segunda-feira, 8 de junho de 2009

Niggers of the World

"Fale mal de mim
Fale o que quiser de mim
Mas, por favor, não deixe que em nenhum momento
Eu deixe de estar no seu pensamento...
Isso até que veio bem a calhar
Eu estava precisando de alguém para me divulgar...
Fale mal de mim
Fale o que quiser de mim
Porque todo mundo que te conhece
Sabe que é isso que você merece"

("Fale mal de mim", Autoramas)


Em 1972, John Lennon lançou seu terceiro disco após a separação dos Beatles. O nome do álbum era "Some time in New York City". Ele e Yoko haviam se mudado para a cidade um ano antes. E a música "Woman is the nigger of the world" abria este que foi seu álbum mais politizado.

Há 37 anos, a música de Lennon mostrava sem sutilezas como as mulheres eram escravizadas, subjugadas, inferiorizadas, humilhadas e subestimadas. Assim como os negros ou, talvez, pior. Segundo Lennon, os próprios homens eram os responsáveis por essa misoginia. Homens em casa, no trabalho, na mídia.

Homens lutam entre si por grana, brigam uns com os outros pelo time de futebol, combatem um semelhante pelo cargo, guerreiam por poder. Nem que seja pelo poder de comandar o controle remoto em casa. Mas se defendem, se amparam e se acobertam quando o assunto é mulher. Eles são unidos.

Quase 40 anos depois, as coisas mudaram pouco. Agora as mulheres estão escravas de suas jornadas duplas ou triplas. A mídia dita regras ridículas de como se vestir, se despir e se pintar para atrair o macho ideal. As mulheres continuam ganhando menos para realizar as mesmas funções que os homens. E, para piorar um pouco mais, passaram a ser discriminadas pelo RH de algumas empresas por estarem em idade potencialmente fértil.

Consideradas na Idade Média como agentes de Satã, elas continuam expostas nos jornais e revistas masculinas como pedaços de carne no açougue. Ainda há quem nos consiga fazer crer que, sem "sensualidade", não nos sobra muito a fazer. E continuamos tirando a roupa por medo de perder aquilo ou aqueles de quem não precisamos.

Entretanto, essa situação foi superada por muitas mulheres. Várias já deram a volta por cima e conseguem lidar com o sexo oposto sem se deixar escravizar, subjugar e, algumas, sem se abater. Hoje é até possível encontrar, aqui e ali, homens reclamando da tal independência feminina.

Porém, infelizmente, há ainda, e em grande quantidade, o pior dos golpes. O mais baixo. O de mulheres contra mulheres. Golpes que não são por cargo, por poder, por time de futebol e, muitas vezes, nem por outro homem. São por pura insegurança, por inveja e até por maldade. Uma mulher pode ser capaz de maldizer e difamar outra pelo simples fato de não ser como ela.

Outro dia, revi um vídeo em que Chico Buarque admitia sua mais completa ignorância sobre o universo feminino diante da capacidade de algumas mulheres em fazer coisas, para ele, horríveis. Contudo, segundo o poeta, por mais incompreensível que possa parecer uma ação feminina, sempre há uma razão por trás dela. Certamente, não há nada de ignorante nas palavras de Chico.

Mas, se há algo incompreensível nas mulheres, não é uma atitude "horrível", nem a razão que a leva a cometê-la. Incompreensível é que uma mulher seja forte o bastante para vencer obstáculos intransponíveis, superar doenças gravíssimas, cuidar de uma família inteira, dar à luz uma pessoa, provar-se capaz, apesar de subjugada, e não consiga vencer uma incapacidade boba de admitir não ser perfeita em setores ou habilidades em que outras mulheres são.

A dificuldade em dizer "Ok, o bolo de fubá da Dona Maria do 302 é melhor que o meu, mas o meu bolo de laranja também é muito bom" não reside apenas em admitir a possibilidade de não ser a melhor em alguma coisa. Também não está apenas em admitir que a Maria do 302 é capaz de fazer algo melhor do que eu. A grande dificuldade pode estar em parar de olhar o bolo da vizinha com inveja e prestar mais atenção em si mesma para aprender a valorizar as próprias habilidades e, principalmente, para tentar superar suas limitações.

É inadmissível que, em pleno século XXI, depois de terem conseguido ocupar posições de destaque em governos, universidades, corporações, na sociedade como um todo, as mulheres continuem se agredindo moral, profissional ou fisicamente pelas razões mais pífias.

A grama da vizinha só é mais verde quando se perde tempo fuçando a grama alheia ao invés de cuidar da própria. Você pode até dizer que eu sou uma sonhadora, mas ainda acredito no dia em que as mulheres vão surpreender os poetas por se superarem com atitudes cada vez mais maravilhosas e menos vergonhosas. Mulheres do mundo, acordem! Respeitem-se!



A ilustração foi retirada de http://www.ruadireita.com/info/img/espelho-meu-sou-a-mais-bela.jpg

4 comentários:

Flávia Guilherme disse...

Eu, felizmente, consigo enxergar como devo tratar as pessoas. Principalmente as minhas semelhantes.
O que é meu, é meu.
O que é seu, é seu.
E eu jamais posso querer o que é seu. E por esse motivo respeitá-la...

Unknown disse...

Putz, e ainda admitir que elas são melhores. Não há nem disputa. Até no erro, são melhores. Fiquei emocionado de pensar nas minhas mulheres. Pô, sou macho e emoção é para elas. Valeu, é sempre bom lembrar.

Robertobaz disse...

"Mulher é bicho esquisito..."

TS disse...

Desculpe o atraso, ainda estou a tempo.
Concordo contigo, Sara, mas já vejo mta mudança, até no interior; o que tem de "pai-solteiro" que cria o filho c/ ajuda da própria família, s/ a mãe, não importa o motivo: ou por que estuda/trabalha fora, ou por não ter condição, e o casalzinho não quer se unir por causa do rebento.
Mas o q ainda percebo é que a mulherada não é solidária como os homens. As mulheres provaram q são capazes em todas as áreas ditas "masculinas" e não conseguem superar fraquezas: a questão não é querer o que a outra tem, é querer ser a outra, e, quase sp, há reciprocidade, o que vem tornar a coisa patética, infantil.
Boa semana pra ti.
nota: Yoko Ono despertou ódios até nos rapazes!