Faz pouco tempo, ganhei um atlas ilustrado da América do Sul publicado pela National Geografic. Recheada com fotos convidativas, a publicação rendeu a brilhante idéia de me meter numa aventura pela Guiana Francesa com o intuito de fazer um curso de imersão na língua local. Fui veementemente desencorajada pela minha então professora de francês que me esclareceu serem os brasileiros muito mal vistos por lá. Registrei.
Foi por isso que, com menos surpresa do que tristeza, vi um grupo de parrudos surinameses (vizinhos da tal Guiana) dizerem em frente às câmeras da equipe de reportagem da Band, com toda clareza possível, que brasileiros não são mais bem-vindos por lá. Para não restar qualquer dúvida, dias antes da reportagem, brasileiros foram atacados e expulsos de Albina, cidade daquele país, a golpes de paulada e facão.
Os nativos enfatizaram o interesse desmesurado dos garimpeiros e prostitutas brasileiros como o estopim para a revolta na noite de natal. O homem morto por um garimpeiro brasileiro, após uma discussão em um bar naquela noite, não teria sido o primeiro. Além dele, dias antes, um taxista e um casal, cuja mulher estava grávida, foram outras vítimas da ganância verde e amarela. “Brasileiros resolvem as discussões na bala”, disseram eles.
Entre o grupo de surinameses revoltados em frente às câmeras, o que parecia ser o líder disse não haver restrições à presença de estrangeiros, desde que estes se adaptem aos costumes locais. Esta parece ser a chave da questão.
Todos sabemos que brasileiros estão por toda parte. E todos conhecemos o caráter, digamos, “expansivo” do nosso povo. O que alguns chamam de um povo alegre, para outros é um povo espaçoso. Característica que tem pontos positivos e negativos.
Entre os positivos, o temperamento extrovertido dos nossos representantes no estrangeiro acaba por divulgar e abrir portas para o interesse de outros povos pela nossa cultura e criatividade. Bons exemplos disso são a capoeira, a música, a moda brasileira já bastante apreciadas além-mar.
Entre os negativos, o temperamento extrovertido dos nossos representantes lá fora que querem brincar quando a chapa está quente ou que ainda insistem em dar um “jeitinho” como se cá ainda estivessem. A bendita malandragem tupiniquim, a mania de querer levar vantagem em tudo, que nós brasileiros queremos impor dentro e fora das linhas de fronteira nacional.
Sinto calafrios ao tomar conhecimento de novas levas de iludidos que arrumam as malas e pagam com todas as suas economias pela chance de tentar a vida no exterior. Sinto pena por pensarem que a vida que levarão lá será muito melhor recompensada do que a que levam por aqui. Em raras exceções, isso acontece. Que fique bem claro, na grande maioria das vezes, se dá bem no exterior e ganha muito dinheiro quem já tinha dinheiro aqui.
E pior do que calafrios e pena, sinto vergonha de ver brasileiros bem preparados, que poderiam estar batalhando por um país melhor aqui, aceitarem subempregos no exterior. Sinto vergonha de ver brasileiros presos lá fora, seja por clandestinidade ou má conduta.
Acho feio quando compatriotas que tinham tudo para dar certo por lá, jogam fora a chance e se envolvem em escândalos. É horrível ter a nação representada por mulheres trapaceiras que acham que vão contar uma história de novela e todo mundo vai acreditar. Ou acessar um jornal estrangeiro e ver estampadas histórias de religiosos que querem explorar a fé alheia em outros países.
Para constatar este caráter “espaçoso” do brasileiro, não é preciso viajar para o exterior. Nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro, é fácil notar que a chegada de contingentes absurdos de migrantes que impõem na marra seus diferentes estilos de vida em detrimento do padrão de comportamento local, vem transformando a cidade maravilhosa em uma terra de ninguém, onde cada um faz o que quer.
Encerrei o ano de 2009 lendo as “Confissões” de Darcy Ribeiro. Este estudioso que mergulhou tão fundo nas raízes das nações latino americanas tinha uma fé inabalável no nosso povo. Admiro e concordo com quase tudo que li, mas esta fé não consigo sentir.
Vejo nas três vertentes que ele cita como formadoras de nosso povo – o europeu, o índio e o negro –, respectivamente, os degredados de péssimo caráter; a ingenuidade solícita e pacífica; e a revolta indignada de quem é roubado de sua terra natal. Uma mistura que adicionada à má formação escolar e acadêmica dificilmente poderá render os frutos que o querido antropólogo sonhou.
Recentemente, em um almoço entre amigas, uma delas comentou que a ideia de que dinheiro não traz felicidade é “coisa de pobre”. Mas ao ver os brasileiros resgatados do Suriname, observei que não havia ricos entre eles. Por outro lado, não são pobres os gananciosos políticos que vemos diariamente nas manchetes de jornais atolados até o pescoço de denúncias.
Ao comparar certos (maus) costumes do nosso povo – pobres e ricos – com os representantes escolhidos por ele para as cadeiras do executivo e do legislativo, só nos resta lamentar. A ganância não é só coisa de ricos. Quem dera, amiga. Quem dera!
Trilha sonora sugerida:
.R.E.M., “Stand”.
.Titãs, “Lugar nenhum”
.Paralamas do Sucesso, "Melô do marinheiro"