terça-feira, 26 de junho de 2007

STOP

“... a comida melhor está na cidade
dentro do armazém estragando
só pro povo ter consciência
que a lei da sobrevivência
é votar e não comer”
(“Lei da sobrevivência”, Marcelo Yuka)


O do estado diz que a secretaria estadual de educação não tem mais jeito. O do município diz que 4 mil crianças devem confiar na polícia e deixar suas casas no meio do bangue-bangue para assistir a duas horas de aula numa escola que já está lotada de outras crianças. A polícia toma tiro de bandido. A população dá entrada nos hospitais, vítimas das balas perdidas de uma cidade sitiada por uma guerra civil. E, como se não bastasse o horror da população diante de tanta violência e corrupção, as crianças-estudantes das escolas do Rio são jogadas em salas superlotadas como criminosas em celas de penitenciária. Seria uma premonição?

Deus nos livre! E que nos livre também do submundo de secretarias em que dublês de politiqueiros-ladrões-ex-atletas driblam a integridade e chefiam a máfia da merenda escolar, do rio card, da terceirização de funcionários... Será que rezamos baixo? Pois esse deus não nos tem ouvido e nem livrado desses males, amém. Ou será que a resposta está em PARAR finalmente de esperar um milagre dos céus e resolver prestar atenção no que está acontecendo? PARAR de enfiar a cabeça na areia; de votar no mais bonito e no mais simpático ou no mais jovem ou no mais rico... de usar o direito de voto para aproveitar o feriado depois da fila na sessão eleitoral para pegar uma praia... PARAR para mudar esse estado caótico que vem soterrando o país e, principalmente, o Rio.

Não é possível que o povo não esteja cansado de dar com a cabeça na parede votando em políticos que prometem soluções imediatas e mudanças repentinas para problemas que nasceram das entranhas de anos e anos de uma ditadura inútil que não serviu sequer para promover a real consciência do que a palavra “liberdade” significa.

Na ditadura brasileira, milhares de artistas, pensadores, trabalhadores, estudantes foram presos e torturados. Hoje, a antiga imprensa marrom é que faz o papel de in(vê)stigação, que os sobreviventes daquela época - agora no poder -, convenientemente, deixam para trás. Quantos deles hoje têm a oportunidade de fazer o que pregavam e não fazem? Preferem acusar o povo de preguiçoso ou de difamador da imagem do Brasil no exterior. Como se a imagem do país precisasse da difamação de seus filhos para ser denegrida...

Não há dúvidas de que a eleição de um político de origem humilde aponta para uma mudança na mentalidade de um povo que se recusava a se ver representado pela figura de um semelhante. Contudo, as esperanças de que esse povo estivesse, finalmente, aprendendo a exercer o direito de escolha começaram a rolar escada abaixo quando esse governo foi reeleito, a despeito do envolvimento em casos de abuso de poder e tráfico de influência, que levaram ao afastamento de ministros e assessores.

As imagens da prisão de políticos envolvidos em casos de corrupção e crime organizado remetem, ao mesmo tempo, às lembranças de filmes sobre a máfia e às aulas de história no segundo grau, em que o professor contava episódios de golpes militares que começaram com o fechamento do Congresso. Na época, a idéia causava arrepios de pavor; agora me pego olhando com inveja para a vizinha latina submetida a décadas de ditadura.

Em Cuba, o índice de analfabetismo é praticamente nulo. As universidades são públicas e recebem investimento do governo. Os hospitais são referência no tratamento de diversas doenças, recebendo estudantes de várias partes do mundo para aprender como se faz Medicina, sem qualquer conforto, é verdade, porém sem convênios e planos de saúde inacessíveis - e, na maioria das vezes, insuficientes. Não à toa, os pontos que fazem da ditadura cubana um oásis frente à democracia brasileira são resultados de uma política de educação séria. Uma política de longo prazo que nunca prometeu educação em troca de bens materiais, nem mudanças imediatas. Uma educação para quem quer saber ao invés de ter. Educação que trata os alunos como gente e não como números, que viram verbas, que viram receita, que vira desfalque.
No Brasil, nas últimas eleições para presidente, o único candidato que fundamentou sua campanha na Educação recebeu menos de 3% dos votos válidos...

A arte que ilustra esta matéria, "Travessia de Maleiros", foi criada pelo designer Wilson Domingues e ficou em 2º lugar no Salão Carioca de Humor 2007. Thanx, Wilbor!

Nenhum comentário: