sábado, 14 de agosto de 2010

Utilidade Pública em números

De pé na fila, com um sapato e um casaco na mão, finalmente chegara sua vez. O caixa oferece: “O valor de R$ 150,00 pode ser parcelado em até oito vezes”. Apesar da quantia disponível no banco, a oferta é aceita. Quando chega a primeira fatura, a surpresa: juros! “Aquela filha da pxtx no caixa não falou nada sobre juros!” No dia seguinte, nova fila. Ufa, conta paga. Os R$ 150,00 foram pagos integralmente. Nove meses depois, nova surpresa: “O quê? Estão me cobrando os juros?” “É, senhora, primeiro a senhora deve estar pagando, então a senhora pode estar reclamando...” Depois de muita discussão, o socorro veio pelo número 08002852121 e pelo e-mail defesadoconsumidor@camara.rj.gov.br. A Dra. Anísia foi a empenhada servidora da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro que lutou contra a C&A e resolveu a questão: suspensão das cobranças e devolução da quantia paga indevidamente.

Depois de doze anos de uso, a máquina de lavar morreu. Dois meses lavando roupa na mão até que finalmente todo o dinheiro necessário fosse economizado para a compra de uma nova Eletrolux. Uma semana depois de o dinheiro ter saído da conta, chega a máquina. Já nas primeiras lavagens, a decepção: mesmo limpando o filtro no final de cada utilização, as roupas saem cobertas de fiapos! Dez dias depois, a máquina devolve a roupa com pedaços de uma peça que se partira durante a lavagem. O serviço autorizado agenda a visita de acordo com a disponibilidade do técnico, claro, no melhor estilo “é pegar ou largar”. Desmarcam-se todos os compromissos, inclusive os profissionais, para aguardar a tão esperada visita. O carteiro bate. O síndico bate. A testemunha de Jeová bate. O dia acaba e nem sinal do técnico! Na autorizada: “Ué? Ligamos para seu telefone e não tinha ninguém em casa!” Depois de muitos marimbondos cuspidos via Embratel, foram feitos novos agendamentos. Um mês e várias reclamações no SAC da empresa depois, nada havia sido resolvido. Desta vez, o socorro veio pelo site http://oglobo.globo.com/servicos/defesa_consumidor/defesa_consumidor_1.asp da Defesa do Consumidor do Jornal O Globo. E sob a ameaça de publicação da carta zangada da consumidora no jornal de domingo, em dois dias o técnico substitui a peça em três minutos!

Em uma bela manhã de sol de julho de 2009, o telefone toca e uma funcionária de telemarketing do Banco Cruzeiro do Sul inunda o ar com seus gerundismos desnecessários para oferecer um cartão visa internacional sem anuidade. Para não desconfiar da esmola farta, a cada mês em que houvesse uso do cartão o valor de R$ 15,00 seria descontado em folha sob título de pagamento mínimo. Tudo andava bem até que exatamente um ano depois da proposta feita, os tais descontos em folha passaram a ser ignorados pelo banco e cobrados indevidamente na fatura. “Jesus, será possível que vai começar uma nova briga?” A funcionária gerundista insiste: “Em casos como esse, orientamos o cliente para que esteja enviando por fax ou carta a cópia do seu contracheque e nós estaremos analisando sua reclamação...” “Ah! Então há outros casos como esse! Um ano atrás, quando vocês ligaram implorando para que aceitasse o cartão, não disseram que eu deveria possuir um aparelho de fax! Então, vocês me roubam e eu é que tenho que provar que fui roubado?” Consciente de que no Brasil o cliente nunca tem razão, o consumidor escaldado procura novamente o site do jornal. Na mesma semana, em novo contato com a central de atendimento do cartão, o discurso é outro: “Desculpe, houve um engano, o pagamento deve ser feito com desconto do valor que já foi subtraído da sua folha de pagamento...” E, melhor, sem gerúndios!!!

É preciso brigar, e brigar muito ainda para ser respeitado no Brasil. A compra é uma opção, a reclamação é um direito, mas usar os órgãos de Defesa do Consumidor tornou-se uma obrigação. O consumidor brasileiro hoje é multifunções: pesquisa, escolhe, procura, paga, usa, briga e ainda tem a responsabilidade de educar aqueles que deveriam servi-lo. Os casos relatados referentes às empresas C&A, Eletrolux e Banco Cruzeiro do Sul são verídicos, assim como são verídicos o telefone, o e-mail e o site divulgados neste texto que estão à disposição de todos. Usem e abusem. A guerra está declarada. Vamos à luta que a briga é boa!

3 comentários:

Alcivia disse...

Seur,

Se todos tivessem consciência de seus direitos e paciência para lutar por eles, empresas como as citadas no texto teriam mais cuidado na distribuição de seus produtos e no trato com seus clientes. Vamos brigar mesmo, pois eles merecem e têm que aprender a nos respeitar.

Sivinha

Anônimo disse...

Olha é triste mas infelizmente na maioria das vezes que compramos algo, acaba por se tornar um pesadelo, os manuais não explicam os fones utilidade não dão solução aquilo que se pede e, as prestações vem indevidas. Parecem que fazem de propósito só pra apurrinhar a gente.
Temos de realmente fazer valer os nossos direitos, por menores que sejam.
Celso.

Arinho disse...

Oii Sara...

tive um tempo pra dar uma chegada o seu blog, o que adoro fazer, pra me sentir vivo... pq parece que vivemos num mundo totalmente torto, aonde fazer o errado é o certo...

pensei que só eu tivesse esses perrengues... ledo engano...
por essas e outras que me cansei dessas instituições todas, e o que uso como arma é não usar o serviço de nenhuma delas, o que não dá em certos casos como da máquina de lavar, mas o quanto menos eu faço uso mas me dá uma paz de espírito.
Eu sou empresário vc sabe, e não tenho nada contra o capitalismo, mas vivo numa utopia em que podemos muito bem ganhar nosso dinheiro sem lesar o próximo...

tô com saudades, e vc tem de conhecer nossa pequena, é a coisa mais linda do mundo.... hehehe

Bjs....