quinta-feira, 30 de março de 2006

Carangueijos invadem a Lapa

Aqui no Rio, muita banda boa pendurou as chuteiras porque o glamour da cidade-grande-capital-cultural-alto-falante-da-mídia-nacional cruelmente impõe aos corajosos artistas estreantes a obrigação de estourar e vender milhões e milhões de cópias. A responsabilidade acaba pesando demais e se os caras não têm a marra do D2, a ginga do Falcão ou a persistência de um BNegão, acabam largando o osso mesmo.

Por sorte, há muitos artistas bons correndo por fora, vindos de lugares considerados "menores". Lugares menos ofuscados pelas luzes dos tais holofotes. Lugares onde a pressão é menor e o ar é mais despreocupado. Daí, surge a pergunta: "por que no rio tem pato comendo lama?" Porque o pato do rio não é bobo e sabe que a lama ali é rica pra chuchu.

E "pato carioca" come a lama do mangue pernambucano pra ficar feliz. Prova disso foram os recentes shows das bandas Eddie e Mundo Livre S.A., respectivamente no Teatro Odisséia e Circo Voador, num intervalo de uma semana entre os dois.

"Animação" foi a palavra da noite no show de lançamento do álbum "Metropolitano", da banda Eddie. O Teatro Odisséia encheu para receber o quinteto de Olinda, liderado por Fabio Trummer (também apresentador de um programa sobre a cena musical pernambucana na TV local).

Mesclando as músicas novas com as dos cds anteriores "Sonic Mambo" e "Original Olinda Style", os olindenses colocaram todo mundo pra dançar com o "gafieira style" característico da banda. Explico: um misto de samba canção, frevo e reggae, com toques latinos. Irresistível.

Recuperado do machucado no olho esquerdo, provocado pelo cão de estimação, que o obrigou a usar um tapa olho no show de abertura pra Seu Jorge na festa "Enquanto isso na sala de justiça", no pré-carnaval de Olinda, Trummer e seu jeito desengonçado de dançar cativaram o público que agitou bastante e acompanhou todas as músicas dos trabalhos anteriores.

As músicas do disco novo – destaque para a faixa que dá nome ao disco, "Vida Boa", "Lealdade", "Maranguape" e "Fuleragem", instantaneamente absorvidas pelos presentes – soam exatamente como as já conhecidas do público: melancólicas, mas espirituosas. Dançantes, mas inteligentes. O que assegurou o bom andamento do show, que também contou com as citações a "Eu bebo sim", de Luis Antônio e João do Violão (incidental em "O Amargo"), "Cristina", de Carlos Imperial e Tim Maia – erradamente creditada à banda Picassos Falsos –, e "Retrato de um forró", do imortal Gonzagão.

Quem está lendo e lamentando por não ter ido, agora já sabe o que está perdendo. Eddie deixou saudades...

Eddie é Fábio Trummer (Voz e Guitarra), os gêmeos Kiko Meira (Bateria) e Rob Meira (Baixo), Alexandre Ureia (Voz e Percussão) e André Oliveira (trompete, teclados e sample).

Resenha publicada no site 021.

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