terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

REVOLUÇÕES POR MINUTO

Noite de sonho na Praça Tahrir

Quando o homem primitivo inventou a roda, sua intenção possivelmente era facilitar o transporte das caças que abatia ou das pedras, lenhas e ferramentas tão necessárias para uma vida minimamente confortável na caverna e fora dela. Dificilmente, esse homem pensou que estaria revolucionando a história da humanidade, até porque o conceito e a consciência de história e de humanidade nem existiam.

Quando os artistas da Renascença tiveram coragem de expor suas obras, possivelmente sua intenção era, através da expressão artística, dar um grito de liberdade contra a opressão moral e religiosa medieval. Talvez, até tivessem consciência de que esse movimento revolucionaria os padrões e melhoraria as condições de vida da época, mas é pouco provável que soubessem estar criando uma nova era para a história da humanidade.

Quando os primeiros poetas italianos do séc. XVIII, romperam com a caretice barroca, propondo um estilo que primava pela simplicidade, pelo equilíbrio, pela preocupação com o que era natural e social, certamente buscavam um mundo em que mais pessoas tivessem acesso à literatura, à beleza expressa pela arte, um mundo menos sombrio, pomposo e com menos culpa. Provavelmente, através do Arcadismo, perseguiam apenas o sonho proposto pelo Iluminismo, não imaginavam participar de uma revolução que abraçaria o fim do Absolutismo e a tomada do poder pelos burgueses, mais uma vez, um novo marco para a história da humanidade.

Em tempos mais recentes, a inviabilidade da onipresença – de ouvir, ver e testemunhar tudo todo o tempo – empurrou para o homem o legado de criar uma forma de registrar sons e imagens e transmiti-los. Assim, o telefone, o rádio e a televisão surgiram para complementar (e não substituir) o livro e a imprensa, que isolados já haviam representado uma enorme revolução de hábitos e costumes de massa.

Olhando dessa maneira, tem-se a impressão de que o desconforto, a crise, o incômodo são os estopins para grandes transformações globais. Nos dias de hoje, se tomarmos como exemplo as últimas revoluções populares iniciadas com as manifestações contra o aumento do preço do açúcar na Tunísia, passaram por um jovem egípcio que suicidou ateando fogo ao próprio corpo, derrubando os governos de ambos os países e bagunçando o mundo árabe, tal impressão se confirmará.

Mas, assim como no exemplo da invenção da roda, nem sempre as revoluções precisam ser sangrentas para serem avassaladoras. O mundo absorveu, mas ainda não compreendeu totalmente a revolução assustadora causada pelo computador. Se há dez anos ainda havia grande resistência por parte dos mais velhos ao uso dessa máquina, hoje a grande maioria já se rendeu. Raramente, encontra-se alguém que não tenha conta de e-mail.

Porém, a associação do computador às mídias já existentes, como rádio, tv e telefone, ainda engatinha, não exploramos um terço das possibilidades de uso e inovação que essa mistura pode oferecer. Ou seja, vivemos um tempo de revolução em processo.

Enquanto isso, outras revoluções acontecem todos os dias em menores ou iguais escalas mundo afora e mexem diretamente com a vida das pessoas alterando, inclusive, seu modo de enxergar a história. Anônimos ou famosos lançam faíscas de revoluções que podem se alastrar imediatamente, ou queimar bem devagar, levando décadas para incendiar velhos conceitos e forçar uma reconstrução.

E essas faíscas estão por todo lado, até por aqui. Se, por um lado, há nomes, como Paulo Borges, Lula, Fernando Meirelles e Seu Jorge, que vêm ajudando a imprimir um novo conceito de Brasil para o mundo e inserindo o país em novas rodas, por outro, há nomes de personalidades que plantaram e cultivaram boas sementes, mas morreram sem vê-las geminar, entre elas Van Gogh, Galileu, Edgar Allan Poe, Franz Kafka, Emily Dickinson e tantos outros.

Entretanto, pode-se dizer com segurança que um ponto une todas essas pessoas, além obviamente do fato de terem sido revolucionárias no que se propuseram fazer. Antes do desconforto, da crise e do incômodo, um outro fator moveu essas pessoas. Todos seguiram seus sonhos, ainda que muitos duvidassem deles. E, principalmente, ainda que muitos discordassem deles. Um sonho não precisa ser grandioso nem unânime, ele só precisa de fé e perseverança para acontecer. E em pequena ou grande escala, toda vez que um sonho se realiza, uma revolução acontece. Faça a sua!

(Foto from noticias.r7.com)