sábado, 6 de fevereiro de 2010

Carteira de estudante, quem não quer?

Na última vez em que fui ao cinema (para ver Jude, claro! rsrsrs), fiquei chocada com a quantidade de gente no shopping center. Os seguranças do local também estavam atônitos. Do lado de fora, o calor senegalês a que os cariocas têm sobrevivido provavelmente era a razão da multidão fora de época. Afinal, não se tratava de natal, dia das mães, dos pais, nem de coisa nenhuma. Era uma quarta-feira como outra qualquer, mas aquele era um dos poucos locais frescos acessíveis na região.

Subi todos os andares do tal shopping e ao chegar ao cinema no último pavimento, quase caí durinha. O hall conseguia estar mais lotado do que as praças de alimentação. Seria horário de promoção? Desconto no preço do ingresso? Não! Estariam dando doce? Também não!

Então, olhando a garotada toda em volta, lembrei da carteira de estudante. Quando eu estudava (nem faz tanto tempo assim, coisa de décadas apenas...), não havia a tal carteira e ia ao cinema 2 vezes por ano talvez. Talvez, menos. Mais do que isso, não creio.

Já estava no segundo grau, em 1990, quando soube de um convênio do governo do estado com o Teatro Municipal, me inscrevi e passei a infernizar a vida da inspetora da escola para ser “sorteada”. Seria uma grande oportunidade de assistir ao “Lago dos Cisnes” no então inacessível teatro.

Lembro do leve tremor nas pernas ao entrar, o suor frio nas mãos e de ouvir com muita atenção as recomendações da orientadora pedagógica que acompanhou os alunos sobre o espetáculo e sobre como devíamos nos comportar em um ambiente como aquele. Até hoje, ao entrar em determinados locais, recordo aquelas orientações. Ainda são de grande valia.

Mas o meu evento cultural favorito é e sempre foi show de rock, de preferência ao ar livre. Naqueles tempos, eu e meu irmão já ficávamos à espreita em outubro e novembro, ansiosos para a divulgação das atrações dos festivais de verão “Alternativa Nativa”, “Coke in Concert”, “Rock in Rio”, “Hollywood Rock”... A lista das atrações definiria nossos pedidos de natal e aniversário. E era isso mesmo, um só presente para as duas datas.

Podíamos pedir bens duráveis (desde que baratos), presentes que poderíamos usar, ouvir ou ler para o resto de nossas vidas, mas trocávamos o concreto, o palpável por horas de diversão efêmeras. O argumento da época me serve até hoje quando invisto algum trocado em viagens ao invés de modernos computadores, móveis, tvs sofisticadas, etc. “Um disco pode quebrar, arranhar; um livro pode despencar, molhar, queimar; posso perder estas coisas. Do show [ou da viagem] nunca vou esquecer.”

Reconheço o tremendo esforço que meus pais faziam para garantir uniforme, material, passagem, comida para os três filhos que ainda não trabalhavam. Mas pedir grana para shows, cinemas, futebol, discos, videolocadora etc., aos nossos olhos parecia coisa pouca e, ainda assim, éramos comedidos.

De tempos para cá, o governo fornece a camisa do uniforme, a passagem, o material e ainda há a bendita carteira de estudante. Hoje em TODOS os eventos que vou, vejo a molecada usar suas carteirinhas para pagar seus ingressos.

Na prática, estão sendo iludidos, pois o advento da carteira foi concomitante ao aumento dos preços dos ingressos em 100%. Assim, quem não tem carteira paga o dobro. E os estudantes não pagam meia coisa nenhuma.

Apesar disto, muito mais gente frequenta os eventos culturais. Muito mais artistas vêm se apresentar no Brasil. Há muito mais peças de teatro em cartaz e por muito mais tempo do que antigamente. Há público para todos (apesar do teatro no Rio estar restrito ao centro e maciçamente à Zona Sul).

Ainda assim, há quem reclame da carteira de estudante. Mas é gente que quer enriquecer explorando o público. Gente que prefere não vender o limão, a vender o limão pelo preço justo fingindo que está vendendo meia.

Ouço diariamente um programa de humor e futebol em que um dos integrantes faz com frequência discursos contra as carteiras de estudante. Já pensei em parar de ouvir o tal programa, mas seria uma injustiça deixar que um idiota me fizesse abrir mão das gargalhadas diárias.

A questão é que o Zé Mané foi, na década de 1980, líder de uma daquelas “one hit bands” e até hoje ele faz show usando a mesma música para chamar público. Provavelmente, ele deve associar seu pouco público à carteira de estudante e não à chatice do seu trabalho, mesmo tendo um dvd premiado sabe-se Deus com quais critérios.

Não por coincidência, a mesma “pessoa” usa o espaço do programa para discorrer (no mau sentido) sobre governos que, segundo ele, são “populistas” por terem criado benefícios para os trabalhadores em detrimento da elite.

O pobrezinho repete sem perceber a mesma falácia dos governos ditatoriais a que fomos submetidos nas décadas de 1960 e 70. Foi vítima de uma lavagem cerebral. Os demais participantes do programa precisam de dose extra de jogo de cintura para devolver o bom ânimo ao programa depois de tão infelizes digressões.

Mas voltando à carteirinha, fico pensando em tudo o que eu poderia ter feito “no meu tempo” se tivesse uma carteira desta. Afinal, só assisti à primeira peça de teatro quando já estava trabalhando. Tantos shows, tantos filmes aos quais poderia ter assistido sem sacrificar o orçamento da família...

Para economizar, meus irmãos iam ao Maracanã na geral. Hoje, sem geral e com ingressos a preços violentos, como seria se ainda fossem estudantes “descarteirados”? Agora que trabalho, faço contas para saber se vai dar para ir ao show do New Oder (anos atrás) ou do Coldplay (daqui a alguns dias) e depois de tirar daqui, puxar dali, desisto e fico em casa imaginando como deve ter sido. Até me ocorreu voltar a estudar, mas a grana ficaria ainda mais curta. Ah, se eu tivesse nascido mais tarde...

Trilha sonora sugerida: "Esse tal de roquenrol" c/ Rita Lee!

4 comentários:

Alcivia disse...

Seur,

COMO SEMPRE SENSACIONAL!!!!!!!!!!

Bjs

Anônimo disse...

Eu acho que também irei querer tive uma verdinha esquisita, nào durou 1 ano e nào fui a nehum show com ela, que pena...
Adorei o texto,
Beijão,
Celso.

Arinho disse...

Não entendi bem, vc é contra ou a favor da carteirinha ?
no início parecia que vc havia feito uma crítica e no fim vc dá apoio....
e tbm não sabia que não gosta do Toni Platão....rsrsrs

sara disse...

já que os ingressos estão cada vez mais caros e o salário cada vez mais curto, eu sou a favor!
Gostaria de ter uma.
É, acho esse cara um chato!