Às vezes, fecho os olhos e imagino o desenhar de um caminho para a vida. Então, se sinto que gosto do que vi, abro os olhos e decido que é hora de deixar de deixar a vida me levar. Arregaço as mangas e tomo as rédeas, mexo os pauzinhos, as canetinhas, os lápis de cor para executar o tal desenho.
Só que a vida logo me dá um sacode pra me lembrar que entre as
diversas coisas que não sei fazer, desenhar é uma delas. As linhas saem tortas,
as cores não combinam, escolho o tema errado. Talvez, seja a miopia...
Desastre cometido, fica o gosto amargo da conta do material
desperdiçado para pagar e o resultado do desenho horroroso para conviver. A
realidade é dura. Mas nas idas e vindas entre a capital e o interior, descobri
uma maneira de fugir dessa realidade.
Sabia que meu ímã de velhinhas conversadeiras em ônibus de
viagem me seria útil em algum momento. Elas contam muitas histórias que me
distraem. Fico imaginando as cenas com os diálogos, a aparência das personagens
e isso vai desfocando o desenho feio que deixei em casa.
E quando elas se cansam de falar e me fazem perguntas,
convites para retribuir a gentileza e distraí-las com alguma novidade, volto a
lembrar do monstro criado e abandonado porta adentro fechada atrás de mim.
Então, gentilmente, retribuo reinventando a história toda.
Deixando-a exatamente com as cores que queria, o alinhamento perfeito e os
traços sonhados. A cada nova viagem, uma nova versão do mesmo desenho, cada vez
melhor. Elas gostam do que ouvem. E, de repente, me dou conta de que a
gentileza delas pode também ser versões de desenhos mal feitos, inacabados ou
brutalmente interrompidos. Todo mundo tem uma história triste pra mudar, nem
que seja só no faz de conta.
Trilha sonora sugerida: "Heart of Gold", Neil Young |
Desço do ônibus e no caminho até a porta de casa vou
assobiando uma música que me lembra que
estou ficando velha para procurar um coração de ouro. Abro a porta e dou de
cara com o tal desenho mal feito. Ele tomou conta de toda a casa. Entro nela.
Faço parte dele de novo. A realidade é dura.
2 comentários:
Antes do desenho tem os esboços... Até que num momento a gente se depara com o desenho que achava que poderia ter feito de primeira.
Beijos
Seur,
Todos nós fazemos vários rascunhos antes de chegar à arte final, que também pode não ser definitiva.
Minha fé em Deus continua inabalada!
Tenho certeza que Ele vai guiar tua mão para que o traço sai perfeito, todos os coloridos sejam brilhantes e o quadro se transforme em uma pintura magnífica que iluminará tua vida(e nossas na aba).
Amo muito vc e sei que o desenho está sendo refeito.
Bjs
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