quarta-feira, 19 de outubro de 2005

O Senhor das Armas, Nicolas Cage e um soco no estômago


Do mesmo diretor de “O show de Truman” e de “O terminal” – Luc Besson –, “O senhor das armas” é um sério candidato a filme do ano. Não só por ter Nicolas Cage, Ethan Hawke e Jared Leto (de “Réquiem para um sonho”) em atuações irrepreensíveis. Nem apenas por tratar de um assunto que atinge a todos os países do mundo. Mas pelo momento em que chega ao circuito brasileiro. Às vésperas de um referendo que vai decidir se armas de fogo poderão, ou não, ser comercializadas no Brasil.

Independente da sua ou da minha opinião sobre o assunto, vamos falar do filme. Por meio de um jogo de câmeras, ele começa colocando o espectador no lugar da bala. Desde a sua fabricação até o seu destino final: a cabeça de uma criança africana. E isso é só o começo. Ele conta a trajetória de um migrante que chega aos Estados Unidos e, para fugir do fracassado sonho americano, despe a máscara de “loser”, vestindo a carapuça de um frio traficante de armas.

Não se trata de um filme escrachadamente panfletário, mas expõe de uma maneira tão banal as tramas que envolvem o comércio de armas entre países de primeiro, segundo e terceiro mundos, que se torna impossível não levantar questões morais e éticas em seu desenrolar. Jogos políticos, quedas de regimes e história contemporânea se misturam à história de vida do personagem de Nicolas Cage e sua família. Com uma boa dose de ironia, algumas pitadas de sexo e uma colherada de violência “gratuita”, o filme encontra o equilíbrio ideal para passar uma mensagem dura de uma maneira tão contundente que nem Michael Moore, com seus ataques a Bush, poderia sonhar.

O fato de ser “apenas um filme” não ameniza a sensação de impotência e dor ao ver pessoas inocentes morrerem em nome da riqueza e da vaidade de poucos, até por se tratar de obra baseada em dados reais. O fato de saber que as armas mostradas neste filme iam parar em países de terceiro mundo, em sua maioria, africanos e em guerra civil não nos exclui da rota de destruição que esse tipo de comércio criou. Nosso país não está em guerra declaradamente civil, mas a arma banhada a ouro usada por um traficante e descoberta há poucos dias pela polícia carioca era igualzinha à usada por um cliente do personagem interpretado por Cage. Aqui ou nos países africanos, chacinas de inocentes são cometidas em nome do lucro dos cinco países que mais vendem armas (legais ou não) no mundo e que “coincidentemente” fazem parte do Conselho de Segurança da ONU.

Querem saber quais são? Então, antes de votar, assistam ao filme e tirem suas próprias conclusões. É a minha dica principal para este final de semana.

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