sexta-feira, 22 de abril de 2005

Pense e dance

Arthur Schopenhauer (1788-1860), filósofo polonês pessimista em sua visão do mundo, considerou ser a vontade a última e mais fundamental força da natureza, que se manifesta em cada ser no sentido da sua total realização e sobrevivência.

Schopenhauer foi o primeiro na modernidade a eleger, como centro do conhecimento humano, a música e a arte como um todo.

O cara influenciou uma pá de gente na literatura mundial no século XIX; o povinho das artes gostava dele, mas os catedráticos e acadêmicos, não.

Trocando em miúdos, o pensador, assim como nós que lemos este texto, acreditava que diversão não é sinônimo de alienação. Alguém já deve ter percebido que os programas sugeridos nos cinco meses desta coluna têm 99% de informação transmitida através da arte.

Essa informação entra pelos olhos e ouvidos, invade o cérebro e mostra a que veio na postura e na atitude que assumimos no dia-a-dia. É por isso que costuma-se atribuir ações estúpidas a pessoas de baixo nível cultural. É fácil apontar o dedo pra um e pra outro na hora de discutir a violência urbana. O que poucos percebem é que quando se aponta um dedo para alguém, há 3 dedos voltados pra si mesmo e 1 pro alto...

Isso significa que se você recua, deixa alguém avançar. Se deixa de sair com medo, o medo avança e te pega dentro de casa. Deixou de se divertir, de viver e de se informar sobre o que rola fora da órbita que gira em torno do próprio umbigo e o medo está instalado dentro de casa e da mente.

Se os de bem se calam, os do mal se manifestam e, provavelmente, serão ouvidos e, fatalmente, obedecidos. Porque é sempre mais difícil fazer o bem do que o mal. É o que vemos todos os dias em todos os lugares. Recuamos. Quer ver?

Viramos o rosto pra janela, fingimos que dormimos pra fingir que não notamos a vovó ou a grávida ali se equilibrando pra resistir à força da inércia potencializada por um motorista de ônibus maluco.

Jogamos comida fora, comemos mais do que nosso corpo precisa e comporta, compramos mais roupas do que precisamos e fingimos que não vemos a população de rua aumentando a cada dia.

Vamos a um show e alguém tenta, assim como quem não quer nada, passar na frente das pessoas que chegaram mais cedo e por isso estão na frente da fila. Quando for assim, é melhor nem tentar entrar porque, dependendo do artista que vai se apresentar, a pessoa nem vai entender a mensagem.

A atitude assumida por quem freqüenta bons programas não é daquelas que se “compra” na MTV, a grande botique artística dos últimos tempos. Daquelas que mudam a cada novo melhor artista da temporada. É uma atitude construída aos poucos a cada cd da Hemp Family que soa como um tapa na orelha. A cada som de Pernambuco, leia-se Orquestra Manguefônica, que cai no cérebro como um soco no estômago.

A atitude que nasce dessas fontes te fazem ter vontade de voltar às raízes, de respeitar o cara do lado, de rir do que for engraçado, mas não te impedem de se zangar com o desembargador, que provavelmente não anda de ônibus porque seu bolso deve estar cheio demais pra passar na roleta e evitou que as passagens de ônibus voltassem ao preço anterior ao aumento. Mas nem por isso, vai te fazer sair por aí colocando fogo em índios, arranjando briga em boates, furando filas, jogando lixo pela janela do carro ou do ônibus, deixando de ligar no dia seguinte... é tudo uma coisa só.

Aproveite pra se divertir e refletir um pouco sobre as coisas que são vistas por aí e que passam despercebidas. Sugestões de hoje:

Nos cinemas, "A família da noiva" (uma maneira engraçada de falar da ainda-hoje-real-no-Brasil difícil de encarar união interracial), "Be cool" (piadinha sobre o rabo preso, o submundo e os bastidores da mascarada indústria fonográfica americana), "Cabra cega" & "Quase dois irmãos" (aula de história do Brasil na telona, para cair a ficha do que contribuiu muito para o caos e a neura urbana que nos circunda).

Exposição com 500 desenhos originais do genial Henfil. Andy Warhol, no MAM. Última semana de "No retrovisor", de Marcelo Rubens Paiva, no Sérgio Porto até 24 de abril. "Vamos ao que interessa", monólogo do divertido Hamilton Vaz Pereira, no Sesc Copacabana; "Os negros" , de Jean Genet, no CCBB; "A caminho de casa", na Fundição Progresso.

SÁBADO:
Uma das melhores bandas cariocas dos 90’s, Djangos, apresenta show acústico na loja Outside, na Dias da Cruz, 143/205, sáb. às 16 horas.

Juntando informação de melhor qualidade, uma sonzeira classe A e o skate da galera do 021, Black Alien sobe ao palco do Circo Voador em mais uma edição do Hip Hop Voador, no sábado à noite. Coisa rara: boa atração e ingressos a preços justos.

DOMINGO:
Super moshfest: The Darma Lóvers (rock gaúcho + “psicodelia budista”), Dado Villa-Lobos, Moreno+2, Supercordas, Lasciva Lula, Nervoso. Teatro Odysseia, domingo, às 19h30.

QUARTA-FEIRA:
Imperdível: Vivo open air – LOS SEBOZOS POSTIZOS

SEXTA-FEIRA:
Caro, porém necessário: Placebo

SUGESTÃO DE SITE. Não é uma cerveja antes do almoço, mas é muito bom pra ficar pensando melhor: http://curb.criattiva.com.br/#

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