sábado, 14 de novembro de 2009

Pomba-gira no reality show

Outro dia, em Ipanema, conversa vai, conversa vem, comentei com um companheiro de mesa de lanchonete como é impressionante a quantidade de gente que se influencia pelo cardápio de personagens irreais disponíveis na mídia a fim de criar um padrão para a própria vida. E nem estou me referindo às novelas!

Aperta-se um botão, numa noite qualquer e lá estão elas: mulheres lindas de doer, pele boa, cabelo brilhoso, ar saudável, magras, bem casadas, filhos fofos, cachorros limpos... Quem em sã consciência não quer voltar assim na próxima encarnação? Mas quem pára pra pensar que talvez a vida delas pode não ser essa coca-cola toda?

Há quem ache a própria vida insossa e repetitiva. Há quem acorde em certos dias com um tremendo mau humor, com o cabelo revoltado, com um olho menor que o outro, sem vontade de falar com ninguém, com vontade de morrer. Imagine ter de manter a pose todo o tempo. Deve haver momentos assim até para as divas. Situações que escapem das lentes dos papparazzi.

Pois tenho que confessar a vocês, eu não queria uma vida assim. Cada um com sua cruz. As minhas têm sido tão fáceis de carregar que prefiro não arriscar em trocá-las por outras. Além do mais, há coisas que não podem mesmo ser mudadas – a questão estética, por exemplo. Com licença, queridos, mas “a fila dos bonitos é do lado de lá”. Eu já encontrei o meu lugar nesta fila aqui e sei bem as dores e as delícias de ser como sou.

E se a ordem do dia é escolher um personagem fico com a Aline. A heroína ferrada das noites de quinta-feira, na Globo. É a minha hora de mergulhar na fantasia sem pensar no amanhã. Ela é perfeita, simplesmente porque é toda erradinha, felizarda! Talvez a mais livre de todas as heroínas da teledramaturgia.

Seus namorados não são lindos, não são ricos, mas são formidáveis como ela. Ela cede a todos os impulsos sem freios e eu me delicio e torço do lado de cá da tela para ela fazer na ficção tudo o que eu não tenho coragem de fazer na vida real.

O mais legal é que sempre dá tudo errado e, por isso mesmo, tudo dá certo no final. Igualzinho à vida real. Mas quantas vezes nos pegamos pensando “Que bom que deu tudo errado!” e nos permitimos rir da vida e de nós mesmos como rimos das séries na tv? Fico tão feliz com cada episódio que me flagro rindo dos detalhes que minha memória cortesmente me traz de volta dias depois. Meus finais de semana se contaminam daquela energia.

Quando eu era pequena ouvia histórias dizendo que pombas-giras desciam em terreiros da cidade se dizendo a Viúva Porcina! (hahahahahaha) Pois bem, se um dia algum espírito decidir baixar em mim, que não seja como fez com o Steve Martin, apenas 50%.

Se for alguma Aline solta por aí, pode tomar conta geral! Saia por aí dizendo poucas e boas pra quem merecer. Pode também fazer combinações inusitadas com as roupas do armário. Autorizo usar todas as minissaias e roupas curtinhas também. Faça umas gracinhas pras mulheres próximas se soltarem um pouco. Grite com os meninos, eles vão ficar surpresos comigo! Dê escândalo, dê ordens, fale alto na rua. Vá ao shopping, ao salão e gaaaaaste! Faça tudo o que eu não tenho coragem de fazer.

Ah, Aline, aproveite pra me fazer um favorzinho, use e abuse do seu estilo inteligente e sacana pra mostrar pro constrangedor companheiro de mesa de lanchonete que até o Stevie Wonder teria reparado nos olhares dele para a bonitona da mesa ao lado. Se valesse o trabalho, eu mesma teria falado. Mas já que você vai estar por aí, sei que vai usar uma fórmula bem original pra botar o bobinho no seu devido lugar! E volte sempre, querida! Você é muito bem-vinda! É de “reality shows” assim que precisamos!