sexta-feira, 3 de março de 2006

A rosa amarela

“Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios milênios no ar”

(“Futuros Amantes”, Chico Buarque)

Para Gercina e Carlos Brandão






Ela era uma estudante interna do convento de Santo Antônio. Ele não era mais que um rapaz. Mas nas horas vagas do convento, ele já enxergava nela a musa, a inspiração para os frevos que sua gente cantaria e espalharia pelo mundo afora.

O tempo passou. Cresceram. Casaram. Ela com o pai de seus muitos filhos. Ele com a mãe dos seus. Mas a vida nunca apagou a chama do amor juvenil que embalou tantas tardes ensolaradas na pequena praça de Igaraçu. Um dia, perceberam que a chama estava mais forte do que nunca. Renderam-se. Não havia mais porque lutar.

A rosa, marcada pelo tempo, deu-se conta de que a vida já aprontara o bastante. E decidiu que só valia ser vivida com uma mão amiga para apoiar, nas horas incertas, e afagar, nas de agonia. Virou o jogo. Sabida, agora amarelada, a bela flor desabrochou do feitiço que a vida lhe impôs e viu que a dor era inevitável, mas que a felicidade podia ser a companheira num caminho tortuoso, desde que convidada.

Viveram uma bela história de amor. Um amor maduro, sábio e valente. Um amor que nunca se preocupou com o que os outros iriam pensar. Um amor que sabia que pra viver só precisava dos dois e de mais ninguém.

O poeta se foi. Ela ficou. Com as lembranças do amor que teve tempo de ser vivido e a certeza de tê-lo encontrado de fato.



"Rosa Amarela"

Encontrei uma rosa amarela
Tão singela e formosa
Guardei-a comigo
Porque lembrava você,
Menina rosa

Mas o tempo passou tão depressa
E a linda promessa você esqueceu
E a rosa já envelhecida
Esmorecida, entristeceu

Você foi a rosa mais linda
Foi a preferida do meu jardim
Esse jardim que um dia
Cheio de esperança
E alegrias sem fim

Por isso eu guardo comigo
A rosa amarela
E sabes por quê
Ela é flor tão singela
É pura, é bela
E lembra você.

(Frevo canção composto por Pedro Costa há muitos anos e cantado até hoje nos carnavais de Recife.)


Agradecimentos:
• Maria das Dores e Carlos Brandão (saudade!) – filhos da rosa.
A linda ilustração que melhora esta coluna é de Wagner Paula. Thank you, man!

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