O filho do ilustre alvinegro João Saldanha disse
uma vez que filho de botafoguense não escolhe time: nasce botafoguense e
acabou. Deve haver exceções, mas eu faço parte dessa regra.
Ainda era pequena e deitava ao lado do meu pai
com minha cabeça sobre o braço dele estendido, depois do almoço de domingo.
Fazíamos a sesta juntos, ouvindo os jogos pelo rádio de pilha e os comentários
espertos de João. Não sei se foi assim que me tornei botafoguense. Mas, certamente,
a catequese começou cedo e funcionou muito bem.
Só vi meu time campeão aos 14 anos e não achava
nada demais tanta demora. Já estava acostumada a ver a seleção brasileira perder
várias copas do mundo. Pensava que se nem a seleção ganhava títulos, não havia
problema nenhum com meu Fogão.
Mas, finalmente, a grande noite chegou. E, num
piscar de olhos, a rua se encheu de gente pulando e batucando. Havia muitos
botafoguenses acanhados saindo do armário futebolístico depois de 21 anos de
espera, naquela quinta-feira, 22 de junho de 1989.
O bloco, na verdade, contava com torcedores
alvinegros e antiflamenguistas, mas, pela quantidade de bandeiras e camisetas,
ficou claro que éramos maioria. Era a final do campeonato carioca e a figura de
que mais me lembro não era a de um jogador. Era um senhorzinho bacana que patrocinou
a equipe em memória de seu filho morto – Emil Pinheiro.
Em 1995, quando meu time venceu o Santos na
final do brasileiro, estava na praia acompanhando o jogo num telão e tive o
prazer de ver os paulistas dos Titãs começarem um show saudando a torcida
botafoguense.
No dia seguinte, me juntei a uma legião de
jovens torcedores que exibiam suas camisas pelos corredores da UERJ. A minha
camisa quem me deu foi meu velho pai. Gaúcho e esquentadinho, assim como, João
Saldanha. E acho que seu filho estava certo: ser botafoguense é algo que
está no sangue, passa no gene. Não dá pra explicar muito bem.
Este ano (2010), pressentindo a vitória na final da
Taça Guanabara, eu e meus sobrinhos fomos à Confeitaria Colombo devidamente
paramentados com nossas camisas alvinegras. Ao entrarmos, fomos recebidos com
entusiasmo pelo gerente, pelo maitre e pelos garçons e ouvimos histórias
deliciosas sobre botafoguenses ilustres que já haviam passado por lá. Tudo
devidamente registrado em um livro preto que fica guardado na portaria para
receber assinaturas de quantos botafoguenses por lá passarem. Pode ir lá e
confirmar!
Outro dia, um conhecido rubro-negro me
perguntou por que alguém escolhe ser botafoguense, mesmo sem ganhar tantos
títulos quanto outros times. Sorri. Não adiantaria explicar que, para um
alvinegro, vencer é bom, mas não é o mais importante. O amor ao time está acima
dos resultados. Mas creio que a força do meu sorriso e o brilho nos meus olhos
falaram mais alto do que qualquer palavra.
Esse texto é dedicado ao meu pai e companheiro de futebol (in memorian).