Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo tempo do mundo...”
(Renato Russo)
Acordei chateada depois de uma noite mal dormida por conta do funk de uns vizinhos barulhentos. Acordei triste por causa de uma esperança frustrada. Acordei, fazer o quê? Tomei um banho e me dei o dia. Fui à praia. Os vizinhos caíram no esquecimento, mas a tristeza persistiu. Perambulei pelas horas e pelas ruas, procurando preenchê-las e tentando não pensar no espinho que me incomodava, mas já pensando. The girl with a thorn on her side.
Tentava me convencer a aproveitar melhor meu momento de liberdade, a observar com atenção o vento batendo nas árvores, a brisa do mar tocando fresquinha na pele ardida, a criatividade dos ambulantes, as crianças se divertindo, a Piauí que carregava comigo. Levantei e fui embora. Pele queimada, barriga roncando, testa franzida, pensamento anuviado, coração pesado... Passos rápidos.
Fui ver minha mãe. Conversando sobre as coisas da vida, me distraí e, naqueles momentos de jeito simples, esqueci do espinho. Levantei e fui embora. Cabeça leve, rosto tranqüilo, olhos baixos, passos lentos, tentando evitar o bater solitário da porta que deixaria a rua cheia e iluminada para trás.
Encontrei afazeres e me ocupei deles, o espinho voltava a latejar. As notícias da noite passaram por meus olhos, mas não entraram por um ouvido nem por outro. O universo de máquinas de lavar, ferros de passar, esmaltes de unha, e-mails tomou uma forma onírica, bem diagnosticada pela psicanálise como ocorrências possíveis em lapsos de atenção.
Só no final da noite, começo de um novo dia, foi que uma música de um programa de tv me despertou daquela aura etérea. Os primeiros acordes de Tempo Perdido trouxeram à memória, em questão de segundos, sensações vividas numa época remota em que todas as paixões infantis iriam durar para a vida toda até o final de semana seguinte. A epifania gerada pela canção de Renato Russo não me libertou da tristeza que me atormentou por toda aquela semana, mas me avisou que as paixões ainda são infantis e, até o final da próxima semana, tudo pode mudar novamente. Relaxei. O espinho ainda dói, mas isso passa. Amanhã voltarei à praia.
Acordei chateada depois de uma noite mal dormida por conta do funk de uns vizinhos barulhentos. Acordei triste por causa de uma esperança frustrada. Acordei, fazer o quê? Tomei um banho e me dei o dia. Fui à praia. Os vizinhos caíram no esquecimento, mas a tristeza persistiu. Perambulei pelas horas e pelas ruas, procurando preenchê-las e tentando não pensar no espinho que me incomodava, mas já pensando. The girl with a thorn on her side.
Tentava me convencer a aproveitar melhor meu momento de liberdade, a observar com atenção o vento batendo nas árvores, a brisa do mar tocando fresquinha na pele ardida, a criatividade dos ambulantes, as crianças se divertindo, a Piauí que carregava comigo. Levantei e fui embora. Pele queimada, barriga roncando, testa franzida, pensamento anuviado, coração pesado... Passos rápidos.
Fui ver minha mãe. Conversando sobre as coisas da vida, me distraí e, naqueles momentos de jeito simples, esqueci do espinho. Levantei e fui embora. Cabeça leve, rosto tranqüilo, olhos baixos, passos lentos, tentando evitar o bater solitário da porta que deixaria a rua cheia e iluminada para trás.
Encontrei afazeres e me ocupei deles, o espinho voltava a latejar. As notícias da noite passaram por meus olhos, mas não entraram por um ouvido nem por outro. O universo de máquinas de lavar, ferros de passar, esmaltes de unha, e-mails tomou uma forma onírica, bem diagnosticada pela psicanálise como ocorrências possíveis em lapsos de atenção.
Só no final da noite, começo de um novo dia, foi que uma música de um programa de tv me despertou daquela aura etérea. Os primeiros acordes de Tempo Perdido trouxeram à memória, em questão de segundos, sensações vividas numa época remota em que todas as paixões infantis iriam durar para a vida toda até o final de semana seguinte. A epifania gerada pela canção de Renato Russo não me libertou da tristeza que me atormentou por toda aquela semana, mas me avisou que as paixões ainda são infantis e, até o final da próxima semana, tudo pode mudar novamente. Relaxei. O espinho ainda dói, mas isso passa. Amanhã voltarei à praia.
A ilustre arte que melhora esta coluna é "La persistencia de la memoria" (ou "Los relojes blandos" ou "El tiempo derretido"), de Salvador Dalí. Thanx, man!