sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ENCURRALADA



Hoje é dia 09 do 09 de 2009. Enquanto alguns voltam sua imaginação para fantasias místicas, assisto a um programa sobre os 45 anos do golpe de 64. (E por falar em coincidências numéricas, a soma dos algarismos de 45 é...) Fala-se que o dia de hoje seria uma data propícia para revoluções e grandes mudanças.

Lembrei imediatamente da manifestação dos meus colegas de trabalho ontem, em frente à Assembleia Legislativa, que culminou no confronto entre colegas de dureza, funcionários públicos estaduais: professores e policiais.

É praticamente certo que a alguns metros da manifestação algum pivete (que deveria, poderia e precisaria estar dentro de uma sala de aula) estivesse fazendo “algum ganho” livremente, pois quem deveria estar se (pre)ocupando com a segurança estava, na verdade, batendo nos grandes malfeitores da sociedade atual, os professores, essa raça de vagabundos.

No entanto, a manifestação ocorreu um dia antes do portal da transformação se abrir. E, segundo o Mestre dos Magos, agora o Vingador já conta com a maioria dos deputados estaduais para aprovação do aumento parcelado em seis anos para a categoria. O Vingador, filho de professora, está mais preocupado com os lucrativos royalties advindos do pré-sal.

Afinal, a educação dos outros que se lixe, pois garantir o próprio futuro é muito mais importante. O desenvolvimento do país que se lixe, pois a retenção local dos lucros provenientes dos tais royalties garantiria orçamento para obras faraônicas e superfaturadas que cristalizarão sua reputação como o grande governador que não consegue atrair investimentos para o estado, nem oferecer educação, segurança e saúde de qualidade para o povo sem que uma câmera de tv esteja ligada por perto.

Vale lembrar, Vingador, que a descoberta do petróleo na camada submarina foi conquista de uma empresa estatal federal e não estadual. Até porque o orçamento destinado para pesquisa nas universidades estaduais não permitiria sequer a pesquisa da camada subcutânea, o que dirá da submarina.

Assim como nas manifestações que ocorriam na época da revolução, alguns apanharam, a justiça não será feita, não haverá união sequer entre os que seriam beneficiados pelas mudanças propostas e, pior, tudo cairá no esquecimento. Pelo menos, nas mentes entorpecidas dos telespectadores guiados e enebriados pela ditadura midiática de agora.

Em 1964, lembro-me bem, aguardava na fila do chocolate quente, no refeitório da colônia com meus colegas anjinhos, a oportunidade de voltar à Terra. O que só viria a acontecer 11 anos depois.

Nem por isso deixei de conhecer os nomes importantes da época de ambos os lados da questão. Quem entrou para a história e quem foi expulso dela. Quem já rondava o poder nos confins e conseguiu manter a tão sonhada “governabilidade” até hoje. Quem se aproveitou da história e quem ainda se apropria dela, apesar de fazer o contrário do que pregava na época. Estes são muitos...

Da fila do chocolate quente, espiava tudo que se passava aqui embaixo. Ficava doida para descer para “dar uma força”, mas ainda não era a minha hora. Quando desci, aprendi tudo na escola. Quando cresci, fui para frente da sala de aula. Lá encontro alunos mais velhos do que eu, que viveram aquela época, mas não sabem o que se passou. Têm pena dos professores, mas querem que a aula acabe logo para ver os últimos capítulos da novela sobre um país distante.

Em contrapartida, os mais jovens não parecem ter por que lutar. Com um talão de 24 prestações podem comprar um eletrodoméstico, um computador, um game de última geração no Brasil. Com um talão de 72 folhas podem até comprar um automóvel para estacionar na calçada em frente de casa. Mesmo que algumas contas fiquem para trás vez ou outra, o conforto da família está garantido.

Não parecem ter por que lutar. Hoje podemos dizer o que quisermos na Internet, mas nos noticiários e demais programas de TV, o monólogo impera. Na seção de cartas dos leitores nos jornais e nos programas de rádio, a voz do povo é a voz de Deus desde que editada.

O ideal de justiça social ou de uma sociedade mais igualitária agora é chamado de utopia socialista e vai desaparecendo na distância. Graças aos próprios governos que empregaram mal esse regime. Graças a um massacre publicitário que durante décadas vem se encarregando da lavagem cerebral, verdadeiro “genocídio” de sonhos de um mundo mais justo.

A falência do sistema capitalista, cujos indícios foram verificados nas últimas crises econômicas mundiais, aponta para ideias surgidas em países que vêm tentando através da social democracia (ou algo levemente parecido com isso) proteger o sistema financeiro sem sacrificar a população (ver filme “SICKO”, de Michael Moore). Ideias estas que indicam a perda de importância do dinheiro em detrimento da qualidade de vida. É justamente neste ponto que os questionamentos voltam a acontecer.

O mesmo ocorre comigo. Há alguns anos, decidi conduzir minha vida rumo à tal qualidade de vida, abdicando do lucro. Escolhi minha profissão e a sigo com dedicação praticamente exclusiva, apesar da baixa remuneração. Porém, em um momento de efervescência como lembrou-me os da revolução, ao invés de arregaçar as mangas, me vejo encurralada pensando nas contas para pagar e no ponto que será cortado se aderir à greve.

Estamos livres da ditadura militar, mas estamos presos em uma cadeia invisível chamada poder econômico. O dia acabou e não consegui atravessar o portal. Notei que minha liberdade de escolha esbarra em um muro invisível que começa em um capataz, o funcionário subalterno que cumpre ordens e vigia o “gado” para que ninguém se rebele. Mas não consigo ver onde o tal muro termina.

Contudo, penso que o fim de todo o muro é a queda. Se na Alemanha ele caiu, no Brasil, ele um dia há de cair também. E saio por aí assobiando Beatles como uma desculpa para minha covardia.
“You say you want a revolution
Well, you know
We all want to change the world
You tell me that it's evolution
Well, you know
We all want to change the world
But when you talk about destruction
Don't you know that you can count me out
Don't you know it's gonna be all right
all right, all right”
(Beatles, “Revolution”)
Fotos retiradas dos sites www.cgtb.org.br e www.rnw.nl, respectivamente; ambas retratam manifestações ocorridas na década de 60.

2 comentários:

Alcivia disse...

Seur,
Todos nós, professores e acima de tudo cidadãos brasileiros,que ainda têm alguma consciência, deveríamos nos mexer.
Mas as responsabilidades que assumimos ao longo da vida, o medo pelo que possam fazer a nossos filhos e a nós mesmos (como já vimos ser feito) nos freiam, nos travam.
Sou covarde e fraca, não tenho força pra me empenhar numa luta que acredito não provocaria grandes mudanças, sem que muito sangue fosse derramado.
Minha opção foi apelar para o silêncio, não voto mais, prefiro pagar uma multa a depositar minha confiança em que demonstra constantemente não ser merecedor de crédito.
Posso estar cometendo um grave equívoco, mas foi a forma que encontrei de manifestar o meu protesto.

Obs: A cada dia que passa sou mais tua fã. Fazer crítica político-social de uma forma tão bonita, sutil e comovente, é coisa de artista.

Je t'aime!!!!!

Arinho disse...

Concordo com a amiga anterior, Sara tem uma sutileza única...
Sara, vc sabe que sou micro empresário, tento trabalhar dentro da mais infantil justiça, mas nesses 15 anos de exercício tive muitos dissabores achando que estava fazendo "justiça". Tudo por causa da falta de um professor na vida das pessoas que tenho de administrar e essa alienação perante a TV e a religião. Sonhava eu com uma empresa perfeita, com todos tirando o melhor proveito possível dela, ledo engano. Me tornei o velho e bom empresário que só visa o lucro, não tão selvagem, calma....rsrs
Não me abstenho de votar, ainda vejo gente querendo fazer o certo. Masssss, não confio em ninguém.
Os que estão no poder sabem que dar educação ao povo é tirar-lhes do poder, mas fazer demagogia com o pré- sal e com olimpíadas é o que eles melhor sabem fazer, justo pelos motivos que você citou.
Minha luta é fazer o que acredito, sendo politicamente correto sem passar por cima do direito de ninguém, tenho o conforto do meu carro mas não estaciono na calçada alheia, mas também não pago flanelinhas que se dizem donos das ruas. Meu carro polui ??? sim, mas não tenho uma carro elétrico a disposição no mercado pra comprar, com um preço justo lógico.
Certa vez fui abordado na praia do Flamengo pelo cabo eleitoral da filha do Garotinho, tentaram me induzir a assinar um projeto sem mesmo sequer eu ler sobre, e nessa vai vários incautos. Me propus a ler sobre no site e fazer uma assinatura virtual, não o fiz, somente pelo nome que ela carrega, preconceito? talvez, mas vocês acham que ela começou na política com o pensamento contrário do pai? O de fazer a coisa certa... duvido muito.
Vou parar aqui, senão me estendo demais. Tenho revolta, desânimo, um misto de sentimentos, mas ainda tenho esperança.
Mas uma coisa mais tenho de dizer, uma revolução moderna não se faz com armas e luta, mas com educação.
Viva os professores, que transmitem o bem mais precioso de uma pessoa, que não pode ser tomado somente compartilhado, o conhecimento.

Grande Beijo Sara