Domingo. Liguei o computador no final da manhã e me deparei
com a seguinte manchete: “Distrito Federal e 10 Estados têm protestos a favor
do impeachment”. No final da manhã já havia cobertura sobre os protestos em dez
estados! A primeira pergunta que me vem
à cabeça, a dengue e o zika vírus merecem cobertura tão competente?
Durante quase 40 anos, ouvi boatos de pessoas que roubavam
na administração pública, em diferentes escalões, que nunca eram investigadas.
De diretores de escola que roubam merenda escolar e superfaturam na compra de
materiais a funcionários de estatais, empreiteiros, donos de firmas que
terceirizam mão-de-obra quase escrava para repartições públicas etc. Em comum,
todos enriquecem rápido demais.
Obviamente, assim como eu, muita gente também deveria ouvir
tais histórias recorrentes do dia-a-dia brasileiro. Acredito que alguns, de
tanto ouvi-las, acabaram acreditando que também poderiam sacar seu quinhão
dessa mamata, certos da impunidade vigente. Se acreditaram e fizeram, devem ter
“se arrumado”. Dependendo da esfera pública a qual estão atrelados, ainda devem
estar “se dando muito bem”.
Mas, de uns tempos pra cá, é fato que nunca se apuraram
tantas denúncias de corrupção e improbidade. A quantidade de gente presa e de grana
de maracutaia devolvida também impressiona.
Até o final de novembro (2015), a operação “Lava Jato” já conseguira
recuperar R$2,3 bilhões, com projeção de inéditos R$ 23 bilhões até o final das
investigações. Ou seja, ainda tem muito escândalo pela frente. A Polícia
Federal também já está botando pra quebrar nas obras de transposição do Rio São
Francisco. A operação “Vidas Secas” já encarcerou quatro executivos por
superfaturamento.
À primeira impressão, “a atual administração é uma
bandalheira”. “Não existe gente honesta nos altos escalões do serviço público”
etc. etc. Aquilo tudo que ouvimos na rua ou na mídia. Mas, superficialidades à
parte, bandalheira nós vivíamos quando ouvíamos boatos e nada era feito.
Ninguém era preso. Qualquer um metia a mão grande no erário e ficava tudo por
isso mesmo.
Em alguns estados ainda é assim. No Rio de Janeiro, por
exemplo, vigas gigantescas somem, salários de milhares de servidores
desaparecem e nada é feito. Minas, com seus casos arquivados do aeroporto
particular e do avião cheio de cocaína, é outro exemplo. Mas, na esfera
federal, o mar de lama que não conseguiu derrubar a Petrobras e já chega ao Rio
São Francisco serviu para conferir um pouco mais de credibilidade aos órgãos de
investigação brasileiros.
Vendo tantas prisões de gente de grana (pública), chego a
arriscar que muito malandro mal intencionado vai passar a pensar duas vezes
antes de se aventurar em licitações junto ao governo federal. Pelo menos,
enquanto não derrubarem o governo do PT. Caso contrário, se o impeachment passar, voltará a reinar a bandalheira
descarada.
Por “coincidência”, políticos que em seus currais estaduais
conseguiram ter seus casinhos suspeitos arquivados são os grandes
incentivadores da campanha pelo golpe. Curiosamente, lideram palavras de ordem
pedindo o fim da corrupção. Como se fosse possível extinguir a corrupção sem
extinguir a própria raça humana. Aos ingênuos que esperavam votar num partido
imune à tentação, vai um aviso, imune só está o partido sem acesso ao poder.
Na história do mundo, grandes e poucos homens morreram sem
mácula em sua reputação. Na história recente do Brasil, é preciso ter peito pra
deixar a polícia vasculhar. Não é qualquer presidente que tem a audácia de
dizer “quem não deve não teme”. Não votei nas últimas eleições. Não aprecio
vários pontos de seu governo, mas verdade seja dita, até agora, a Dilma pode.