quinta-feira, 25 de novembro de 2010

We’re still alive

Não! Apesar do título, não vou falar da violência do Rio. Os números das últimas eleições são claros, o povo daqui gosta da tensão. Então, vamos respeitar democraticamente a vontade da maioria. Apesar do respeito à maioria ter mais a ver com uma expressão de força do que com a democracia propriamente dita. Afinal “maioria” é uma questão de quantidade, e não necessariamente de qualidade. Mas isso é papo para mais de metro. E não é disso que vim falar este mês.

O motivo é bom! Uma saudade gostosa de sentir. Tenho certeza de que muitos leitores vão concordar comigo. Daqui a poucos dias, um dos melhores shows já vistos no Rio de Janeiro completará 5 anos.

A Praça da Apoteose estava lotada de uma gente animada e preparada para fazer festa. O vocalista subiu ao palco agarrado numa garrafa de vinho, no maior porre. Mas a adrenalina de ver milhares de pessoas pulando e cantando curou a bebedeira e o que se seguiu foi inesquecível.

Já assisti a centenas de shows e nunca vi uma interatividade tão grande entre artista e público. Quem estava no show do Pearl Jam nos primeiros dias de dezembro de 2005 sabe do que estou falando.

Naquela noite, a audiência roubou a cena inúmeras vezes. Poucas horas depois, as gravações dos shows já estavam disponíveis na rede. Ainda hoje, ao ouvi-las a pele arrepia em “Better Man”, quando o povo rouba a música de Eddie Vedder que deixa a galera levar no gogó.

Fecho os olhos e lembro dos detalhes, das feições dos meus amigos e de todos em volta, a realização de anos de espera estampada em forma de felicidade coletiva e versos cantados a plenos pulmões.

Lembro dos celulares erguidos durante a música “Black”, os isqueiros da nova geração. Lembro de Eddie Vedder sentar na beira do palco para ver o público se divertir. Lembro do amigo ao lado ligando pra dividir a música pelo celular. Lembro de encontrar com os colegas de trabalho no dia seguinte ainda empolgados com o que vimos na véspera.

Fico pensando como meros mortais conseguem através de acordes promover momentos de catarse coletiva como o daquela noite? Imagino que uma aura de boa energia estava envolvendo a Apoteose naquele momento porque um evento com 40 mil pessoas extasiadas daquele jeito não registrou uma briga!

Puxa vida! É de energia assim que nossa cidade precisa. É impossível não sentir uma certa melancolia ao lembrar daquela noite e ver no que o Rio está se transformando. Porém, ainda há tentativas heróicas de resgatar nossa vocação para o show. O movimento “Brasilidade: todos pela cultura para todos”, neste ano, escalou um elenco fabuloso (Lenine, Céu, Zeca Baleiro, Arnaldo Antutes, Adriana Calcanhoto, Wilson das Neves, entre outros) para se apresentar na Lapa de graça em homenagem ao antropólogo Darcy Ribeiro.

Vários desses espetáculos estão agendados para este final de semana. Seria uma boa oportunidade de reviver momentos como aqueles do show do Pearl Jam, mas por enquanto o Rio pega fogo... Que Deus nos ajude e a arte nos redima!

Quem quiser reler a crônica fresquinha do show: http://sarasimoes.blogspot.com/2005/12/ainda-estamos-vivos.html