domingo, 13 de dezembro de 2009

Descobertas

Como boa capricorniana, é chegada a hora de me recolher ao casulo e rever o que foi feito (ou desfeito) de 2009. Posso até me dar ao luxo de começar pela conclusão. Este foi um ano de descobertas. De todos os tipos, boas e más, porém todas úteis. Divido-as com quem seguir na leitura, afinal, como diz Gilberto Gil, “não é obrigado a escutar quem não quiser me ouvir”.

Vou começar com meu amigo Roberto que me abriu portas com seu exemplo. Não importa qual seja o obstáculo, cada um decide se a vida será leve ou pesada. Quando chegou minha hora de agir, foi dele que lembrei para poder levar os momentos mais cansativos e preocupantes no hospital com minha mãe.

Aliás, essa temporada no “spa do Boréu”, como chamávamos o hospital, foi rica de ensinamentos.

Conforme mencionei há algumas colunas, confirmei as suspeitas de que minha mãe é forte pra dedéu. Aguenta os trancos, reclamando, mas aguenta. Eu, molenga, sucumbiria com certeza.

Também descobri por lá que novas amizades florescem mesmo nas situações menos propícias e em ambientes realmente inóspitos, desde que as pessoas certas sejam postas juntas formando uma química imediata. Dona Maria de Jesus e sua irmã Ana são algumas das pessoas inesquecíveis que conheci lá. Uma espécie de compensação pelo aborrecimento por não estarmos em casa naquelas circunstâncias.

Infelizmente, o oposto também acontece. Quando começamos a perder a paciência, por uma dessas ironias do destino, Deus resolve nos mostrar que nada é tão ruim que não possa piorar e nos faz dividir o espaço de um quarto de hospital com pessoas sem noção de educação e solidariedade. Mas dessas eu nem sequer lembro o rosto.

E isso me faz lembrar de outras situações em que descobri não ser capaz de perdoar. Meu coração imaturo até consegue esquecer, mas, para aprender a perdoar, acho que ainda vou precisar de mais algumas encarnações.

E já que estamos falando de encarnações, foi o Evangelho de Kardec que, em um momento de irritação, me deu a dica. Aqueles que cruzam nossa vida como algozes, na verdade, estão nos indicando um caminho para a evolução.

De repente, olhando para trás, me dei conta de que mulheres infelizes ocupando cargos de gestão sempre me fizeram sair da acomodação e dar uma pirueta, levando a vida por mares nunca dantes navegados. Este ano não foi diferente.

E, uma vez dado o impulso para o salto, a resposta da vida foi imediata. Ao anunciar minha decisão de deixar a escola onde lecionei por onze anos, alunos de diferentes turmas e séries se organizaram para despedidas. Muito emocionante descobrir que o trabalho refletido, pensado e preparado com carinho foi reconhecido pelas pessoas que mais importam.

As palavras que ouvi dessas pessoas jovens, velhas, pessoas experimentadas e outras que estão começando a vida, pessoas iguais ou tão diferentes de mim, jamais serão esquecidas. “E sinto assim como meu peito se apertar...” Já sinto saudades e vontade de chorar só de lembrar. Que bom saber que consegui com meu trabalho plantar uma boa semente em terrenos tão férteis. Vejamos que surpresas mais a vida me trará.

Olhando ao redor e abrindo bem os ouvidos para as histórias alheias, descobri que, na maioria esmagadora das vezes, as mulheres têm razão quando resolvem ir embora e deixar seus casamentos. Muitas nem sabem bem por que estão partindo, parafraseando Nelson Rodrigues “não sei por que estou partindo, mas tu sabes porque estou te deixando”. Quem está de fora sabe que estão certas. E o tempo vai confirmar a sensatez da decisão. É só esperar.

Observando, também descobri que a voz do povo se engana quando diz que toda mãe é igual. Por outro lado, o pai é realmente o último a saber, porque todo pai é meio Homer Simpson. O que tenho ouvido de histórias bizarras sobre pais e suas manias estranhas, roupas horrorosas, conversas fiadas, gafes homéricas, decisões equivocadas, exageros gastronômicos, presentes esdrúxulos... Dariam um livro de vários volumes com edições esgotadas por milhares de filhos embaraçados mundo afora.

No ano de 2009, tive muitas oportunidades de descobrir quem são os amigos de fé, irmãos camaradas que estão juntos e misturados mesmo nos momentos de maior aperto. Aquelas situações desconfortáveis das quais a maioria sai de fininho. Quem quiser aplicar o, digamos, “teste do amigo para o que der e vier” não precisa fazer o mundo desabar sobre a própria cabeça.

Ofereço uma sugestão bem prática ao nobre leitor. Espalhe entre os candidatos a notícia de que você pintará a casa, sem ajuda profissional, com suas próprias mãos. Aqueles que aparecerem para ajudar são os que realmente se preocupam com você e estarão por perto não importa quando, nem onde, nem porquê. Pois, ô missão ingrata! Tem que ser muito irmão para encarar. Caso o resultado do teste seja insatisfatório, talvez você precise mudar sua relação com seus amigos. Ou, talvez, você precise mudar de amigos...

E, finalmente, olhando para dentro, as notícias não são nada boas. Descobri que tenho desenvolvido um estranho apreço pela misantropia. Parece que andei levando a sério demais aquela história de curtir minha própria companhia e acabo por me desfazer facilmente dos outros.

O fato é que a superficialidade e o egocentrismo das pessoas me cansam. Há milhares de coisas acontecendo no mundo a cada segundo e parece que a maioria das pessoas não consegue pensar e falar de nada além de si mesmas. Não ouvem quem está ao seu lado, não são capazes de se conectar com o restante do universo.

Para piorar a situação, à medida que envelheço me torno mais intolerante aos vacilos alheios e, para não gerar atrito, minha opção é dar as costas e ir embora. Sem diálogos, sem possibilidade de conciliação, me desfaço das pessoas como quem tira uma peça de roupa em um dia de calor sufocante. Não sei para onde estou indo agindo assim - se vou me tornar uma ilha deserta ou quase deserta -, e também não quero que ninguém me diga. No ano que vem, pode ser que eu volte aqui para contar minhas novas descobertas. Quem viver, verá.

Obrigada pela companhia e um feliz 2010 pra todo mundo, sendo irmão camarada ou não. Porque a felicidade precisa se espalhar!

Levando a vida ao sabor do vento
(Foto por Sara Simões em Rio das Ostras)