sábado, 5 de novembro de 2005

O FuturA a Deus pertence


Para mim, é doloroso analisar friamente um trabalho que admiro. Por isso, dificilmente vocês me verão metendo o malho em alguém. Já que me proponho a escrever só sobre o que gosto.
Sendo assim, é complicadíssimo falar de Futura. Não que o novo disco da Nação Zumbi seja digno de malho, mas por gostar muito da banda. Nos anos 90, pela primeira vez em mais de duas décadas de vida, minhas bandas favoritas não eram estrangeiras. Planet Hemp e o Rappa abriram as portas, mas a Nação Zumbi foi quem realmente assumiu a presidência da casa.
Várias semanas antes do lançamento, fuçando os sites da gravadora e da banda atrás de alguma pista, achei a faixa de abertura do disco. Logo depois, veio o site com o disco todo disponível (divulgado aqui, em 21/09). O passo seguinte foi reservá-lo na pré-venda de uma loja virtual. Antes de chegar às lojas, ele já estava em minhas mãos. As primeiras audições de Futura foram tão ansiosas que certamente muita coisa só vai ser percebida daqui a algum tempo. Sendo assim, qualquer equívoco que eu venha a cometer daqui pra frente deve ser perdoado. E entendam: essa não é uma resenha, são apenas alguns comentários que divido com vocês.

Futura é o disco mais paulista da Nação Zumbi. Dói dizer isso. Bairrismos à parte, vale lembrar que o padrão de qualidade dos pernambucanos não ficou de fora desse trabalho, mas parece que a terra natal (deles) está ficando mais distante. Por um lado é uma pena, por outro: a conexão agora não é só de Recife para o mundo, mas do mundo para o espaço. Nem o céu parece ser mais o limite pra eles.

O grau de sofisticação desse novo disco é tanto que até a psicodelia deles tem outra cor. E quando você começa a viajar "sob o signo do som", alguma coisa dita por Jorge du Peixe te traz à terra novamente. As letras continuam difíceis de entender, mas o que se consegue pescar dos vocais sempre remete a alguma imagem que gera milhares de conexões neuronais e a uma cadeia de outros pensamentos e associações... e quando você volta à música, muitas outras idéias já se passaram e você só terá a chance de pescá-las na próxima vez que ouvir o disco novamente.

Em outras palavras, as letras te trazem pra terra e te jogam pro espaço de novo. Isso é muito bom porque, a cada nova audição, há a garantia de uma nova viagem. Talvez esta seja a maior dificuldade em entender as letras da Nação Zumbi: concentrar-se nelas. E por não se deterem a um lugar e um tempo específicos, são como roupas que qualquer um "com ouvidos em outra dimensão" pode vestir. São universais.

A grande surpresa do disco são os vocais de Du Peixe. É clara a sua evolução, está mais ousado e cada vez mais melódico. Cada vez mais chegando à altura da versatilidade dos integrantes da banda.

Resultado da experiência adquirida após 5 discos, um projeto paralelo (Los Sebozos Postizos, releitura de Jorge Ben), trilhas sonoras, o contato com a banda Instituto e muita estrada, as experimentações e a sutileza são o diferencial de Futura. Barulhinhos diferentes aqui e ali. Influências ora veladas (Mutantes, em "Expresso da Elétrica Avenida") ora explícitas (de surf music, em "Futura", e Jackson do Pandeiro, em "Pode acreditar"). Tudo isso é Futura. Só uma crítica negativa: o disco é muito curto!!!
Melhores faixas: "Respirando" e "Pode acreditar"
Groove enfumaçado: "Vai buscar"
Pra pular: "Sem preço"

PROGRAMAÇÃO
Sexta, 4/11
• Rio Tecnomídia: feira de mídia e tecnologia. Com oficinas curtas para o público que poderá manusear os equipamentos. Casa França Brasil. Seg. a sexta. Até 13 de novembro. Grátis.

Sábado, 5/11
• Feira Rio Antigo: decoração e a estréia de Bianca e Jaqueline na melhor barraca de bijus da cidade, R. do Lavradio.
• Carnaval Rio Antigo: os blocos Cordão Céu na Terra, Rio Maracatu, Cordão do Boitatá e Bola Preta saem da Pça. Tiradentes, às 14h, passam pelo Lavradio e Fundição Progresso.
• RecBeat: direto de Recife, o Circo Voador traz a festa, com apresentações de Júnio Barreto, Mombojó e LOS SEBOZOS POSTIZOS. R$ 15 p/ estudantes.

Domingo, 6/11
• Feira Mistureba, Casa da Matriz: moda e novidades. Grátis.
• Art Natal: Feira de artesanato brasileiro. Monte Líbano (sex., sáb. tb.). R$ 1
• Tangolomango: festival de cultura e etnias, no Circo, 14h. Mais em http://www.tangolomango.com.br/. Grátis.

Quinta, 10/11
• Naná Vasconcelos, Teatro Rival, às 20h30. R$ 25.

Filmes da hora: "Cidade Baixa", "Havana Blues" (eu não disse que não precisava entrar na correria do festival de cinema?) e "Tudo acontece em Elizabethtown" (Cameron Crowe é pop, mas é legal!)
Mostra de cinema brasileiro na rede Cinemark.

SKOL RIO, dias 18 e 19/11, no Circo Voador, na Fundição Progresso e nos Arcos da Lapa. Em breve, mais informações.

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