quarta-feira, 14 de maio de 2008

O contrato

Então, amor, o que você acha, hein, se eu viesse logo pra cá? Eu já durmo aqui, já fico aqui no final de semana... Até roupa minha já tem no seu guarda-roupa, escova de dente no armário do banheiro... A gente pode dividir as contas. O que você acha, hein?
Depois de algum tempo: nossa, passar mais tempo com você... parece ótimo, mas...
Mas o quê??? – pela expressão do seu rosto, esperava ver pulos de alegria depois da proposta que acabara de fazer. Uma nuvem de desapontamento pairava sobre sua cabeça.
Sabe o que é, meu bem? Desculpe, mas eu já brinquei de casinha antes. E, depois que acabou, cheguei à conclusão de que o namoro é que é bom. Decidi que só passaria dessa fronteira novamente, se fosse por um relacionamento de verdade.
E o nosso não é?
Bem... estamos descobrindo ainda...
Não estou entendendo, querida. Pensei que aquela carinha que você faz quando eu vou embora fosse vontade de me ter por aqui...
Até é, mas...
Mas, então???
Não me leve a mal, amor... Adoro quando você fica mais tempo, mas eu não preciso dividir o apartamento com ninguém, posso arcar com tudo.
Como assim? Você acha que eu estou te propondo dividir o apartamento? Você não entendeu, estou te propondo morarmos juntos.
Sei...
Você não quer? – perguntou incrédulo.
Tá bom, vou ser mais clara. Essa história de morar junto pra mim já deu. Não cola mais...
O que é isso? Que idéia moderna é essa? Você está querendo me dizer que vamos ser aqueles casais que moram em casas separadas? Desde quando você aprova isso?
Você podia me deixar terminar de falar...
Ok, sou todo ouvidos.
Então, se for pra morar de novo sob o mesmo teto com alguém, tem que ser um homem que acredite no que está fazendo e não um cara que já está entrando em campo pensando em sair antes do jogo terminar. Tem que apostar na jogada. Quero mais que compromisso, quero comprometimento, parceria, cumplicidade, lealdade. Alguém que assine embaixo sem medo.
Assine embaixo?... – ruminou. – Parece até que está falando de um contrato... – arriscou.
Fez-se o silêncio do consentimento.
É isso, meu anjo? Mas que caretice! Um pedaço de papel... Que garantia um papel te dá de que eu vou cumprir com isso tudo? Que garantia um simples documento pode dar do sucesso de uma relação?
Garantia de sucesso? Nenhuma. Mas garante que vamos tentar e que não entramos pensando na facilidade de desistir diante de qualquer obstáculo. Garantia de que é a primeira de uma série de assinaturas que daremos juntos. Garantia de que você não tem medo de arriscar ficar o resto da vida comigo. Garantia de que sabe que um pedaço de papel não vai abalar sua confiança em nós dois. Garantia de que sabe o que está fazendo quando passa seu tempo ao meu lado.
Fez-se o silêncio do pavor de quem não sabe o que pensar e o que dizer.
Olha, você me desculpe, amor. Não quero que se sinta acuado. Eu não estou te pedindo nada. Por mim, tudo bem a gente ficar do jeito que já estamos. Estou feliz assim, mas é que eu quero tentar não dar mais passos em falso.
Tô atrasado, amor.
Não vai tomar café?
Não. Como alguma coisa na rua. Se der, te ligo mais tarde.
Você está chateado comigo?
Não... Beijo.
Depois de dois dias de silêncio dele e de angústia dela, ele toca a campainha e ela atende. Os olhos dela se iluminam.

Quer casar comigo, amor? – disse ele sorrindo.


(Para Wilson & Bianca Domingues)

3 comentários:

Lívia Cristine Gomes Corral Oliveira disse...

Q lindo !!!!
Amei esse texto Sarinha !!!
E n pude deixar de perder 5 minutinhos p/ comentar ( o q geralmente n faço ) qndo vi p/ qm era ...
Apesar de pensar q comprometimento, parceria, cumplicidade e lealdade são mais válidos do q um pedaço de papel, n pude deixar de questionar o meu posicionamento qndo a "menina" explica o q esse "pedaço de papel", na realidade, significa !!!

Bjinhosss* e saudades !

Lívia

Unknown disse...

Oi Sara...
Gostei do texto pra caramba pois acredito em cada linha do que está escrito. Acho q é por isso que meu casamento, apesar das dificuldades que já passamos, que estamos passando e que passaremos... está seguindo cada vez mais firme e abençoado por mais um bacurinho.
Espero que este texto sirva de inspiração pra um monte de gente que não sabe bem qual o verdadeiro sentido daquele papel que assinamos quandos juntamos os trapinhos.
Beijo do mano velho
JClovis

TS disse...

Casamento não é um pedaço de papel. Amor não precisa de papel. Mas a moça do conto é prática. O que vejo é gente que se casa em estado de "paixão"; aí, é difícil manter o contrato: ou acaba, ou vira hipocrisia. Casar é um processo natural entre duas pessoas que se amam, se respeitam, se admiram, se ajudam,..., crescem em parceria.

Beijins p/ ti.