sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Pequeno manual de instruções para moças solteiras e emancipadas














momentos em que mesmo as moças mais independentes e vacinadas sentem-se desconfortáveis ao olhar para os lados e não ver mais ninguém dentro das quatro paredes que delimitam seu acolhedor e aconchegante lar.

Nestas horas, nem os bons livros que aguardam pacientemente sua preciosa atenção na estante, nem as revistas antenadas que repousam esquecidas na mesinha de centro, nem as lições do cursinho de idiomas abandonadas no escuro do armário servem de abrigo para a tempestade que se anuncia na mente e no coração da dona da casa.

É, muitas vezes, nessas ocasiões que costumam aparecer os aproveitadores profissionais. Aqueles rapazes irresistíveis e desocupados que buscam uma fonte inesgotável de sexo seguro e gratuito, porém sem nenhum compromisso. Com bocas recheadas de palavras doces e, geralmente, mãos vazias, surgem sabe-se Deus de onde para encantar e aquecer os corações sufocados pelo excesso de ar que a independência traz.

O que fazer diante desse desafio? Como se defender das garras atraentes dessas galanteadoras doenças oportunistas? O que devem fazer as donas de casa do século XXI, renderem-se ou lutarem até o final? Resistirem ou sucumbirem ao doce idílio momentâneo, mas com tendências a raios e trovoadas no final do período?

Com a experiência que onze anos de emancipação e alguns tropeços e cabeçadas me proporcionam, permito-me oferecer-lhes algumas dicas para fugir das armadilhas nas quais corações ingênuos de mulheres espertas às vezes se dão ao luxo de cair. (E prometo tentar cumprir as regras que eu mesma ditarei a seguir.)

Antes de mais nada, tenha uma conversa séria consigo mesma e descubra o que você realmente quer. Se o seu interesse for um pouco de diversão sem ter que necessariamente dividir a cama à noite (isso inclui os inconvenientes noturnos, tais como roncos, pontapés etc.), incluir algumas peças masculinas na pilha de roupa para passar e lavar, ter que cozinhar para mais uma boca ou ter que aturar um estranho dentro de casa logo ao acordar, aproveite-se do aproveitador! Faça tudo o que lhe interessar e depois bote-o para fora.

Se se tratar de um homem com pelo menos um pouco de brio, essa será também uma maneira de fazê-lo sentir-se como você se sentiria se fosse pega de surpresa e desavisada: um objeto. Caso ele não perceba que foi usado, parabéns! Você definitivamente se livrou de uma bomba!

Porém, se você for daquelas moças cujo envolvimento sexual remete a um relacionamento mais sério, seja clara, principalmente com você mesma. Respeite sua opinião e faça-se respeitar. Nenhum homem, por mais irresistível, tem o direito de fazê-la sentir-se ordinária e disponível por ter seduzido você e depois desaparecer. Ou pior, continuar aparecendo para se satisfazer, mas mantendo sempre a conversinha clássica do “apenas bons amigos”.

Se isso acabou de acontecer com você, levante a cabeça. Não essa importância toda a alguém que não tem importância alguma. Lembre-se, até ele surgir em sua vida, você não sentia a menor falta dele, porque simplesmente nem o conhecia.

Mas nenhum dos casos acima será bem sucedido se você não seguir a mais importante das regras. Ame-se! Conscientize-se de que não há no mundo ninguém com tantos defeitos quanto você, mas, principalmente, nãoninguém que consiga reunir todas as suas qualidades.

Também não haverá em parte alguma melhor companhia para você do que você mesma. Ninguém a entende e nem faz as suas vontades como você. Se não consegue se sentir bem na sua própria companhia, jamais estará bem acompanhada ou será uma boa acompanhante.

Concentre-se no presente, dedique-se, o seu melhor em suas atividades. Não deixe sua mente vagar atrás de alguém que não esteja ao seu lado. Trate bem as pessoas à sua volta. Escute o que elas têm a lhe dizer. Às vezes, boas mensagens surgem de onde menos se espera.

Faça algo de que possa se orgulhar. Faça fotos incríveis, escreva, desenhe, toque uma canção, crie uma obra de arte. Espaços vazios são um convite à criação. Transforme um momento de tristeza em algo produtivo. Vire a mesa a seu favor. Você vai se surpreender com o que será capaz de realizar.

Tome conta de você. Cuide-se. Trate-se muito bem. Presenteie-se. Se não fizer isso por você mesma, dificilmente encontrará quem o faça. E, principalmente, se você se tratar bem, jamais aceitará ser mal tratada por ninguém.

Olhe com bastante atenção para o que no espelho. Note bem suas características, pesquise as cores e os cortes que ficam bem para você e compre uma roupa bem bonita. Use salto alto de vez em quando. Namore-se. Tenha orgulho da mulher que se tornou e dos feitos que realizou. Você certamente tem muito o que comemorar. E se não tiver, mãos à obra. Está esperando o quê?

Tenha sempre por perto um cd com suas músicas favoritas. E que elas sejam bem alegres e inspiradoras. Monte uma trilha sonora para a sua vida. Ande pela rua desfilando com o som bem alto no fone de ouvido, mas olhe sempre antes de atravessar. Transforme as ruas por onde passa em uma passarela, seja incrível e atraia os olhares de admiração e de curiosidade pela felicidade que irradiar de seus olhos. Não atribua a ninguém o alto astral que está dentro de você. Deixe-o sair!

Bote seu cd para tocar no banheiro. Aprenda as letras e cante bem alto. Azulejos produzem uma acústica incrível. Dance embaixo do chuveiro. Imagine-se em um videoclipe. A natureza não vai se importar de desperdiçar um pouco mais de água para fazer uma filha feliz. Mas não se descuide dos vizinhos, ninguém é obrigado a ouvir o que você quer, por melhor que seja a sua trilha sonora. Seja educada!

Por fim, respire. Respire profunda e calmamente várias vezes. Se conseguir, chore para desafogar. Mas não chore demais, ou o rosto marcado e a dor de cabeça serão inevitáveis. Se estiver triste, vai passar.

O mal se manifesta de formas diferentes e em diferentes setores em nossas vidas, seja o profissional, emocional, familiar ou o financeiro. Todos têm problemas. Mas eles acabam mais cedo ou mais tarde. Diz a sabedoria popular que nãomal que não termine nem bem que nunca se acabe. Se você estiver na base da roda gigante, tenha um pouco de paciência, logo logo ela subirá. Se estiver no topo, aproveite cada minuto, mas previna-se. O sobe e desce é inevitável. C’est la vie!

E, voltando aos oportunistas de plantão, não deixe que uma sequência deles a faça pensar que não pode ser amada. Conheço homens realmente bons (são poucos, é verdade, mas existem!). Vamos torcer que eles pintem em nossas vidas, mas tenhamos cuidado para não projetar em qualquer Mané a imagem do que gostaríamos que ele fosse.

E, se por um acaso do destino, um bom homem nunca pintar, jamais aceite qualquer um. Será sempre melhor ficar do que mal acompanhada. Muitas mulheres adoeceram e morreram por males advindos de amores mal resolvidos. O quanto antes essa causa mortis for eliminada, mais tempo teremos para aproveitar a vida com mais amor de quem e para quem realmente merece e muito menos sofrimento. Carpe diem! Be present!

Trilha sonora sugerida:
"Preaching the end of the world" - Chris Cornell
"Suburbano coração" - Chico Buarque

Foto por Sara Simões.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ENCURRALADA



Hoje é dia 09 do 09 de 2009. Enquanto alguns voltam sua imaginação para fantasias místicas, assisto a um programa sobre os 45 anos do golpe de 64. (E por falar em coincidências numéricas, a soma dos algarismos de 45 é...) Fala-se que o dia de hoje seria uma data propícia para revoluções e grandes mudanças.

Lembrei imediatamente da manifestação dos meus colegas de trabalho ontem, em frente à Assembleia Legislativa, que culminou no confronto entre colegas de dureza, funcionários públicos estaduais: professores e policiais.

É praticamente certo que a alguns metros da manifestação algum pivete (que deveria, poderia e precisaria estar dentro de uma sala de aula) estivesse fazendo “algum ganho” livremente, pois quem deveria estar se (pre)ocupando com a segurança estava, na verdade, batendo nos grandes malfeitores da sociedade atual, os professores, essa raça de vagabundos.

No entanto, a manifestação ocorreu um dia antes do portal da transformação se abrir. E, segundo o Mestre dos Magos, agora o Vingador já conta com a maioria dos deputados estaduais para aprovação do aumento parcelado em seis anos para a categoria. O Vingador, filho de professora, está mais preocupado com os lucrativos royalties advindos do pré-sal.

Afinal, a educação dos outros que se lixe, pois garantir o próprio futuro é muito mais importante. O desenvolvimento do país que se lixe, pois a retenção local dos lucros provenientes dos tais royalties garantiria orçamento para obras faraônicas e superfaturadas que cristalizarão sua reputação como o grande governador que não consegue atrair investimentos para o estado, nem oferecer educação, segurança e saúde de qualidade para o povo sem que uma câmera de tv esteja ligada por perto.

Vale lembrar, Vingador, que a descoberta do petróleo na camada submarina foi conquista de uma empresa estatal federal e não estadual. Até porque o orçamento destinado para pesquisa nas universidades estaduais não permitiria sequer a pesquisa da camada subcutânea, o que dirá da submarina.

Assim como nas manifestações que ocorriam na época da revolução, alguns apanharam, a justiça não será feita, não haverá união sequer entre os que seriam beneficiados pelas mudanças propostas e, pior, tudo cairá no esquecimento. Pelo menos, nas mentes entorpecidas dos telespectadores guiados e enebriados pela ditadura midiática de agora.

Em 1964, lembro-me bem, aguardava na fila do chocolate quente, no refeitório da colônia com meus colegas anjinhos, a oportunidade de voltar à Terra. O que só viria a acontecer 11 anos depois.

Nem por isso deixei de conhecer os nomes importantes da época de ambos os lados da questão. Quem entrou para a história e quem foi expulso dela. Quem já rondava o poder nos confins e conseguiu manter a tão sonhada “governabilidade” até hoje. Quem se aproveitou da história e quem ainda se apropria dela, apesar de fazer o contrário do que pregava na época. Estes são muitos...

Da fila do chocolate quente, espiava tudo que se passava aqui embaixo. Ficava doida para descer para “dar uma força”, mas ainda não era a minha hora. Quando desci, aprendi tudo na escola. Quando cresci, fui para frente da sala de aula. Lá encontro alunos mais velhos do que eu, que viveram aquela época, mas não sabem o que se passou. Têm pena dos professores, mas querem que a aula acabe logo para ver os últimos capítulos da novela sobre um país distante.

Em contrapartida, os mais jovens não parecem ter por que lutar. Com um talão de 24 prestações podem comprar um eletrodoméstico, um computador, um game de última geração no Brasil. Com um talão de 72 folhas podem até comprar um automóvel para estacionar na calçada em frente de casa. Mesmo que algumas contas fiquem para trás vez ou outra, o conforto da família está garantido.

Não parecem ter por que lutar. Hoje podemos dizer o que quisermos na Internet, mas nos noticiários e demais programas de TV, o monólogo impera. Na seção de cartas dos leitores nos jornais e nos programas de rádio, a voz do povo é a voz de Deus desde que editada.

O ideal de justiça social ou de uma sociedade mais igualitária agora é chamado de utopia socialista e vai desaparecendo na distância. Graças aos próprios governos que empregaram mal esse regime. Graças a um massacre publicitário que durante décadas vem se encarregando da lavagem cerebral, verdadeiro “genocídio” de sonhos de um mundo mais justo.

A falência do sistema capitalista, cujos indícios foram verificados nas últimas crises econômicas mundiais, aponta para ideias surgidas em países que vêm tentando através da social democracia (ou algo levemente parecido com isso) proteger o sistema financeiro sem sacrificar a população (ver filme “SICKO”, de Michael Moore). Ideias estas que indicam a perda de importância do dinheiro em detrimento da qualidade de vida. É justamente neste ponto que os questionamentos voltam a acontecer.

O mesmo ocorre comigo. Há alguns anos, decidi conduzir minha vida rumo à tal qualidade de vida, abdicando do lucro. Escolhi minha profissão e a sigo com dedicação praticamente exclusiva, apesar da baixa remuneração. Porém, em um momento de efervescência como lembrou-me os da revolução, ao invés de arregaçar as mangas, me vejo encurralada pensando nas contas para pagar e no ponto que será cortado se aderir à greve.

Estamos livres da ditadura militar, mas estamos presos em uma cadeia invisível chamada poder econômico. O dia acabou e não consegui atravessar o portal. Notei que minha liberdade de escolha esbarra em um muro invisível que começa em um capataz, o funcionário subalterno que cumpre ordens e vigia o “gado” para que ninguém se rebele. Mas não consigo ver onde o tal muro termina.

Contudo, penso que o fim de todo o muro é a queda. Se na Alemanha ele caiu, no Brasil, ele um dia há de cair também. E saio por aí assobiando Beatles como uma desculpa para minha covardia.
“You say you want a revolution
Well, you know
We all want to change the world
You tell me that it's evolution
Well, you know
We all want to change the world
But when you talk about destruction
Don't you know that you can count me out
Don't you know it's gonna be all right
all right, all right”
(Beatles, “Revolution”)
Fotos retiradas dos sites www.cgtb.org.br e www.rnw.nl, respectivamente; ambas retratam manifestações ocorridas na década de 60.