quarta-feira, 7 de maio de 2008

Medo de enriquecer

Quase me afogo em uma onda de pavor, sempre que pressinto a aproximação de um novo amor. A perspectiva de que finalmente seja definitivo, me aterroriza. Um terror ilustrado por marcas de amor mais profundas e persistentes do que tatuagem. Começo a morrer de saudade dos anteriores mal sucedidos, autosabotagem. Ultimamente, tenho preferido apostar nos erros pela perspectiva da curta duração. Medo de filha sentindo que a vida pode tomar um rumo a qualquer momento. Ou pior, medo de achar que a vida vai dar-lhe o gosto do rumo para perdê-lo novamente em seguida, como já acontecera repentinamente outras vezes. Medo de pai, sentindo que vai perder a filha, fechando a cara.

Mas quando vem, não há medo que o impeça. Não há onda que o afogue. Não há independência ou auto-suficiência que o desencoraje. Não há cara feia que assuste o amor. Ele abre portas. Esvazia gavetas, afrouxa parafusos, desmonta as defesas para abrir espaço e se instalar. Nem ele nem eu sabemos exatamente o que fazemos, nem se queremos. Não enxergamos com clareza ou nitidez. Não pensamos. Deixamos o barco correr ao sabor da corrente até que ela nos leve àquele lugar em que não moraremos mais em nós mesmos e nos tornaremos almas vagando à nossa própria procura no olhar do outro.

Aquele lugar em que contas, trânsito, calor e políticos são apenas figuração de um universo paralelo absolutamente sem importância, diante da textura do cabelo, do cheiro do suor que molha o lençol, do olhar curioso, da mão protetora e, principalmente, do sussurro sem controle que antecede o abraço redentor.

Até que um desperta o outro: “o que você está pensando agora?” e lá se foi o sonho... A mente tenta sacudir sua criatividade pra fora, mas nada poético vem à tona, só sussurros medrosos dão à cara tapas. E nada que, arrependido pela pergunta, o amor dissesse seria capaz de sossegar aquele coração batendo aos pedaços – doidos pra se juntar novamente e começar uma nova história. Os dias vão nascendo sobre noites de papos mal dormidas que se acumulam. Cada fio grisalho é uma noite dessas, uma linha nova para a história que ela conta, um verso novo para o poema que ele cria, uma nova página para o romance que a vida transforma em realidade inacreditável aos olhos dos outros, mas muito palpável aos nossos. Bem-vindo, ao amor que já é ou não.
Imagem retirada do site http://www.apsi.org.pt/index.php. Thanx, Google!

7 comentários:

TS disse...

Enriquecer a dois é melhor; mas se tiver que ser sozinho - filial, fraternal, maternal, ideal... - é preciso manter a tranca meio frouxa para qualquer eventualidade, uma surpresa agradável ou... uma fuga rápida.
Beijins.

marco homobono disse...

é isso mesmo que eu estou pensando?
ou é apenas uma alegoria?

Unknown disse...

aiii,. q lindooo.. mais um texto perfeitooo!! ADOREI.está entre meus favoritos..

beijinhos da seua sempre fã Nathy :)

Vivian Benford disse...

Menina,
Adorei o texto!
Vc tem o dom.
Bjs
Vivis

clécio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
clécio disse...

Lindo,sutil e inteligente, o que não é surpresa!!

Unknown disse...

Não tenho nemhum medo de enriquecer, principalmente no aspecto orgânico, pois necessito de bastante sais minerais(sais Reais, entram Euros; sais Níquel, entram Ouro, muito Ouro).
Já no aspecto sentimental, o medo ou a coragem de enriquecer depende apenas da Justiça(no início MEU BEM, no final MEUS BENS).
Abraços e até o próximo papo sentimental.
Alberto Nunes