terça-feira, 11 de maio de 2010

Quero ver se você tem atitude, se vai encarar*

...Wait just one minute here

I can see that she's trying to read me

She's going to change the world

but she can't change me

(Chris Cornell - “Can't change me”)

Há umas mulherezinhas insuportáveis. Insuportáveis no sentido de intragáveis. Intragáveis no sentido de difíceis de engolir. Em pouco tempo, a presença delas se faz notar em qualquer ambiente. Conversam sobre qualquer assunto. Fazem amizade com todo tipo de gente e se saem bem em qualquer situação. Não se intimidam mesmo diante dos mais rebeldes. Self made women. Que raiva tenho delas.

Elas se arrependem de ter feito coisas que muita gente lamentaria não ter vivido. Os canalhas e os babacas que cruzaram seus caminhos saem de suas vidas mais miseráveis do que os babacas das outras. A vida parece ser menos dura para elas. E até as pequenas sabotagens diárias são charmosas no cotidiano delas. Que inveja sinto delas.

Elas viajam para lugares que eu gostaria de ir. Elas contam histórias que eu gostaria de poder contar. Elas ouvem músicas que eu gostaria de entender. Elas atraem suspiros que eu gostaria de provocar. Elas soltam risadas que eu gostaria de ouvir. Que horror eu sinto de não ser como elas, mesmo sendo do sexo oposto.

Elas podiam se satisfazer em saber mais apenas sobre cozinha. Elas podiam se restringir em entender de moda. Elas podiam se limitar em falar da tinta do esmalte. Elas podiam se contentar com as novelas. Mas, não! Elas se metem em tudo o que não lhes diz respeito. Política, música, cinema, independência, futebol. Que ódio eu tenho delas.

Um dia uma delas me olhou e riu. Debochou do meu time campeão. Tive vontade de ir embora, mas comi pra mostrar quem é que manda. Na verdade, quase não consegui. Mas até esse sucesso ela teve. Eu detesto todas elas.

Quero mesmo é que trabalhem em lugares perigosos. Que arrisquem a vida e morram. Que parem de nos afrontar. Que parem de se meter. Que parem de nos superar e de fazer o que eu gostaria de fazer. Que parem de conseguir o que eu queria para mim. Que parem de querer nos ajudar.

Eu quero odiá-las. Quero mandá-las calar a boca quando tiverem razão. Mas não posso. Não tenho coragem. Então, as como enquanto olho para suas colegas de trabalho ou canto suas conhecidas, na esperança de que elas descubram. Mas elas dão as costas e vão embora.

Elas sabem quem são. Elas sabem o que podem. Elas sabem o que fazem, exceto quando me amam. Eu não sei. Apenas me vingo dessa espécie rara que eu não respeito, que é só um objeto pra usar e jogar fora depois de ter prazer.

Então, tá combinado é quase nada, é tudo somente sexo e amizade, porque isso é tudo o que aguento receber delas. E também não há nada melhor que eu tenha para oferecer em troca. Elas podem mudar o mundo, mas não a mim.

(O título desta coluna foi retirado da música de Ana Carolina, “Cabide”. As músicas “A Dança”, da Legião Urbana, e “Tá combinado”, de Caetano Veloso, também foram citadas nesta crônica.)