domingo, 16 de novembro de 2008

Massa do bem

A indústria das celebridades está tão rentável que não há mais distinção entre o que poderia ser um bom e um mau motivo para se tornar famoso. Ligamos a TV e, a cada dia, nos deparamos com uma infinidade de caras novas. É praticamente impossível associar nomes a pessoas. Até porque, a fama instantânea transforma miojo em macarrão, em questão de segundos, e o “famoso quem” de hoje em “Zé Ninguém”, semanas depois.

Por outro lado, essa rotatividade provoca um aumento do nível de exigência: é preciso ser “bom” para povoar a lembrança da assustada audiência por mais de uma semana. O que dirá um mês... Por um ano, só tendo mesmo muito background... (A interpretação para background é livre!)

O jornalismo também foi contaminado por essa “indústria”. No espaço de um mês, fomos bombardeados pelo triste seqüestro de uma adolescente que ganhou status de novela do horário nobre, assim como várias outras tragédias que se sucederam nos últimos anos, em que vítimas e algozes se tornaram atores de um teatro macabro porque real.

Tentou-se conferir à última corrida da temporada de Fórmula 1 um patamar de final de Copa do Mundo. E fechamos com chave de ouro, a coroação do novo rei do mundo: the first black American president.

Uau! Esse, sim, sem sombra de dúvida, um fato histórico. Não só pelo fim da era Bush, mas por tudo mais que eu não vou repetir aqui porque muita gente já deu bastante palpite na TV e o homem terá (espera-se) vários anos pela frente para explicar o porquê de sua importância. Não sou eu, uma mera professorinha brasileira, que vou querer dar pitaco nisso também. Ou não aqui, em público... rs

Só toquei mesmo nesse assunto para ilustrar o exagero cometido durante a cobertura das eleições americanas pela imprensa nacional. Acredito que o nosso país deve ter feito a melhor cobertura do mundo! Só perdendo mesmo para a própria imprensa local. O assunto foi noticiado, debatido e comentado exaustivamente em todos os horários do dia.

Nem as eleições em Portugal, nossa primeira matriz, é tão comentada! Aliás, quem é mesmo o atual primeiro ministro de Portugal? E o da Inglaterra, quem se lembra dele? Mas nossos impávidos repórteres foram espalhados por todo o território americano para acompanhar de perto os últimos momentos das eleições.

Nem as populações ribeirinhas do Rio Amazonas receberam tanta atenção nas últimas eleições presidenciais, mas um jovem negro desconhecido morador de Nova Orleans foi destaque no último jornal do dia da maior emissora do nosso país declarando sua óbvia intenção de voto. E eu com isso? A mim basta saber que Obama venceu. Os números de delegados que o apoiaram na Louisiana não vão aumentar nem diminuir um centavo no meu pagamento no final do mês. Então, dane-se!

O excesso de informação inútil me irrita! O excesso de gente sem importância ganhando destaque por nada me cansa, me faz desconfiar de quem até pode ser bom. E, ao ouvir a pergunta “quem é esse?”, já respondo, automaticamente, “ah, não deve ser ninguém”.

Eu queria ligar a tv todos os dias e ver uma notícia como essa: “Prato de pão deixa mais nutritivo o sopão de moradores de rua”. Explico. A exemplo dos restaurantes de Praga que servem uma sopa típica em um recipiente feito com massa de pão, um grupo de estudantes de Relações Públicas da Apae de Campinas desenvolveu a excepcional idéia de usar um pão especial e resistente como prato para um sopão servido a moradores de rua. Os pratos de isopor deixam de ser usados, o que contribui para a preservação da natureza. E a refeição dessas pessoas torna-se ainda mais nutritiva. O projeto foi apoiado pela 3M e premiado pelo Instituto Ethos.

Foi impossível não sentir um nó garganta ao ver um dos beneficiados chorando ao receber aquela que talvez fosse sua única refeição em um dia inteiro e afirmando que a mão de Deus agia através daquelas pessoas.

Os nomes dos alunos responsáveis pelo projeto? Seus rostos? Quem sabe? Mas a importância dessas pessoas definitivamente não será esquecida em uma semana, nem em um mês, nem em um ano por aqueles que viram a realização dessa “massa do bem”. Quantas celebridades fazem isso por alguém?



Mais informações sobre a “massa do bem” podem ser encontradas em
http://www.institutobrasilverdade.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3219&Itemid=2
ou http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL844855-16022,00-PRATO+DE+PAO+DEIXA+MAIS+NUTRITIVO+O+SOPAO+DE+MORADORES+DE+RUA.html

7 comentários:

Marck disse...

O mundo é feito de imagem, imagem através do egocentrismo e da ambição. Volta ou outra aprece um rosto, uma disputa constante para vender o nome, a aparência, ..
O bem aje discretamente i mts vezes não reconhecido, pois assim deve ser: "Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita" Mt 6;3. Pois o bem é visto por Deus! E o mundo pelo próprio mundo!

"Só dá paz quem tem paz."

TS disse...

A questão não é o acúmulo de img; é de informações s/ critérios, passa-se do prato s/ comida p/ a bunda famosa do momento!
Quem assiste - ou recebe as info - é quem deve ser seletivo.
Detesto novelas e noticiário pego só os feeds e busco o q realm/t me interessa.
Obama teve cobertura universal pelas circunstâncias de sua eleição, né?
Beijos p/ ti.

sara disse...

BATE-BOLA
Trocando em miúdos:

. ações desenvolvidas para a melhoria da qualidade d vida, não são esmola e devem, sim, virar notícia para q sirvam d exemplo. ao passo q a produção d celebridades em escala industrial q eu saiba não melhora a qualidade d vida d ninguém.

. evidentemente, a eleição d obama é histórica e importante. o q o texto critica é o exagero na cobertura da imprensa brasileira.

marco homobono disse...

oi, sara!
infelizmente, estamos vivendo a época do hype, dos virais, dos meme(???). andy warhol até que foi bonzinho ao prever 15 dias de fama.
hoje é arriscado fazer qualquer previsão.
e sair à cata de pessoas que fazem mesmo a diferença nesse mundo de hoje é difícil.
não mais difícil do que se indignar quando vemos uma mulher melancia ou mulher moranguinho serem assediadas por mães de filhinhas querendo autógrafo por que mesmo, hein???
essas iniciativas como o do pão-cumbuca de sopa passam despercebidas e seus inventores e executores mais ainda.
uma pena.
um programa como o do serginho grossman, que passa todo sábado às 7 da manhã e mostra iniciativas sociais bem sucedidas, também passa
ao largo. está todo mundo dormindo.
a bunda mais bonita do mundo, ao contrário, passa no fantástico.
ah, eu até quis ver o barack obama eleito. e realmente aconteceu. me dá medo ver todo mundo festejando.
todos os jornais do mundo festejaram.
vocês não desconfiam disso???

um abraço pra geral.

Unknown disse...

Putz, e não é que é?????????. Para complementar, eu achava que a tv fechada resistiríra. Putz novamente, ledo engano. Os locucos, e me incluo nessa, vão discutir final de namoro nas primeiras páginas e horários nobres. Rsrsrsrsrs, socorro!!!!!!!!!.

Arinho disse...

Obama creio eu é um das últimas figuras a suprir a necessidade de uma pessoa representar as angústias da humanidde, explico, estamos caminhando para uma era sem imagem, sem heróis de carne e osso, deve ser esse o excesso e a efemeridade das imagens q não conseguimos mais ver uma Madre Teresa, um Gandhi e tantos outros. Obama será uma fantoche como todos q estão no poder, eu não acredito q os poderosos ocultos deixarão de fazer o q querem, ou seja, mandarem no mundo, ele só está lá por q eles querem... não sei se estou muito otimista ou sei lá o que, mas espero q grupos como esse e tantos outros sejam eleitos heróis pelos q eles ajudam e não pela propaganda nojenta da Globo...acho q vai-se separando o trigo do joio naturalmente, não acredito q a humanidade vai ser levada muito tempo pelo q é ruim, é natural gostarmos do q é bom, fazem gatos de tv a cabo, de energia, de água, a internet taí com mais fácil acesso, ( não apoio qqr tipo de coisa ilegal, mas é feito isso a procura de algo mais, no fundo acham q é bom de alguma forma....no caso da tv a cabo, o resto claro qé bom ter.....rs), enfim, façamos nossa parte, boa conduta nunca é demais...

Unknown disse...

Gostei muito do seu texto,Sara.Gostei que faz nós pensamos mesmo nesses assustos de noticias.Concordo plenamente com você quando você disse do caso Eloá.Acho que a midia deu muito espaço para esse caso,coisa que ela faz sempre para tipo desses casos.Acho que o jornalismo não é mais o mesmo como antes...pena né?Bjs