantes e jogar a água com sabão que saiu da máquina de lavar no chão da sala já livre. Minha máquina utiliza cerca de 50l de água por muda de roupa. É muita água para desperdiçar até o final do dia. É água suficiente para lavar o chão, os banheiros e até o quintal e economizar água potável. 


      Capas e tapetes estendidos no varal. Máquina limpa com álcool. Hora de colocar a roupa de mesa e panos de prato na máquina. Quando há muitas manchas de resto de comida e gordura, é bom usar detergente de louça na primeira lavagem, sabão em pó e líquido na segunda lavagem e, na terceira, substituir o amaciante por uma tampinha de água sanitária depois que a roupa já estiver submersa em água para evitar manchas. Depois de toda essa operação, não há roupa que não saia limpa. Melhor, sem precisar gastar os bracinhos nem as pontas dos dedos com muita esfregação!



      Nem os arranjos de planta resistiram às festas (ou seriam às feras?) do final de ano. Foi só começar a limpar para descobrir... Saldo final: vários galhos quebrados “sutilmente reposicionados”, mas prontamente substituídos por outros novinhos que estavam mesmo aguardando ansiosos a hora de entrarem em campo. Ainda bem que tinha arranjos para reposição. Agora não tenho mais!


      Sala terminada, perfumada, organizada e limpinha! Ulalá!



      Passemos ao quarto de hóspedes. E duas coisas curiosas me chamaram atenção. A primeira delas: etiquetas pelo chão. Quando, afinal, a indústria têxtil irá fabricar etiquetas que caminhem sozinhas para a lixeira? Bem, enquanto isso ainda não acontece, cabe à dona da casa, sem grana para pagar uma faxineira, encaminhá-las. E aquela mancha de sangue na porta do guarda-roupa? Deus queira que seja de um mosquito esmagado num momento de fúria sonolenta. Seria menos um inseto inoportuno a sobrevoar a Região dos Lagos. Mas e se não for mosquito? Passei um sabãozinho e não se fala mais no assunto.




  Quarto arrumado, limpinho e cheiroso. Hora de partir para a cozinha. Minha mãe, gauchona da fronteira, nos ensinou a chamar aquele paninho que fica na beira da pia de “esfregão” e pano de prato de “guardanapo”. Também nos ensinou que é anti-higiênico deixar a pia suja com restos de comida. E que a esponja acumula bactérias por isso deve ser trocada regularmente. Lição aprendida, missão cumprida. Os “guardanapos” já estavam de banho tomado. O esfregão roto foi pro lixo junto com a esponja despedaçada. Depois, dessas tarefas mais fáceis, foi “só” guardar a louça da ceia, passar o rodo com pano úmido nas paredes, limpar as digitais engorduradas dos portais brancos com água sanitária e jogar água no chão da cozinha e da área de serviço. Pouca coisa... rs











      O dia foi chegando ao fim e o restante da casa ficou para o dia seguinte (lembrem-se o diário é de uma dona de casa SEM FÔLEGO). Mas há uma parte da limpeza que deu muito errado. Explico: quando se recebe muitas crianças, que se divertem muito e vão dormir exaustas, corre-se o risco de um ou mais colchões amanhecerem molhados. E foi o que aconteceu em mais de um dia. Antes de começar a faxina, pesquisei na internet formas de recuperar o colchonete. Encontrei algumas “fórmulas mágicas” e resolvi tentar. 







       Apostei na primeira dupla de produtos – bicarbonato de sódio com detergente. Misturei-os com água e lavei o colchonete premiado que já havia passado 12h no sol, mas continuava com mal cheiro forte. Quando secou, o resultado foi péssimoooo! Até desisti do segundo par de produtos (vinagre branco e álcool). Além do mal cheiro permanecer, o forro estava todo manchado. Admito que perdi. Esse colchonete foi pro lixo...
Não se pode ganhar todas!



 
     Quem acompanha este blog deve estar estranhando o tema desta edição. Mas algumas lições tiradas de um dia de faxina servem de metáforas perfeitas para a vida prática.
      Arrumar sua casa é uma forma concreta de arrumar os pensamentos.
      É por todo esse trabalho que hotéis e pousadas cobram caro pela diária (se vocês não entenderem essa metáfora, talvez não seja uma).
      Por mais que você não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem com você, não se pode esperar que todas as pessoas ajam da mesma maneira. E nem sempre é por mal. Às vezes, é só desatenção.
     Algumas pessoas fazem você pensar que você é chata por ter certas manias. Mas se você está em sua casa, chatos são os que tentam impor outros hábitos e costumes sobre os seus. O mínimo que se deve exigir de quem chega é respeito e adaptação. (Essa é para Joana Simões!)
    Aprenda a dizer "não" quando desconfiar de que não dará conta de alguma tarefa, mesmo que isso vá desagradar alguém. Só você sabe o ônus de se violentar para agradar aos outros.
     E, finalmente, o que vale a pena ser conservado, deve ser recuperado, não importa quanto esforço isso irá demandar (7 lavagens, se necessário). No entanto, há coisas que não adianta limpar, esfregar, perfumar. É podre? Cheira mal? Deixa manchas ou marcas desagradáveis? Lixo deve ser jogado na lixeira, ou contaminará tudo o que estiver à volta. Elimine-o o quanto antes!
      Convido a todos para uma faxina mental, espiritual, profissional, moral ou mesmo doméstica para abrir o novo ano. É cansativo, mas faz um bem...