quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Tatuagem na nuca

Cansados de responder sempre as mesmas perguntas, os integrantes da mineira PATO FU ficaram exímios em inventar novas respostas para a origem do nome da banda. Uma das mais divertidas remete ao dia em que assistiam, no programa GLOBO RURAL, a uma matéria sobre criação de patos. E, justamente na hora em que o entrevistado ia contar um causo sobre a fuga de um deles, uma interrupção no fornecimento de energia deixou os espectadores com a frase pela metade e muita curiosidade: “O pato fu...”.

Inspirada na criatividade dos mineiros, mas não tão competente quanto eles, resolvi criar diversas explicações para a tatuagem que há anos habita minha nuca. Um átomo? O símbolo da energia nuclear? Uma flor? Uma nova seita? Um sol? Já ouvi todo tipo de pergunta. Até “que ‘S’ é esse aí no meio?”, daqueles que esqueciam meu nome. Desse modo, para cada pergunta uma nova e pirada historinha surgia. Algumas prontamente aceitas, outras de digestão mais difícil, dependendo da expressão facial da autora.

Pois bem, chegou a hora da grande verdade. Simplesmente, uma professora de biologia me colocou contra a parede como nenhum outro professor de química conseguira e resolveu tirar a limpo que história é essa da professora de inglês se apropriar de um ícone da disciplina alheia: um átomo com a letra “s” em seu núcleo.

Tudo começou quando, muito tempo atrás, na leitura dominical do evangelho kardecista, ouvi alguém dizer que tudo que existe está em movimento. Tudo? Tudo! Um movimento sutil, imperceptível ao olho nu. O movimento dos elétrons de um átomo combinados com os de outro átomo e de outro e de outro... Desconectei minha atenção da palestra e fiquei dias e dias pensando, muito impressionada, naquilo. Nunca tinha me dado conta do fato. Mas fazia todo sentido do mundo. Tudo está em movimento, tudo está vivo. No fundo, seres inanimados não existem.

Fechava os olhos e imaginava os átomos se ligando uns aos outros, suas conexões, seus elos como beijos. Átomos diferentes se unindo, formando novas moléculas, sementes de novos projetos, coisas, seres. Brincava de fixar os olhos em algum objeto e deixar minha imaginação voar por dentro da estrutura de sua matéria, até chegar nele novamente, o átomo. A verdadeira matéria-prima. A unidade física de onde tudo e todos viemos, o que faz de nós farinha do mesmíssimo saco. Preto ou branco, rico ou pobre. Diferentes na forma e iguais na estrutura, como os átomos.

Na tabela periódica, há apenas 107 elementos, os nomes e as características dos sujeitos, dos 107 caras que andam se misturando por aí para dar conta de fazer absolutamente tudo o que vemos, tocamos e sentimos. E até do que nem percebemos. Pela maneira como tudo foi bem organizado, partindo do átomo, não parece tão difícil de conceber que tudo pode ser destruído por uma explosão atômica. A complexa simplicidade como tudo foi orquestrado parece nos querer mostrar que é tudo brincadeira. Que o que realmente importa não está no que do átomo pode surgir. A fragilidade das ligações que formam tudo o que há e o milagre de ainda estarem todos os átomos ligados uns aos outros me faz prender a respiração e perder o sono.

E se quem inventou esse “mega lego” resolver puxar a tomada do mundo e desconectar as ligações dos 107 tipos de átomos que existem? O que vai sobrar? O elemento representado pelo desenho que adorna minha nuca, sem dúvida alguma.

A ilustração desta coluna foi retirada do site www.ethereal.org/digitalart/atom/atom.jpg

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