sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Arte com o povo

"É o povo na arte e é arte no povo e não o povo na arte de quem faz arte com o povo." (“Etnia”, Chico Science)

Ao longo desses primeiros meses de Café Literário e de Nervo Óptico, falamos de arte, de provocação e de comportamento. Nesta edição, vamos continuar falando disso, mas sob novo enfoque. Obviamente, nem tudo o que é provocação é arte, mas toda arte é provocativa. Então, vamos fingir que os nossos governantes, ao invés de política (e de sujeira), fazem "arte" e que o resultado dessa "arte", que tanto nos afeta, seja chamado de "provocação".

Vocês dão a tela, os pincéis e as tintas como quem diz: "Estou te dando carta branca". E eles saem pintando o sete por aí. O que você faz? Continua investindo neles? Qual seria a sua reação a essa "arte"?

Nosso jovem país teve poucos períodos de democracia. Pode não parecer, mas nosso povo, em poucos anos de exercício eleitoral, conseguiu mudar a cara do país e aprender várias lições. Vejam, começamos com Collor, mudamos para FHC (uma melhora e tanto!) e, quando resolvemos abandonar os Fernandos, colocamos um sindicalista na Presidência. Uma prova de ousadia, independente do desempenho deste ou daqueles governos.

Na contramão dessa evolução, está o povo do Rio, se afundando cada vez mais na demagogia eleitoreira e religiosa, em promessas impossíveis, em obras de fachada, em mega shows e eventos esportivos que tomam a verba da merenda escolar, em ônibus incendiados, em tiroteios à luz do dia ou do luar, na violência que nos encurrala mais e mais a cada dia, em hospitais superlotados...

Palmas para eles, senhoras e senhores, eles estão “fazendo arte” como poucos. Não são nossos artistas, são os nossos arteiros. Mestres na arte da provocação, do ilusionismo, da propaganda, da falácia... Até quando, senhoras e senhores, estaremos nós usando o nariz vermelho no centro do picadeiro? Oremos...


Leitura recomendada:
1968 – O ano que não terminou, de Zuenir Ventura

Fundo musical:
• “Até quando esperar” – Plebe Rude
• “Índios” – Legião Urbana
• “Etnia” – Chico Science & Nação Zumbi
A ilustração que melhora esta coluna é de Wilson Domingues. Thanx!

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