sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sala de espera


Quando dei por mim, estava cochilando sentada na sala de espera da pediatria. Minha sobrinha, com a cabeça encostada no meu ombro ainda lutava contra o sono. Horas se passavam, o tempo corria, as nuvens voavam no céu e nunca chegava a nossa vez. Naquela tarde, entre os que aguardavam atendimento, não havia nenhum bebê bonito para nos distrair um pouco. Discretamente, chamei a atenção da minha pequena companheira de cadeira para o fato e ela concordou risonha. Não tínhamos mais assunto. Para piorar, eu estava estranhamente calada naquele dia, acordara assim, silenciosa e angustiada.

Entre os pensamentos que passeavam distraidamente, pesquei um em que imaginava mães, obrigadas a visitas mensais como aquela. Tardes inteiras de espera por quinze minutos de atenção especializada e muitos reais gastos com remédios a seguir. Pensei na criança chorando, nos preparativos para sair de casa com bolsa, mamadeira e todas aquelas coisas que bolsa de mãe tem. Vi minha mãe me arrumando. Vi minha irmã e minha sobrinha. Muitos pares de mães e filhas desfilaram pela minha memória, mas não me vi entre as mães, só entre as filhas.

Um amigo distante um dia quis me dar um peixe. Ele dizia que me achava "muito solitária naquele apartamento", achava que eu precisava cuidar de alguém. Anos mais tarde, um amigo recente quis me dar um cachorrinho. Ele disse que minha casa é muito arrumada e que preciso de alguma coisa para roer o sofá, rasgar o tapete, bagunçar um pouco. Entre um e outro, vários rios passaram em minha vida, mas a resposta foi a mesma para ambos: “nem pensar, mal consigo cuidar de mim”.

Quando se é jovem, independente, dona do próprio nariz e, principalmente, só, não é possível conceber a possibilidade de cuidar de alguém sem que haja algo em troca – sexo, segurança financeira, um teto, uma boa briga ou alguém para comentar um filme. Quando se é jovem nem sequer vamos ao médico. As salas de espera estão recheadas de crianças e idosos. Jovens como eu só aparecem nas emergências. Ainda sou filha. E quando se é filha, jovem, dona do próprio nariz e feliz por ser a única a ter que comer a própria gororoba, nada no mundo faz mais sentido do que a máxima do sábio cantor Ed Motta: “no kids, no dogs, no problems”.(Ha ha ha)
Mas dizem que isso passa. Será??? (ai!)
(Para Milla Oliveira.)

4 comentários:

TS disse...

Ter netinhos é melhor que ter filhos; vc se diverte "estragando" a criança, fazendo-lhe todas as vontades que JAMAIS faria com os próprios filhos; mas quando o netinho começa a encher a paciência... toma, que o filho é teu!
É uma das mtas prerrogativas da mulher. Dizer q a maternidade "completa" a feminilidade, bah, é uma tremenda balela. Ter filhos é UMA opção. Mas se tiver que ter, tem que ser com pai junto! E aí...

Robertobaz disse...

Só pra dizer que ter uma cria, vê-la crescer, tentar lhe ensinar o caminho do bem, é uma das maravilhas da vida, acreditem!

Unknown disse...

É extremamente difícil afirmar que o que concretiza definitivamente a felicidade de uma mulher seja a maternidade. No entanto, acredito que seja parte de uma realização pessoal na qual este filho(a) poderá causar mais alegrias do que dissabores. O destino só a Deus pertence.... .
Abraços. Alberto Nunes

Alcivia disse...

Seur,
É muito facil para os homens falar sobre o que não lhes é próprio. Para eles, ter filhos (e quanto mais melhor, em alguns casos) é apenas manter financeiramente, dar alguns conselhos ou puxões de orelhas, uma vez ou outra, liberar uma graninha ou o carro para um passeio com as namoradinhas. Os nove incomodos meses de gestação, as salas de espera dos médicos, as reuniões de escola, o preparar para a vida (e ser criticada se as coisas não saírem como o esperado) fica para nós. Não é fácil ser mãe, não ter certeza se está orientando corretamente, ter responsabilidade sobre o futuro de outra pessoa. Mas ainda assim, é maravilhosa a emoção de ver a carinha do bebê que saiu de dentro da gente, e ver este bebê se tranasformar num ser humano, que no dia dos pais diz pra você: "Parabéns, mãe! Porque você me criou e para mim você vale pelos dois". Não há recompensa como essa.
Então, apesar das dificuldades, é muito bom ser mãe e se ver refletida nos próprios filhos.
Mil bjs
Te amo!
Silvinha