quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A Dilma pode



     Domingo. Liguei o computador no final da manhã e me deparei com a seguinte manchete: “Distrito Federal e 10 Estados têm protestos a favor do impeachment”. No final da manhã já havia cobertura sobre os protestos em dez estados!  A primeira pergunta que me vem à cabeça, a dengue e o zika vírus merecem cobertura tão competente?
     Durante quase 40 anos, ouvi boatos de pessoas que roubavam na administração pública, em diferentes escalões, que nunca eram investigadas. De diretores de escola que roubam merenda escolar e superfaturam na compra de materiais a funcionários de estatais, empreiteiros, donos de firmas que terceirizam mão-de-obra quase escrava para repartições públicas etc. Em comum, todos enriquecem rápido demais.
     Obviamente, assim como eu, muita gente também deveria ouvir tais histórias recorrentes do dia-a-dia brasileiro. Acredito que alguns, de tanto ouvi-las, acabaram acreditando que também poderiam sacar seu quinhão dessa mamata, certos da impunidade vigente. Se acreditaram e fizeram, devem ter “se arrumado”. Dependendo da esfera pública a qual estão atrelados, ainda devem estar “se dando muito bem”.
     Mas, de uns tempos pra cá, é fato que nunca se apuraram tantas denúncias de corrupção e improbidade. A quantidade de gente presa e de grana de maracutaia devolvida também impressiona.  Até o final de novembro (2015), a operação “Lava Jato” já conseguira recuperar R$2,3 bilhões, com projeção de inéditos R$ 23 bilhões até o final das investigações. Ou seja, ainda tem muito escândalo pela frente. A Polícia Federal também já está botando pra quebrar nas obras de transposição do Rio São Francisco. A operação “Vidas Secas” já encarcerou quatro executivos por superfaturamento.
     À primeira impressão, “a atual administração é uma bandalheira”. “Não existe gente honesta nos altos escalões do serviço público” etc. etc. Aquilo tudo que ouvimos na rua ou na mídia. Mas, superficialidades à parte, bandalheira nós vivíamos quando ouvíamos boatos e nada era feito. Ninguém era preso. Qualquer um metia a mão grande no erário e ficava tudo por isso mesmo.
     Em alguns estados ainda é assim. No Rio de Janeiro, por exemplo, vigas gigantescas somem, salários de milhares de servidores desaparecem e nada é feito. Minas, com seus casos arquivados do aeroporto particular e do avião cheio de cocaína, é outro exemplo. Mas, na esfera federal, o mar de lama que não conseguiu derrubar a Petrobras e já chega ao Rio São Francisco serviu para conferir um pouco mais de credibilidade aos órgãos de investigação brasileiros.
     Vendo tantas prisões de gente de grana (pública), chego a arriscar que muito malandro mal intencionado vai passar a pensar duas vezes antes de se aventurar em licitações junto ao governo federal. Pelo menos, enquanto não derrubarem o governo do PT. Caso contrário, se o impeachment passar, voltará a reinar a bandalheira descarada.
     Por “coincidência”, políticos que em seus currais estaduais conseguiram ter seus casinhos suspeitos arquivados são os grandes incentivadores da campanha pelo golpe. Curiosamente, lideram palavras de ordem pedindo o fim da corrupção. Como se fosse possível extinguir a corrupção sem extinguir a própria raça humana. Aos ingênuos que esperavam votar num partido imune à tentação, vai um aviso, imune só está o partido sem acesso ao poder.
     Na história do mundo, grandes e poucos homens morreram sem mácula em sua reputação. Na história recente do Brasil, é preciso ter peito pra deixar a polícia vasculhar. Não é qualquer presidente que tem a audácia de dizer “quem não deve não teme”. Não votei nas últimas eleições. Não aprecio vários pontos de seu governo, mas verdade seja dita, até agora, a Dilma pode.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Síria carioca

     Vivo numa cidade cercada de cariocas por todos os lados. Desertores. Para onde dirijo meu olhar e atenção, encontro gente que diz: "Não volto nunca mais para lá." Exilados. Refugiados nos lagos. Fugitivos da guerra em que se tornou a cidade grande e maravilhosa.
     Vejo as imagens de sobreviventes africanos chegando de seus naufrágios de terra e de mar em solo europeu. Lembro de um tempo em que também sonhei com terras distantes. E sorrio de minha tolice agora que descobri o sossego a 2h de distância.
     Não sei dos outros, mas eu também sou náufraga em busca de vida nova. Escrevendo novas páginas para o livro que espero um dia ter orgulho de reler. Fugindo da cidade natal submersa no caos, no calor, na violência e na falta de gentileza. O rio que afundou faz parte da memória. Cuspo no prato que comi.
     Vejo as cenas da chacina no clube francês e das pessoas deixando seus carros e se atirando no asfalto quente da via expressa carioca com o mesmo temor e distanciamento. Cenas de cidades grandes. Sonhos equivocados. Desilusões de um mundo "girando cada vez mais veloz", não se sabe se por causa ou consequência.
     Uma vez escrevi neste blog (http://sarasimoes.blogspot.com.br/2006/10/vamos-dar-um-tempo.html) que decidira desacelerar, desapegar e todo e qualquer outro "des" que me tirasse da ciranda louca em que se transformara a vida pós-moderna. Nove anos depois, descubro que, para mim e tantos outros, sair da zona de conforto é procurar mais conforto, ou paz, como quiserem chamar.
     A vida boa é mais com menos. Basta se organizar um pouco e não procurar sarna para se coçar. De resto, a vida se encarrega. E chego a um ponto em que o maior dos problemas é um ventilador de teto barulhento ou a água da chuva que o vento forte empurra pela fresta da porta. É! Parece que achei meu bote!

domingo, 4 de janeiro de 2015

Diário de bordo de uma dona de casa sem fôlego


      As festas acabaram e as visitas retornam para os seus lares alegres, bronzeadas e rechonchudas. Mas, depois de despedidas e acenos, fica o gosto amargo da primeira faxina do ano novo no que sobrou do que você costumava chamar de "sua casa" e das "surpresinhas" que você vai descobrindo em cada cantinho. Aqui vão algumas dicas do que fazer e não fazer quando o trabalho é muito, mas a disposição já não é mais a mesma dos anos anteriores. Esse é o lado b, o que está por trás, das fotos festivas e felizes que todos veem e curtem no facebook (onde tudo são flores).


      Começo o dia. Minhas visitas cooperaram: antes de partirem, recolheram toda a roupa de cama e colocaram ao lado da máquina de lavar.  Ao separar as peças por cor, uma das surpresas realmente mais inesperadas do dia: duas fronhas se cansaram dessa vida de aparador de cabeças e resolveram reencarnar em pano de chão. Mas nada de tristeza, por sorte havia comprado, semanas antes do natal, fronhas lisas por R$ 2,99 numa banca na Rua dos Romeiros (o seguro morreu de velho). Pelo estado em que as encontrei entre o restante das roupas de cama, concluo que, no mínimo, os sonhos devem ter sido animados! Rs

      Hora de chamar os amigos. Aqueles que são pau para toda faxina. Sem os quais, não sei como seria a vida. Que não cobram nada além da conta de luz e de mercado no começo de cada mês. Conta de luz, aliás, que espero que neste mês venha acompanhada de um pote de vaselina porque vai ser doída...

 



      Roupas de cama (ao menos, as que sobraram inteiras) na máquina. Decido fazer um remix nos programas de lavagem e escolho um número cabalístico para a quantidade de vezes que vou bater a roupa. Escolho o 7 pra dar sorte e decido reutilizar a água. Mais tarde, vocês saberão para quê.




      Deixo a máquina trabalhar e resolvo atacar a sala primeiro. Aspirador a postos, descubro que o encardido do estofado não sairá com sucção. Há areia grudada no tecido e por baixo das almofadas.  O trabalho é maior do que imaginava. Deixo todas as almofadas peladinhas. Capas e tapetes entram na fila da máquina de lavar. E o couro come entre aspirador, almofadas e alvenaria. 


       É importante escolher o instrumento certo para cada superfície e limpar bem os aparelhos quando terminar de usar. Assim, o trabalho vai mais rápido.


      E o resultado, voilà!




 
      A máquina terminou a lavagem da roupa de cama que já está secando ao sol “suave” das 11h da manhã. É a vez das capas das almofadas entrarem no banho. Enquanto isso, é hora de pegar no pesado: tirar o pó dos objetos e estantes e jogar a água com sabão que saiu da máquina de lavar no chão da sala já livre. Minha máquina utiliza cerca de 50l de água por muda de roupa. É muita água para desperdiçar até o final do dia. É água suficiente para lavar o chão, os banheiros e até o quintal e economizar água potável. 


      Capas e tapetes estendidos no varal. Máquina limpa com álcool. Hora de colocar a roupa de mesa e panos de prato na máquina. Quando há muitas manchas de resto de comida e gordura, é bom usar detergente de louça na primeira lavagem, sabão em pó e líquido na segunda lavagem e, na terceira, substituir o amaciante por uma tampinha de água sanitária depois que a roupa já estiver submersa em água para evitar manchas. Depois de toda essa operação, não há roupa que não saia limpa. Melhor, sem precisar gastar os bracinhos nem as pontas dos dedos com muita esfregação!



      Nem os arranjos de planta resistiram às festas (ou seriam às feras?) do final de ano. Foi só começar a limpar para descobrir... Saldo final: vários galhos quebrados “sutilmente reposicionados”, mas prontamente substituídos por outros novinhos que estavam mesmo aguardando ansiosos a hora de entrarem em campo. Ainda bem que tinha arranjos para reposição. Agora não tenho mais!


      Sala terminada, perfumada, organizada e limpinha! Ulalá!



      Passemos ao quarto de hóspedes. E duas coisas curiosas me chamaram atenção. A primeira delas: etiquetas pelo chão. Quando, afinal, a indústria têxtil irá fabricar etiquetas que caminhem sozinhas para a lixeira? Bem, enquanto isso ainda não acontece, cabe à dona da casa, sem grana para pagar uma faxineira, encaminhá-las. E aquela mancha de sangue na porta do guarda-roupa? Deus queira que seja de um mosquito esmagado num momento de fúria sonolenta. Seria menos um inseto inoportuno a sobrevoar a Região dos Lagos. Mas e se não for mosquito? Passei um sabãozinho e não se fala mais no assunto.




  Quarto arrumado, limpinho e cheiroso. Hora de partir para a cozinha. Minha mãe, gauchona da fronteira, nos ensinou a chamar aquele paninho que fica na beira da pia de “esfregão” e pano de prato de “guardanapo”. Também nos ensinou que é anti-higiênico deixar a pia suja com restos de comida. E que a esponja acumula bactérias por isso deve ser trocada regularmente. Lição aprendida, missão cumprida. Os “guardanapos” já estavam de banho tomado. O esfregão roto foi pro lixo junto com a esponja despedaçada. Depois, dessas tarefas mais fáceis, foi “só” guardar a louça da ceia, passar o rodo com pano úmido nas paredes, limpar as digitais engorduradas dos portais brancos com água sanitária e jogar água no chão da cozinha e da área de serviço. Pouca coisa... rs











      O dia foi chegando ao fim e o restante da casa ficou para o dia seguinte (lembrem-se o diário é de uma dona de casa SEM FÔLEGO). Mas há uma parte da limpeza que deu muito errado. Explico: quando se recebe muitas crianças, que se divertem muito e vão dormir exaustas, corre-se o risco de um ou mais colchões amanhecerem molhados. E foi o que aconteceu em mais de um dia. Antes de começar a faxina, pesquisei na internet formas de recuperar o colchonete. Encontrei algumas “fórmulas mágicas” e resolvi tentar. 







       Apostei na primeira dupla de produtos – bicarbonato de sódio com detergente. Misturei-os com água e lavei o colchonete premiado que já havia passado 12h no sol, mas continuava com mal cheiro forte. Quando secou, o resultado foi péssimoooo! Até desisti do segundo par de produtos (vinagre branco e álcool). Além do mal cheiro permanecer, o forro estava todo manchado. Admito que perdi. Esse colchonete foi pro lixo...
Não se pode ganhar todas!



 
     Quem acompanha este blog deve estar estranhando o tema desta edição. Mas algumas lições tiradas de um dia de faxina servem de metáforas perfeitas para a vida prática.
      Arrumar sua casa é uma forma concreta de arrumar os pensamentos.
      É por todo esse trabalho que hotéis e pousadas cobram caro pela diária (se vocês não entenderem essa metáfora, talvez não seja uma).
      Por mais que você não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem com você, não se pode esperar que todas as pessoas ajam da mesma maneira. E nem sempre é por mal. Às vezes, é só desatenção.
     Algumas pessoas fazem você pensar que você é chata por ter certas manias. Mas se você está em sua casa, chatos são os que tentam impor outros hábitos e costumes sobre os seus. O mínimo que se deve exigir de quem chega é respeito e adaptação. (Essa é para Joana Simões!)
    Aprenda a dizer "não" quando desconfiar de que não dará conta de alguma tarefa, mesmo que isso vá desagradar alguém. Só você sabe o ônus de se violentar para agradar aos outros.
     E, finalmente, o que vale a pena ser conservado, deve ser recuperado, não importa quanto esforço isso irá demandar (7 lavagens, se necessário). No entanto, há coisas que não adianta limpar, esfregar, perfumar. É podre? Cheira mal? Deixa manchas ou marcas desagradáveis? Lixo deve ser jogado na lixeira, ou contaminará tudo o que estiver à volta. Elimine-o o quanto antes!
      Convido a todos para uma faxina mental, espiritual, profissional, moral ou mesmo doméstica para abrir o novo ano. É cansativo, mas faz um bem...