segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Ainda estamos vivos!

Sábado à noite. A desconfiança causada pelo festival amador do final de semana anterior ainda era um fantasma a assombrar as expectativas para o encerramento da seqüência de shows que chegaram ao Brasil com uma década de atraso: Pearl Jam, no Sambódromo.

Alegria, emoção, catárse, gozo coletivo. Palavras para explicar o que aconteceu na Praça da Apoteose ontem à noite. Eddie Vedder, Mike MacReady, Stone Gossard, Jeff Ament e Matt Cameron (ex-Soundgarden) subiram ao palco com poucos minutos de atraso e encontraram uma multidão de 40 mil gigantes ainda aquecidos pelo grunge debochado de Mark Arm e seu Mudhoney. Como bem lembrou Vedder, “no lugar onde desfilam escolas de samba, hoje o Rock de Seattle vai desfilar”.

E ganhou “10, nota 10!”. Os senhores do grunge tinham a faca e o queijo na mão, partiram o queijo, se serviram e repartiram com a platéia. Como todo grande show deve ser. Como toda big band deve fazer. E o Pearl Jam no Brasil tem esse status.

“Last exit” deu a partida para uma série de clássicos que um a um eram acompanhados a plenos pulmões pelo público. Nenhum hit foi deixado de fora, entre eles “Do the evolution”, “Alive”, “Once”, “Jeremy”, “Corduroy”, “Dissident”, “Daughter” e “Animal”. Ramones (com “I believe in miracle”) e MC5 (com “Kick out the jams”) foram homenageados, este com a participação dos integrantes do Mudhoney.

Vedder foi o maestro que regeu a multidão de vagalumes e cigarras. Nos tempos modernos, os isqueiros dão lugar às luzes dos celulares nas músicas mais tranqüilas. “Better man” foi apenas um dos momentos em que o público roubou a cena, cantando metade da música para delírio do vocalista. Em “Black”, Vedder sentou-se à frente do palco para assistir à audiência. Depois, desceu para junto do público.

O show não teve um clímax, foi um clímax. O respeito da banda e, especialmente, de Vedder pelo público foi reconhecido. Seja falando português, se cobrindo com a bandeira, colocando-a sobre o peito ou declarando seu amor pelo Brasil e pelo Rio, a banda foi correspondida à altura. O público deu um show à parte, cantando junto, batendo palmas, marcando o ritmo das músicas com gestos, com coro ou pulando.

Ao subir ao palco, Vedder anunciou que aquele seria o último e o melhor show da turnê. A banda fez o esperado: um excelente show. O público foi a grande surpresa da noite. Prometeu voltar, com um mundo melhor sem Bush. Despediu-se, tocando The Who e desejando paz e amor. O Rio precisava disso. Ainda estamos vivos e de alma lavada.

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