quarta-feira, 23 de março de 2005

Let Lenny Rule

Temos perrengue? Temos sim, senhor.

Temos metrô sem segurança e abarrotado de gente? Temos sim, senhor.

Temos pittboys se agarrando e causando (mais) correria, empurra-empurra e confusão? Temos sim, senhor.

Temos mais de duzentos mil malucos que se espremem para ver um cantor gringo do qual mal ouviram falar só porque é de graça? Temos sim, senhor.

Mas quem ama Rock and Roll, e não dispõe de grana para assistir ao Lenny Kravitz no ar condicionado, se sujeita aos maiores sacrifícios em nome desse amor.

Parece que foi ontem que, há catorze anos, eu quase chorei de emoção quando ganhei do meu melhor amigo o álbum “Mama Said”, de um cantor que estava despontando por aqui como uma grande promessa da música mundial (leia-se americana). Já tinha me esquecido de como é emocionante ver um artista reconhecido no mundo inteiro vir ao Brasil e cantar com tanto prazer pra gente (é claro que ele foi muito bem pago pra isso, mas e o romantismo onde é que fica?).

O último show internacional a que assisti na praia foi tão fraco que fiquei com a impressão de que shows na praia são ruins. Mas quando Lenny subiu ao palco da chuvosa Copacabana, na noite de segunda, notei que o meu celular estava vibrando. Tentei atender a ligação e percebi que, na verdade, era o estrondo do baixo e da bateria que causava aquela já esquecida sensação. Eram os acordes do Rock and Roll vibrando na esnobe Av. Atlântica.

O show de duas horas de duração foi impecável. Para meu deleite, Lenny tocou 4 canções do referido álbum: "It ain’t over til it’s over", "Stand by my woman", "Fields of Joy" e "Always on the run" – que, ao soar dos primeiros acordes, foi saudada por um espectador como “aquela música do Slash”(!). Clássicos como "American Woman", "Believe" e "Are you gonna go my way" não foram esquecidos e ainda teve um set totalmente acústico. Mas o que realmente levantou o público foi “a música da propaganda” (os comentários do público leigo são um show à parte...), "Fly Away".

Deve ser muito emocionante tocar para duzentas mil pessoas. Mas deve ser muito mais emocionante tocar para 20 mil que cantem junto com você. Lenny percebeu isso quando tocou a bela "Let Love Rule", seu primeiro grande hit, e, praticamente, teve que implorar para o público cantar junto: sem sucesso. Até para Deus o cara apelou.

A iniciativa de proporcionar shows e eventos culturais gratuitos para o povão é louvável, mas – venhamos e convenhamos – seria muito melhor se o negão tivesse tocado na Praça da Apoteose. Provavelmente, o preço do ingresso não seria tão caro como o de uma casa de show e os verdadeiros fãs do artista teriam prestigiado o evento (muitos desistiram da empreitada prevendo o tumulto que realmente aconteceu). Apesar dos pesares, quem gosta do som e foi ao show, não se arrependeu. Foi um showzão que vai deixar saudades. E let rock rule...

Alguns alertas para os próximos eventos:

•A polícia não deve estar presente para assistir ao show e sim para assistir o público, assim como para intervir nas brigas dos playboys, ao invés de ficar só observando do alto.

•Deveria ser proibido estacionar carros na Av. Atlântica na área do show. Houve momentos em que ocorreram brigas, as pessoas tentavam correr e ficavam presas entre a multidão que se pisoteava e os carros parados na orla, atrapalhando a circulação do público.

•Na ida para o show, as composições do Metrô paravam por, em média, 10 minutos em cada estação, o que aumentava ainda mais a demora, a ansiedade e o desconforto dos que esperavam do lado de fora e dos que se espremiam na sauna do lado de dentro.

•Na hora de ir embora, quem pegou ônibus se deu bem: a quantidade de opções e o número de veículos facilitou a vida de quem precisava acordar cedo para trabalhar no dia seguinte.

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