quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Uma imagem no natal

“Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia,
No espelho essa cara não é minha
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia...”
(Nando Reis/ Titãs)



No meio daquela multidão, distraidamente, lembrava dos primeiros momentos do dia, quando seus novos problemas começaram. Como acontecia todos os dias, levantou-se da cama e quase sem abrir os olhos, parou em frente ao espelho, pegou a escova, colocou nela a pasta de dente e começou a escovar. Ao encarar o espelho, deparou-se com a imagem de alguém estranho. De uma hora para outra, não se reconheceu mais. O que a imagem refletida no espelho tinha a ver com a pessoa que sentia sob a pele, por trás dos olhos, em cima dos pés? Quem disse que essa pessoa sou eu? – a pergunta não se calava, voltava a cada passo no meio da multidão enlouquecida pelas compras de natal.

Esta é uma época triste. Notou que sempre sentia uma ponta de depressão. Ela ia crescendo crescendo... até lembrar-se dos presentes. No princípio, a expectativa de receber os que havia pedido e o consolo com os que ganhava. Mais tarde, na idade adulta, a preocupação com os que teria de comprar para agradar os outros. A prática de presentear não era somente uma maneira de enriquecer comerciantes – como pensava desde a adolescência rebelde – e gastar mais do que era pago no décimo terceiro salário.

A troca de presentes servia para encobrir o aperto que sufocava o peito e deixava um nó na garganta. A preocupação com as compras distraía os pensamentos que insistiam em cutucar sobre o significado da data irracionalmente festiva. Acreditava que o nascimento e a história do personagem principal eram parte de uma lenda e que, como todas as outras, tinha a sua função didática.

Mas há 2000 anos, de geração em geração, ela vem sendo contada, recontada, repetida e pregada como verdade sem que realmente se aprenda algo com ela. Sem que se aproveite o seu sentido real. Sem que se use sua trama como um exemplo. Essa era sua principal preocupação até aquela manhã. “Mais essa agora! Mais um motivo para me tirar o sono.” Quem poderia explicar como voltaria a acreditar que a imagem que via refletida nos espelhos, nos vidros dos carros parados nas calçadas, copiando seus movimentos era realmente sua?

Não lembrava daquela pessoa, nem como chegara até ali – o peso, a altura, a cor, o corte de cabelo. Definitivamente, a imagem não correspondia ao que sentia. Não era como a maioria das pessoas, que não identificavam a imagem refletida com o que gostariam de parecer – o astro do cinema, a celebridade da vez, a top model na capa da revista. Apenas não conhecia a pessoa que via. Conhecia sim, um pouco, a voz que ecoava dentro de sua cabeça, a pessoa que sentia o coração acelerar diante da paixão da sua vida, as lágrimas descerem quentes pela pele do rosto quando se sentia rejeitada, a barriga roncar ao passar pela porta da padaria de manhã e perceber o cheiro do pão fresco entrando pelas narinas.

E aquela pessoa no espelho? Era preciso arranjar uma personalidade para ela ou era a personificação não-autorizada de todas aquelas sensações e da voz que ecoava dentro da cabeça? Ou seria ainda a maneira como os outros o viam? É certo que o que dizem ou pensam de você não é o que você é de verdade. Mas, então, quem diabos era a pessoa no espelho?

Meia-noite. Subir com todos aqueles pacotes não foi nada fácil. As crianças da família estão indóceis pela troca de presentes. Todos reclamaram do seu ar desligado este ano. Algum problema no trabalho? Por que ainda estava só? Não ia se casar? Queria tanto mais um netinho... Quer mais um pedaço de Chester? Passa a farofa, por favor.

Evitou experimentar as roupas que ganhara para não ter que encarar aquela figura estranha no espelho novamente. Enquanto pensava que mais um ano acabava e os tais ensinamentos da festa que acabara de acontecer passavam despercebidos, lhe ocorreu que não encontraria sua alma gêmea se não encontrasse sua própria alma vagando por aí, sem uma máscara que lhe coubesse. Depois disso, dormiu.

domingo, 17 de dezembro de 2006

Bah, tchê que língua é essa?

Várias vezes flagrei minhas amiguinhas da escola me olhando com um ar desconfiado. Nunca entendi a razão daqueles olhares. Seguia falando. Achava que elas não acreditavam no que eu dizia. Fui crescendo e me tornando um produto do meio. A linguagem trazida de casa foi ficando para trás. Foi substituída pelo português padrão da tv que assistia, das escolas por onde passei, dos livros que li.

Foi então que, há poucos dias, distraída com a embalagem de um xampu que acabara de comprar, me deparei com as instruções do produto traduzidas para o espanhol. E, subitamente, a lembrança dos olhares desconfiados das amiguinhas de escola voltaram à tona. Um momento de “iluminação” para zen budista nenhum botar defeito.

Freud explicaria facilmente o ruído na comunicação dos meus primeiros anos de escola. A culpa era da minha mãe. Claro, as mães e os mordomos são sempre os culpados! Na embalagem do tal xampu, havia duas palavras pronunciadas freqüentemente por minha mãe no nosso dia-a-dia: “enredado” e “desenredar”. A partir delas, uma enxurrada de outros termos e expressões começaram a saltar do álbum de família – “arredar”, “capaz!”, “te mete!”, “rapariga”, “caminha”, “apura, guria!”, “a recém” e o hábito de substituir os pronomes possessivos pelos artigos definidos como em “O pai já saiu” ao invés de “Meu pai já saiu”.

Desavisada, reproduzia, na escola e com pessoas que não tinham a mesma sorte de convivência familiar, a linguagem que ouvia em casa, sem filtros. Nada mais natural, já que é a família o primeiro núcleo social a que somos expostos e são os costumes familiares nosso primeiro manual de etiqueta e de regras sociais.

Nesse contexto, minha casa era realmente um laboratório “sociolingüístico” e tanto. Os habitantes: minha mãe, uma gaúcha da fronteira com o Uruguai, meu pai um ex-boêmio gaúcho de quem não se ouve mais o sotaque há muito. Meus irmãos e irmãs – três gaúchos e um carioca roqueiro e antigo conhecedor das gírias da malandragem –, dedos completamente diferentes de duas mãos unidas há mais de 40 anos.

Acho que, até hoje, ainda cometo, fora do ambiente familiar, as misturas lingüísticas que marcaram minha infância, heranças familiares, talvez genéticas. Não noto mais o estranhamento dos amigos que me ouvem. Se a causa é o que falo ou como falo. Com o passar do tempo, aprendi a externar conteúdos estranhos com formas sutis e histórias simples com rococós que distraem e divertem. Fazer o quê? Como cantava a gaúcha Elis, “vivendo e aprendendo a jogar”.

A arte que melhora esta coluna é de Wagner Morão. Thanx, boy!

domingo, 5 de novembro de 2006

"Ô cride", fala pra mãe...

“Acabo de comprar uma tv a cabo
Acabo de entrar na solidão a cabo…
Acabo de cair no 16 a cabo
Acabo me tornando usuário...
Do 12 pro 57 é um assalto
É um assalto...”
(Otto, “TV a Cabo”)

Há quem reclame (e muito!) da qualidade da programação da tv aberta, ou melhor, da falta dela. Obviamente, comparada aos canais de tv a cabo, a pobrezinha parece agonizar, padecendo com a ausência de criatividade e classe. Seriam seus últimos dias??? Não, claro que não.

Apesar de os assinantes dos canais fechados serem pretensos formadores de opinião e também a fatia privilegiada que dispõe de boa conexão de internet, o que os coloca de frente para uma sobrecarga doentia de informação, não podemos nos esquecer que a grande massa da população continua assistindo aos canais abertos. E ela está se lixando para a participação de Rodrigo Santoro na terceira temporada da série australiana “Lost”. Compra tiragens e mais tiragens de revistas de fofocas sobre artistas das novelas das seis, das sete e das oito. Ignora as celebridades enlatadas de “Desperate Housewives”. A massa manda. Alguém duvida?

Em 2006, a banda Rebelde lotou estádios pelo país; Floribella foi a loira da vez entre a molecada e vendeu pilhas de brinquedos e sandálias; a entrada de Sônia Braga na novela repercutiu muito mais na carreira da atriz do que sua participação na série americana “Sex and the City”; os últimos episódios do massacre de Roberto Justus deram mais o que falar do que os debates de candidatos a cargos públicos do poder executivo local; e parte do elenco da vênus platinada debandou para a TV Record, cujas novelas estão obrigando Manoel Carlos e equipe a esticar os capítulos de seus passeios pelo Leblon.

O mais impressionante é que hoje na maioria das favelas e conjuntos habitacionais há um sofisticado esquema de “net cat” que permite aos telespectadores pagarem entre 15 e 40 reais para receber em casa um mix de canais tanto da Net quanto da TVA. É a democratização da informação televisiva. Só que mesmo com essa facilidade, são os programas da tv aberta que continuam dando mais ibope.

Infelizmente, tanto os que fugiram para a TV a cabo quanto a massa de telespectadores da TV gratuita perdem o melhor de ambas por pura desatenção. Prova disso é o índice de audiência de bons programas como “Arte com Sergio Brito” e “Recorte Cultural”, da TVE, e os jornalísticos “Tudo a Ver” e “Domingo Espetacular”, da Rede Record.

Ultimamente, observando com mais atenção os noticiários dominicais de variedades – o único tipo de noticiário a que me permito assistir, tanto pela falta de tempo quanto pela falta de paciência –, descobri o “Domingo Espetacular” (Record) que traz excelentes quadros sobre assuntos diversificados e curiosos, com a vantagem de ter uma dupla de apresentadores bem mais elegantes e tão inteligentes quanto os do equivalente global, além de informações menos parciais...

Há poucas semanas, durante uma crise gástrica que me forçou a sossegar no sofá, reparei nesse programa. Enquanto rodava de um canal para outro, me deparei com o “Diário de Olivier”, quadro em que o charmoso padeiro francês, Olivier Anchier, mostrava seu passeio por vinícolas portuguesas e um inusitado mergulho num barril de vinho. Dei um descanso para o controle remoto e uma chance à emissora. Bendita hora!

No bloco seguinte, um biólogo pra lá de aventureiro e divertido mostrava as curiosidades do mundo animal em viagens pelo Brasil. Nunca pensei que a fauna brasileira pudesse ser tão divertida até assistir àquele episódio de “Selvagem ao Extremo”, de Richard Hasmussen.

Já nos momentos finais do programa, Arthur Veríssimo, o mesmo que volta e meia contempla os leitores da revista Trip com matérias bizarras sobre a Índia e outros lugares tão esquisitos quanto, deu as caras em “Planeta Estranho”, bloco que apresenta e faz jus ao nome.

Ainda deu tempo de assistir no "Fantástico" às boas séries brasileiras “Poeira das Estrelas” e “Ser ou não ser”, produzidas, respectivamente, pelo físico Marcelo Gleiser e pela filósofa Viviane Mosé. Além de instigantes, trazem aos espectadores do programa a oportunidade de adquirir mais bagagem intelectual e expõem temas mais profundos do que os habitualmente tratados no programa. A esperança agora é de que novos produtos de mentes brilhantes nacionais como esses continuem chegando às nossas telinhas.

E assim, descobri um novo recheio para minha curta agenda de horas vagas em casa, composto de coisas interessantes, inteligentes e muito divertidas para ver na tv que prova ter ainda raras opções de alimento saudável para a cabeça. E, se no meio de um mar de “junkie food”, nada mais agradar, sempre vale a máxima “desligue a TV e abra um livro”. Desse quase nunca há o que reclamar! (Mas isso fica para uma outra história...) E, por favor, Euclides, avisa pra mãe que tudo que nem tudo antena captar, meu coração captura.

A arte desta coluna foi feita por Anderson Ferraro. Thanx, sir!

sábado, 4 de novembro de 2006

Amoreira

"...o terceiro me chegou como quem chega do nada
ele não me trouxe nada, também nada perguntou
mal sei como ele se chama, mas entendo o que ele quer
se deitou na minha cama e me chama de 'mulher'
foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
se instalou feito um posseiro dentro do meu coração."
("Teresinha" - Chico Buarque)

No dia em que se conheceram, ele passou a tarde toda atirado no sofá pensando se ia ou não à festa. Pensando se atendia o telefone ou não. Pensando se marcava ou não com os amigos. Pensando se ou se não. Ela estava muito triste, mas sabia que não podia parar. Tentava se recuperar do final traumático de um namoro que não devia ter durado mais do que três dias, mas chegara a três anos. Encheu-se de coragem apenas para ir ao cinema do outro lado da cidade. O brilho eterno de uma mente sem lembranças foi o estopim para concluir o óbvio. Tudo que fizera naqueles três anos, teria feito melhor se estivesse sozinha. O filme a deixara ainda mais melancólica, por isso não ligou para ninguém. Resolveu ir à festa. Do outro lado da Baía, ele também.

Aquele cinema antigo, infestado de maus pensamentos diurnos, abria suas portas nas noites de sábado para uma festa animada que ela freqüentava há anos. Mas, em nenhuma das edições anteriores, seu olhar havia carregado tanta tristeza nem havia sido fisgado como naquela. Ele fora pouquíssimas vezes. Mais ou menos o mesmo número em que conseguiu demonstrar tamanho interesse por alguém que não conhecia. Do lado de fora mesmo. Na fila de entrada. Ele procurava o olhar irado que ela distribuía para os que furavam a fila à sua frente, e isso o incluía. Quando o encontrava logo desviava os olhos, mas não sem antes deixá-la flagrá-lo. Até que ela percebeu.

Depois de esperarem a música mais legal tocar e trocarem olhares e sorrisos, finalmente se aproximaram. Na semana seguinte, falaram por quase duas horas no telefone. Tentaram marcar para o show da banda favorita. Não conseguiram. Foram à exposição do artista favorito. Foram juntos para casa. Palavras eram poucas para o tanto que gostariam de dizer, mas não conseguiam, portanto não diziam. Elas tomavam melhor forma a distância. Só palavras que voam com o vento. Mas nenhum dos dois sabiam. Vieram a saber delas anos mais tarde, quando apenas ela continuava sentindo seu coração bater mais rápido a cada lembrança dele. Imagens que ela traz na memória.

Ela até hoje se pergunta em que momento a massa do bolo que preparava para eles desandou. Não percebeu que, da vontade de ser uma companhia saudável, desencanada e sem grudes, desabrochara uma flor muito mais vistosa e madura do que antes. Talvez a massa, jamais tenha desandado. Ela até hoje pensa que a decisão foi dele. Talvez tenha sido, mas o que perdeu ele nunca saberá.

O tempo passou. Hoje ela é muito ocupada e não tem muito tempo para lembranças. Entre um trabalho e outro, talvez, entre um namoro e outro. Entre um sonho e outro, às vezes lembra do filme e pensa em apagá-lo de sua mente também, mas fecha os olhos e lhe vem a imagem dele na pista que nunca mais a fez dançar como antes.

O tempo passou para ele também. Ele continua pensando muito. Se vai ou se fica. Se escreve ou fala. Se pula ou puxa o gatilho. Se ou se não. Mas poucas certezas ele tem como a vontade de ficar bem longe.

Dizem que a vida é assim mesmo... Mas antes que pensem "Que história triste.", adianto, talvez este tenha sido o final perfeito. Algumas pessoas passam a vida amando. Outras, buscando um amor que caiba em seus planos e sonhos. Há ainda aquelas que o encontram e o perdem ou o deixam ir. Mas o que todos têm em comum é que todos sofrem. E quem diz que não sofre mente.

Amor não tem a ver com encontro ou com reciprocidade. Nenhum tipo de amor tem. Nem mesmo o amor da mãe pelo filho. Para ser amor, só precisa ser incondicional e maior do que quem o sente.

Há quem consiga amar incondicionalmente alguém distante. Há até os que conseguem amar incondicionalmente um próximo. Obedecendo ou não a genealogia. Escondido ou declarado. Próximo ou distante, amor rima com dor. Não precisava, mas rima. Ainda que incondicional. Ele é como as uvas doces que vêm das videiras de raízes mais profundas. Para alongar suas raízes, é preciso que a árvore sofra sobre a terra seca e sob o sol forte. O sofrimento apura, purga e amadurece. É por isso que sofrer por amor é a matéria prima dos poetas. Sejam eles amadores, amantes ou amados.

O amor não precisa ser eterno, mas é. Uma vez que já tenha existido estará sempre lá, adormecido ou acordado. Ainda que a vida mude, ainda que outros amores apareçam. Um amor nunca apaga outro.

Bobamente, pensei que tivesse tomado dela o único poema que escrevera para alguém. Mas ela sabia todo o tempo da minha idéia de publicá-lo. O seu silêncio era o seu consentimento.


Amoreira minha carregada de
luzes, idéias, frutas e flores.
Enquanto te observo e me perco, divagas para longe.
Xícara onde mergulho, transbordas e me afogas.
Árvore em que subo para me deleitar.
Nada é como antes depois de ti.
Desisto de dominar o amor que sinto.
Rendi-me às mãos que me quiseram tuas e
envolvi-me em teus braços e te fiz lar.

Minha paz está em ti,
onde mais haveria de estar?
Rua de nervos a descobrir,
estrada de veias para te alcançar.
Indago-te o que devo fazer e
rumo errante a te buscar
Amoreira, amoreira minha.

Trilha sonora:
"Você pra mim" - Fernanda Abreu
"O último pôr do sol" - Lenine
"Suburbano Coração" - Chico Buarque



A arte que ilustra esta coluna é de Wilson Domingues. Thanx, Wilbor!

sábado, 14 de outubro de 2006

Vamos dar um tempo?

Minha mãe teve uma máquina de lavar azul que faz parte das minhas lembranças infantis. Lembro até do dia em que ela chegou. Durou quinze anos. Serviu bravamente todo santo dia. Deu conta das roupas, toalhas e lençóis de uma família de, pelo menos, seis pessoas! Meu último computador doméstico foi comprado em 2002. Só eu o utilizo. Já está velho...

Agora, com quatro anos de uso, um eletrodoméstico é considerado velho. Eletrodoméstico? Sim, um eletrodoméstico! Afinal, o PC me é tão útil quanto o liquidificador ou a geladeira. Por analogia, a Eletrolux ou a Arno são tão importantes quanto a Microsoft.

Mas parece que para o resto do mundo não. Permite-se que um único homem empurre o mundo todo para frente, para o futuro tecnológico. E dizem que o Windows Vista é lindo de morrer. E dizem que todo mundo vai ter que jogar suas velhas máquinas fora para poder alcançá-lo. Será? Dizem também que valerá uma fortuna. O tal homem precisa de mais dinheiro.

Faz tempo que minha ficha vem caindo. Quando percebi que tinha e queria muito mais do que precisava, fui me dando conta. Quando percebi que tinha muito mais do que merecia e, à medida que queria mais e mais, merecia menos e menos. Mas nem sempre a culpa era minha. Era mais uma vítima da falta de bom senso geral. É ela a bruxa malvada que nos impele a progredir e melhorar e avançar e crescer... Por fora.

Esforços sobre-humanos, horas extras, noites mal dormidas, sonos interrompidos, finais de semana sem ver a cor da rua. Em nome de mais conforto. Mas que raio de conforto é esse que causa estafa? Em nome de ter. Mas que raio de ter é esse que me tira tanto? Tanta energia, horas de lazer, bate-papo com amigos, ver o rosto de minha mãe, e o meu próprio, amadurecendo. Olhei em volta e vi muita gente no mesmo ritmo. Zumbis da era pós-moderna. Sem cor nem sorriso no rosto e sem sangue correndo nas veias. Alguns até com o bolso cheio, mas sem tempo e (boas) idéias de como gastar o fruto, ainda verde, de tanto sacrifício.

Parei tudo. Resolvi ter menos e merecer mais. Desacelerei. Larguei a auto-escola. Não preciso dela. Não preciso dirigir. O dinheiro do IPVA, do seguro, da vistoria, do estacionamento, da multa, do guarda..., gasto para que me levem e me tragam, e ainda sobra. Leio na ida para o trabalho e durmo na volta da balada. Chego sã e salva de muitos problemas.

Limpei meu guarda-roupa de coisas que outras pessoas podiam precisar mais do que eu. Sob meu pequeno teto está a medida justa para oferecer abrigo para mim e para os amigos que aparecerem. Nem um metro quadrado a mais, nem a menos. Na minha bolsa, carrego apenas o que minha coluna pode suportar. Pelo meu esôfago passa apenas o suficiente para me satisfazer, tudo que entra é bom e não pesa demais.

Parei de querer crescer por fora e resolvi crescer por dentro. O mundo precisa mais de pessoas germinando por dentro do que enriquecendo por fora. Já jogamos muitas coisas fora com essa história de progresso. Tempo, florestas, gente, água, amizade, ar, emoções. Não preciso aparecer na TV como exemplo de jovem empreendedor. Meu projeto promissor é meu compromisso com o crescimento da empresa que abri no dia em que nasci e as pessoas que me ajudaram e ajudam a mantê-la funcionando. Seja física, mental & espiritualmente. Nada que a matéria possa proporcionar. Nada como o cheirinho do feijão ao abrir a porta da casa que vai ser sempre sua. Nada como um banho refrescante depois de um engarrafamento traumático. Como se jogar no sofá e dormir vendo tv. Uma história engraçada contada pelo amigo estressado. Uma cantada inteligente, ou como o abraço da pessoa que se ama. A gente podia respirar um pouco mais. Acalmar o fluxo de pensamento que não nos deixa ver as coisas com clareza e separar o joio do trigo. A gente podia dar um tempo. Podia não?

Photo by myself: Guaratiba, 2008!

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

"Gentileza é fundamental"

“A cidade é tanto do mendigo
Quanto do policial
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual (...)
Boa noite, tudo bem, bom dia,Gentileza é fundamental”
(Arnaldo Antunes & Lenine – “Rua da Passagem (Transito)”, do álbum Na pressão)

José Datrino foi um paulista que chegou a ser dono de uma empresa de transportes de carga, mas andou ouvindo vozes e largou tudo para virar "profeta". Professava um pouco mais de gentileza entre as pessoas. Por isso, ficou conhecido como Profeta Gentileza. Sua missão profética durou 35 anos, morreu em 1996. Com 20 anos chegou ao Rio de Janeiro.

O Rio de Janeiro um dia foi a sede do Reino no Brasil. Europeus, a nova elite brasileira, tentavam se dar bem no Novo Mundo, exibindo toda sua pompa, elegância e bons modos pelas primeiras ruas cariocas. Ditavam padrões de comportamento e refinamento iguais à da elite que ficara para trás e com a qual apenas sonhavam em fazer parte. Tudo o que era sofisticado, fino e copiado vinha do/ pro Rio.

O Rio também já foi a capital federal. Os funcionários públicos mais bem remunerados também estavam aqui. O centro das atenções também. A melhor segurança…

Essa cidade um dia foi a mais bonita do país, seu cartão de visitas. Mas um dia o Brasil resolveu mudar. A capital foi para o interior. Os turistas descobriram outros pontos do país tão ou mais interessantes quanto a cidade maravilhosa. E o peso de ser o melhor e o pior do Brasil saiu dos ombros cariocas. Nossas ruas estão mais sujas, mais cheias. Até o nosso crime organizado, que já foi o mais violento da federação e um dos mais ferozes do mundo, perdeu a pose.

A cara do carioca também mudou. Depois de tanto tempo de supremacia nacional, o Rio decadente continua recebendo gente de toda parte. Gente boa e gente má. Gente feia e gente bonita. O carioca real, não a juventude bronzeada da zona sul que corresponde a uma magra fatia da população, também tem cabeça chata, pele escura e olhos claros ou pele clara e cabelo duro.

Seus modos também não são mais os mesmos. Do Brasil Império aos dias de hoje, o refinamento foi definhando com o passar dos planos econômicos, em ritmo vertiginoso e inversamente proporcional ao grau de escolaridade. Faculdades e templos religiosos brotam do chão como cogumelos mágicos trazendo uma falsa expectativa de status e paz de espírito.

Todos os dias, ônibus interestaduais despejam aqui pessoas que, como o Profeta Gentileza, chegam em busca do Rio que se vê nas novelas, se misturam como gotas ao mar de gente que inunda a cidade, sem planejamento, sem emprego e fora dos padrões de etiqueta (contudo, sem as más intenções) européias de nosso colonizadores. São pedras brutas, sem tempo para lapidação. Vêm erguer edifícios, cuidar de suas portarias. Os novos colonizadores fundam novos povoados, vilas ou favelas, como queiram chamar. Incham uma estrutura para lá de saturada.

Um dia não precisarão mais deixar suas cidades, virão a passeio ou contribuir, assim como Gentileza, com novas idéias, conceitos humanistas e mais leveza à paisagem carioca. Por enquanto, o trabalho é pesado, braçal e a vida, muito dura. Enquanto as coisas não melhoram, um pouco mais de gentileza com e entre eles já suavizaria o peso da cruz nas costas de todos que habitam a cidade maravilha. Nos ônibus, nos trens, nas ruas, nos bares, nas praias, em todos os lugares onde velhos e novos “cariocas” se misturam. Afinal, “gentileza gera gentileza”, como diria o profeta paulista. E “gentileza é fundamental” como canta Lenine, o músico pernambucano. Ambos exemplos de migrantes adotivos e adotados que queremos para nossa cidade. Só o melhor do Brasil, porque o pior já temos de sobra.

Ficou curioso sobre o Profeta Gentileza? http://www.gentileza.org.br/
Essa coluna foi ilustrada pela arte de Anderson Ferraro. Thank you, Sir.

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Janela indiscreta

Noite de sexta-feira, no 402. Nada de pedidos por telefone. A noite está fresca. Foi pessoalmente ao restaurante pedir seu yakisoba clássico. O atendente, com forte sotaque nordestino, porte franzino, aparência humilde, mas uma eficiência e fluência verbal estonteantes, se esforçava para atender o telefone e registrar pedidos, fazer contas, preparar trocos... Uma chata liga. Nunca deve ter ouvido falar em comida chinesa. O coitado tem que recitar todo o cardápio e ainda explicar do que se trata cada prato. Quando acabou de explicar, a chata desligou sem fazer um pedido sequer. De lados opostos do balcão, se olharam e riram. Riram muito. – Eu não acredito, ela te fez falar isso tudo e não pediu nada? E ainda está rindo? Você é um santo!

Madrugada de sexta-feira no 102. Aquele dia foi duro, como todos os outros. As mesmas ruas, as mesmas caras, o mesmo ritual. Há muito tempo nada mudava na vida daquela mulher que não tinha muito do que se queixar. A casa estava em ordem; as contas, pagas em dia; o trabalho, estável; a vida, sem muita pressão; comida, na mesa; todos, vivos. Também não tinha muito o que comemorar. Vivia uma vida em que absolutamente nada acontecia. As novidades se limitavam a um acidente de trânsito num dia; uma briga na vizinhança, noutro; pendengas familiares; descontos no contracheque. Os 20 anos haviam sido frenéticos, a única explicação para tamanho marasmo aos 30. Já seria a hora de esperar a morte chegar? Alcançara a idade avançada precocemente?

Almoço de sábado no 602. O macarrão ao sugo esfriava no prato. O cheiro do feijão da vizinha fazia sua barriga roncar. O aspecto do macarrão do dia anterior fazia seu estômago se contorcer. Precisava respirar devagar ou seu esôfago saltaria pelas córneas indo fazer companhia aos fiapos de macarrão que boiavam no molho vermelho ralo e frio. Um nojo. Lembrou da comida gordurosa do restaurante próximo ao escritório. Torcia para a segunda-feira chegar logo. Ao menos a lembrança do almoço no meio do expediente, trazia algum bem-estar para o começo do final de semana que se arrastaria impiedoso como as gotas que sempre caem da torneira do banheiro ao lado do quarto de um insone desesperado com as primeiras luzes do novo dia.

Sábado à noite no 602. Todos os apartamentos daquela coluna estão apagados. No dele, apenas a luz do monitor está acesa. Está há mais de duas horas num chat. Não conseguiu manter um diálogo por mais de dois minutos com nenhuma mulher. Devem perceber seu desespero. Sua ânsia. Seu pavor de enlouquecer ou morrer sozinho naquele quarto. O tempo está passando. Sente o peso do tempo a cada minuto e sua mente é um disco arranhado repetindo o mesmo mantra triste a cada fração de segundo. Ouve um estampido próximo. Abaixo. Erra os botões do teclado com o susto. Parece um disparo. Suas pernas doem ao tentar se levantar para ir à janela. Desiste. Tenta conter a respiração ofegante, talvez pelo susto, talvez pelo esforço de tentar se levantar. Fica em silêncio, mas nenhum som, a não ser o das televisões dos vizinhos, se ouve. Volta a digitar.

Sábado à noite no 102. Cansou. Não suportava mais. Esperava acontecimentos. Então, quando acontecia, era festa em outro apartamento... Nada como um dia após o outro para perceber que nada mais estava guardado para ela. As surpresas da vida vieram todas. Não havia mais paciência dentro dela. A rotina e o tédio haviam se instalado de mala e cuia e corroíam seus ossos, órgãos e tecidos. Desta vez, ela seria a novidade para outras pessoas como ela, que dependiam das desgraças alheias para ter o que contar. O pequeno revólver de seu pai – deixado sob sua guarda por ser a pessoa mais calma e confiável da família – foi carregado e disparado. Acabou tudo. O tédio, a rotina e qualquer chance da novidade que insistia em não aparecer e talvez até já tivesse dado meia volta, é bem verdade. Pouco tempo depois, os paramédicos desistiriam de reanimá-la. Chegaram tarde. Deviam ter tentado em vida.

Sexta-feira à noite no 402. Seu pedido ficou pronto. Voltou para casa. Ao abrir o pacote. Além da caixinha de comida, dos palitos, do biscoito da sorte, havia uma outra caixinha com dois rolinhos primavera e molhos agridoces. Devorou-os. Pegou o telefone. O atendente respondeu. – Olha, os rolinhos, foi muita gentileza sua, estavam deliciosos. Muito obrigada. – Você gostou? Que bom. Volte sempre.
Ele tinha se comovido, ninguém jamais havia reparado no seu esforço em atender bem clientes chatos. Teve vontade de agradecer a atenção. Por isso, a cortesia.

A ilustração que anima esta coluna é de Wagner Paula. Thanx, man!

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Uma festa punk

"Armados das razões que a discussão sobre a razão sempre cria, os jovens, porque eram sobretudo eles quem realizava as acções mais espectaculares, teriam podido fundamentar com mais convicção o seu protesto, tanto na escola como na rua, e na família, não esqueçamos. Pode-se discutir se os jovens, munidos de razões, teriam dispensado a acção direta, caso em que se concluiria pelo efeito apaziguador da inteligência, ao contrário do que tem sido convicção desde o princípio dos séculos."
(José Saramago, em Jangada de Pedra)

Quase tropecei num "ex" dos tempos de faculdade na saída do filme Edukators. Ele nunca foi muuuito engajado, mas, vá lá, era bem bonitão. Empolgadíssima, tinha acabado de identificar meus heróis na telona. Muito mais do que em qualquer adaptação dos quadrinhos pela Sétima Arte, aqueles jovenzinhos da trama eram tudo o que eu queria ter sido quando era mais nova.

"E aí? Maneiro o filme, né?" Eis que o Bonitão resolve jogar água na fervura. "Hum... interessante." "Como???" "Pois é, meu pai sempre me dizia..." Foi então que veio a pérola: "Não ser idealista na juventude é alienação, ser idealista depois dos 30 é idiotice". CHOQUE! Não só pela frase. Por quem a disse. “Vou ali e já volto”, dei as costas e fui embora aos risos.

Admito que o sangue vem correndo cada vez mais devagar e menos quente pelas veias. Vários fios de prata já enfeitam a antes negra grinalda. A vista está cansando e o fôlego já não é mais aquele, olha a cara dele... Mas a desobediência permanece, contra o sistema, contra a política, contra a polícia, contra os bandidos e, se nada resolver, contra o síndico, que seja. Contra qualquer autoridade autoritária. Porque se nunca foi proibido proibir, ainda é rebelde quem se rebela e grita. O “quem sabe faz a hora”, de ontem, virou o “paz sem voz, não é paz é medo”, de hoje.

É verdade que o mal se prolifera mais rápido e com mais eficiência amparado na conivência omissa e silenciosa da maioria, que não abre a boca para reclamar do tanto de coisa ruim que vê por aí. Mas respiro aliviada quando vejo a minha geração “fazer comédia no cinema com as suas leis”. Somos burgueses sem religião. Gostamos de Adidas, crescemos nos reunindo nos Hollywood-Rocks da vida, nosso colesterol cheira a BigMac, bebemos Coca-cola, mas nosso Kennedy favorito se chama Jello, e não Bob ou John, e nossos filmes são pra lá de punks. Não necessariamente na estética, mas na alma (e no orçamento!). Espetamos sim, com poesia. Bicho de sete cabeças, O homem que copiava, Caramuru, Cidade de Deus são apenas alguns exemplos de uma malandragem que cresceu do jogo de cintura de quem não (sabia se) podia falar, tendo muito pra dizer. E, pelo andar da carruagem, vem muito mais por aí.

Não tomamos as ruas, não fazemos passeatas, não quebramos vitrines. Vamos para escola estudar cinema, design, moda, propaganda, marketing. Temos várias décadas pela frente ainda para usar o sistema a nosso favor e influenciar pessoas. Pode ter sido uma decepção, mas o candidato que foi da esquerda na nossa juventude é o presidente agora. Nosso nível de instrução é maior do que o dos adultos na faixa dos 30 e 40 anos das gerações anteriores. A mídia tem olhado mais para os jovens de hoje do que costumava olhar no passado. Abriram esse caminho colocando a gente na escola cada vez mais cedo. E, até hoje, não deixamos de lado os bancos universitários nem para trabalhar. As mulheres, em especial, conciliando sua educação, a dos filhos, o trabalho e a casa.

Estamos no meio do caminho entre os que não dispunham de muita informação e os que têm informação demais e não sabem usá-la ainda. Minha geração tem a faca e o queijo na mão e tem se servido muito bem. Quer um pedacinho?

A arte que melhora esta coluna é de Wilson Domingues. Thanx, Wilbor!

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Acho que perdi


primeira vez
ela vinha na direção do ponto do ônibus. nunca a vi por aqui. ainda tem os cabelos molhados e os olhos inchados de sono. ela anda depressa e cabisbaixa, mas quando levanta os olhos, se depara com os meus. Tímida, desvia, mas olha de novo para se certificar. É pra você que estou olhando. Não aguenta por muito tempo e desvia de novo. Será que voltou a olhar por curiosidade ou por que também gostou de mim? Pegou a primeira condução que passou. Acho que a perdi.

segunda vez
Há semanas que não o vejo. Ele tinha o cabelo molhado, calça e sapatos pretos sociais que não combinam nada com a pólo de malha vermelha. Mas que olhos - azuis, fixos, curiosos. Ele não deve estar lá hoje. Provavelmente, nem é daqui. Devia estar no ponto, depois de passar a noite na casa da namorada...

Estou atrasada, preciso correr. Ganho a rua a tempo de tomar o ônibus. Faço sinal e, que susto, sem me ver, sobe na minha frente. Sem muita certeza, me olha pelo canto do olho e senta no primeiro lugar que encontra. Também parece surpreso. Sento à sua frente. Logo depois, me levanto. Próxima da porta, viro e o encaro. É mesmo bonito. Desço e, de fora do ônibus, vejo seu olhar me acompanhando, meio sem acreditar, mas já acreditando. Agora ele sabe. Foi bom vê-lo de novo.

terceira vez
Não é sempre que ela está aqui, mas os cabelos e os olhos estão exatamente como da primeira vez. A pressa também é a mesma. Está inquieta hoje. Virou duas vezes para me olhar. Deixo que suba na minha frente e escolha o lugar. Não há ninguém entre nós. Que bom, escolheu um banco vago. Olho no fundo de seus olhos, peço licença e sento ao seu lado. Sinto seu perfume e o frescor da sua pele. Por que esse motorista corre tanto hoje? Não pega um sinal fechado. Um amigo entra no ônibus, nos cumprimentamos. Falo qualquer coisa com ele. Nem me lembro mais. Ela me pede licença e levanta. Levanto também para lhe dar espaço e ela pisa no meu pé. Pede desculpas sem me encarar para que eu não note seu rubor. Desejo bom dia. Ela sorri e desce. Quase morri, ela me acenou de fora do ônibus.

quarta vez
Não está aqui hoje. Abro a bolsa, procuro o celular para ver se já está na hora de ele chegar. Faltam 2 minutos. Inclino o rosto para guardar o aparelho e percebo duas sombras atrás de mim. Meu Deus, é ele. Camisa branca, agora sim, combinando com os mesmos sapatos e calça pretos. A luz do sol bate no branco de sua camisa e reflete nos olhos ainda mais claros do que antes. Está conversando. O ônibus chegou. Entramos. Eu, ele, o amigo. Ele fala com alguém dentro do ônibus. No fundo, há três lugares, sento-me ansiosa, o amigo o deixa passar, ele se aloja ao lado da moça no canto oposto com quem falara ao entrar. Ao meu lado, senta seu amigo. O ônibus arranca e ele me observa pelo reflexo do vidro à nossa frente. Tento prestar atenção na conversa de outros passageiros. Levanto e desço sem olhar pra trás. De dentro do ônibus, ele me acena com ar pesaroso, devolvo um aceno triste.

última vez
Desanimada, chego ao ponto sem a esperança de vê-lo. Já fazem vários dias. Dois ônibus depois, ele chega, me vê e não me encara. Abaixa a cabeça, finge contar moedas. Pegou a primeira condução que passou. Sem me olhar, entrou na lotação e partiu. Sem acenos. Acho que o perdi.
A arte que ilustra esta coluna é de Wagner Paula. Thanx, man!

sábado, 29 de julho de 2006

Resenha: GANGSTA RAP

Autor: Benjamin Zephaniah
Editora Cia. das Letras
254 páginas

O pai bebe e passa o tempo todo gritando com a mãe que, por sua vez, revida aos berros. A irmã mais nova ouve uma música irritante. Dentro de casa, ninguém se entende. Na escola, os melhores amigos já foram expulsos, a matéria é chata, os professores não dizem nada que se pareça com a realidade em que ele vive. E, por analogia ao que vê em casa, discute com um professor e ganha a expulsão e as ruas. Tudo o que ele quer é ouvir hip hop e fazer suas próprias rimas em paz. Como fazer uma história assim dar certo?
Até certo ponto, você deve ter pensado tratar-se de um adolescente brasileiro. Mas a sexta frase levou você direto para um gueto americano qualquer. Errei? Pois quem errou foi você. Estou falando de um guri negro de 15 anos chamado Ray, morador do East End Londrino, o protagonista do último romance escrito pelo inglês Benjamim Zephaniah. O autor, ainda pouco conhecido dos leitores brasileiros, porém manjadíssimo dos ingleses, é um artista na maior concepção da palavra. Faz poesia para crianças, romances para adolescentes, dub para adultos. Apresenta programas de TV e de rádio, inclusive para respeitada BBC. Assim como John Lennon, recusou o título de Oficial da Ordem do Império Britânico, uma comenda oferecida pela Rainha da Inglaterra a poucos.
Em Gangsta Rap, Zephaniah, um artista negro rastafari, usa a sua própria experiência de vida para descrever uma realidade que pouca gente associa à Inglaterra. Um cenário de discriminação racial entre ingleses de etnias e bairros diferentes, sob o pano de fundo do estereótipo da delinqüência juvenil e no ritmo da batida do rap. Com uma linguagem muito próxima da que se usa nas ruas e uma trama envolvente, BZ cativa o leitor até a última frase. Ora surpreende, ora choca, diverte e emociona quem acompanha a saga dos três meninos da periferia salvos da marginalidade graças a um projeto educacional que aproveita seus talentos artísticos para mantê-los estudando. Mas esse é apenas o começo da história. Briga de gangues e um retrato emocionante e, por vezes, realista dos bastidores da indústria pop ajudam a tornar esse romance uma promessa de blockbuster.
Cabe ainda ressaltar a sensibilidade do tradutor, trazendo com naturalidade para a língua portuguesa a linguagem jovial e pouco convencional das ruas londrinas, e a elegância do autor que, apesar de dirigir seu trabalho para a moçada, em nenhum momento apelou para temas corriqueiros como drogas e sexo para prender a atenção dos leitores. Mesmo as mensagens mais pacíficas e edificantes foram passadas sem pieguice. Um livro para adolescentes que muitos pais e professores deveriam ler.

sábado, 22 de julho de 2006

Resenha: O segredo da nuvem

Em seu 4 livro dedicado à molecada, o escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão traz sua paixão pelo cinema e pelo fantástico para o universo infanto-juvenil. Em O segredo da nuvem, ele parte da fantasia. Tudo começa quando Ivo, um cidadão comum, se depara, de uma hora para outra, com uma nuvem sobre sua cabeça. A narrativa sem rodeios surpreende ao brindar os jovens leitores com reflexões sobre a mídia, o sucesso, a cultura da imagem e das celebridades. Apesar de inusitado, o enredo é salpicado por um realismo pra lá de atual sobre as aflições comuns à vida numa cidade grande cercada de perigos e insegurança, numa liguagem bastante próxima do público a que se destina, sem porém fugir do estilo e da elegância típicos do autor. A obra mostra uma mistura muito bem sucedida entre o lúdico e o real e deixa bem claro que nessa vida nem tudo pode ou deve ser explicado. Enfim, um livro especial para leitores especiais.

sábado, 8 de julho de 2006

A força do prazer

Todo mundo deveria trabalhar só com o que gosta. Não é preciso fazer nenhuma pesquisa para comprovar o fato de que rende mais quem trabalha por prazer. Olhe em volta. Quantas pessoas você conhece que trabalham com o que gostam realmente e não por necessidade? Pouquíssimas? Nenhuma? Então, pense em uma escala maior. Pense em nosso país.

Brasil. População: 186 milhões de pessoas. Muita gente? E mesmo com toda essa mão de obra barata, mesmo com toda a extensão territorial, em proporções continentais, somos subdesenvolvidos. E não é só porque fomos colônia de exploração. Não é só porque tem muita gente “metendo a mão”. Graças a Deus, o número de “lalaus” é infinitamente inferior ao da população brasileira (esperamos!). Também é inadmissível dizer que o povo não gosta de trabalhar. Então, qual será o mistério da terra brasilis?

Se pararmos para analisar em quais setores o Brasil dá certo, a primeira palavra que nos vem à mente é CULTURA, em suas diversas formas: música, literatura, novela, moda... e até futebol, de vez em quando. Então, eu pergunto, será que Jorge Amado escrevia por obrigação? Será que Tom Jobim compunha apenas para botar feijão à mesa? Será que Alexandre Herchcovitch cria novas peças somente para pagar o aluguel? Já repararam no rosto do Ronaldinho Gaúcho durante os jogos do Barça? Não é possível que seja apenas por uma questão ortodôntica que aquele menino não feche a boca para jogar. Ele joga sorrindo! Ele se diverte com o que faz. E, benza Deus, é muitíssimo bem remunerado por isso. Mas, pelo visto, nem precisava. Ao que tudo indica, ele se divertiria do mesmo jeito se ganhasse metade (o que ainda seria muito!).

O contrário também acontece. Não raro ouvimos notícias de um e outro jogador em fim de carreira (mesmo que eles não se convençam disso), ameaçados de corte pelo técnico, caso não apareçam no treino ou façam o esperado – JOGAR DIREITO. Mas esses, cansados de guerra, entediados com a fama e marrentos demais para sentirem prazer com o que quer que seja lícito, não rendem mais. Já deram o que tinham para dar. A menos que estejam numa partida com amigos nas horas vagas, nas boates da Europa ou dirigindo carrões que compram com os prêmios por suas atuações, sejam boas ou medíocres. Aí, sobre salto altíssimo, o prazer está de volta!

Na música não é diferente. Sempre que se comenta sobre um músico que está fazendo cera para subir ao palco ou gravar um novo disco, é notório: sua criatividade já não tem mais o fôlego de outros tempos. Por outro lado, há os que nunca perdem a fome de bola. Como se vê nos milhares de DVDs lançados sobre a vida, a obra, os hobbies, as parcerias... de Chico Buarque. E provando que ainda bate um bolão, intercala ótimos cds, livros e fenomenais participações em trilhas sonoras para cinema e teatro.

Mademoiselle Garrafiel, editora do Armazém Literário, é uma abnegada guerreira que também entra em campo por puro prazer. Conduz o tal site com a seriedade de uma criança entretida com seu brinquedo favorito. E ai daquele que tentar tirar o brinquedo da mão dela. Leva até uma mordida. Que o digam os gatunos “jornaleiros” que andam espalhados pelas redações cariocas...

Com boa remuneração ou não, nosso povo tem um monte de talentos espalhados por aí. É gente que faz e deixa fazer. Há de chegar o dia em que as pessoas poderão escolher o que querem fazer e se preparar para isso. Então, nosso país será potência em muitas coisas, inclusive no orgulho que sentimos quando nos é dada a chance de exibir nossa Arte (e quando sabemos aproveitá-la), com reconhecimento garantido em palcos, telas, páginas, muros, passarelas e ouvidos do mundo inteiro. Seja ela com bola, com palavras, com notas ou peças, mas, acima de tudo, com muito prazer.
A arte que ilustra esta coluna é de Wagner Mourão. Thanx, boy!

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Noites contadas

Sempre quis morar na Lapa. Achava que estar dentro do furdunço, além de me poupar bastante tempo com deslocamento e dinheiro de passagem, poderia ser muito divertido.

Sempre imaginei o que seria das pessoas que não curtem o agito, mas que, por falta de opção ou grana, se vêem obrigadas a morar ali. Achava um abuso terem fechado o Circo Voador nos anos 90 sob alegação de que o barulho incomodava a vizinhança. E resumia toda a situação com a máxima mal criada: “Os incomodados que se mudem”.

O tempo passa, o tempo voa... Hoje já nem acho mais tanta graça na Lapa. Continua um fervo, mas a idade vai chegando e, antes de sair, já começo a me questionar se vale mesmo a pena encarar mais uma noite de perrengues para chegar e para sair de lá. Até porque, para quem não mora na zona sul, as facilidades de transporte são quase nenhuma. Nem parece que falamos de uma grande cidade...

E nessas voltas que o mundo e a vida dão, acabei parando no olho do furacão. Não na Lapa, mas em um bairro do subúrbio. Ontem mesmo, foi a noite dos motoqueiros no bar localizado no térreo do prédio para onde recentemente me mudei. Quem diria, a quinta-feira dos motoqueiros foi muito mais tranqüila do que a quinta dos forrozeiros no mesmo bar! Já não se fazem mais motoqueiros como antigamente.

Nesse bar, nos finais de semana tem músicos tocando ao vivo. Para os que pensaram “xiiiiiiiii!”, preciso avisar que o repertório é muito bem escolhido. Quase todos os artistas citados nesta coluna são bem executados nesses shows, Lenine, Seu Jorge, Pedro Luís, Djavan. Nem ligo o som à noite, fico só filando na aba do tal bar. Que sorte a minha, Lapa suas noites estão contadas...

Ressalva: Hoje só saio do meu bairro à noite rumo à Lapa se a desculpa for muito boa. Exemplo? Show da Nação Zumbi, dia 02 de junho. Essa, nem com a maior das preguiças, daria para perder.

CINEMA – SUGESTAS

"Crime Ferpeito": Cinema espanhol para rir.
"A festa de Margarette": Cinema - mudo, p&b, de humor e crítica social - brasileiro!!!! No mínimo, curioso.
"Herencia": Cinema argentivo (oba!!!) para pensar e se emocionar.
"Manual do amor": A história de quatro casais que passam por momentos diferentes, mas pelos quais todos os casais passam, já passaram ou ainda vão passar. Num deles podem estar vocês. Além do mais, é um filme italiano!!! Será que é bom? Mama mia!
"16 Quadras": Mos Def!!!! Teve gente que chorou no final. Levem lenço!
"A lula e a baleia": Crianças vêem a separação dos pais de modos diferentes.
"Clube da lua": Cinema argentino para rir, pensar e se emocionar.
E os nacionais "Araguaya", "Árido Movie" e "A Concepção".

PROGRAM(aç)ÕES

SEXTA, 26/05
• Saraiva Mega Store. Todas as sextas na hora do almoço, pocket shows bem legais. Rua do Ouvidor, 98, às 12:30h. Grátis
• Ronca Ronca. Festa lendária do fotógrafo e produtor musical Maurício Valladares. Teatro Odisséia. R$ 20
• Jorbe Benjor e a banda do Zé Pretinho. Antes de animar os alemães na Copa do Mundo, eles aterrissam sob a lona voadora. Circo Voador. R$ 40

SÁBADO, 27/05
• Jorbe Benjor e banda do Zé Pretinho. Antes de animar os alemães na Copa do Mundo eles aterrissam sob a lona voadora. Circo Voador. R$ 30

DOMINGO, 28/05
• Teatro a R$ 1. Boa chance para quem – como eu – está s/ dindim. Nos teatros da prefeitura
R$ 1

TERÇA, 30/05
• Bena Lobo. Toca faixas do seu novo disco “Sábado” e pérolas da MPB, com Wanda Sá. Modern Sound. Grátis
• Lia de Itamaracá. A senhora da ciranda pernambucana está no Rio!!!! Na quarta-feira também!
Teatro Rival. R$ 24
• Loucos por Música. Djavan, Max Viana e (fazer o q, né?) Daniela Mercury, juntos por uma boa causa. Renda revertida para o Centro do Teatro do Oprimido e Associação Koinos. Canecão. R$ 30

SEXTA, 02/06
• Bate-papo com Luiz Alberto Py
O psicanalista e autor de Saber Amar - Gerenciando os Sentimentos com Inteligência, dá dicas para escapar das diversas armadilhas do amor e discute questões como a busca pelo par ideal, o amor não-correspondido, o ciúmes doentio e a dependência afetiva nas relações. Py também é psiquiatra, deve entender bem do assunto!!!!
Saraiva Mega Store - Shopping Tijuca, às 18h. Grátis.
• Palco Pernambuco. Nação Zumbi e convidados (Otto, Céu, Ciba e Paralamas do Sucesso) Show de abertura Mombojó. Circo Voador. R$ 30.

SÁBADO, 03/06
EDIÇÕES K. Lançamento do livro de poemas Teatro das horas, de André Setti, e do volume de contos O som de nada acontecendo, de Estevão Azevedo.(www.edicoesk.blogspot.com) Sebo Baratos de Ribeiro (nº 354), às 14h. Grátis.

EXPOSIÇÕES
MIRABOLANTE MIRÓ
Acervo de 172 gravuras e 25 pôsteres, vindos da Galeria Lelong, de Paris, com a obra dos últimos 20 anos do catalão Juan Miro. Até 04/06, no MAC. Das 10h às 18h(Ter. a dom.). Grátis.
• Luz e sombra na pintura italiana entre o Renascimento e o Barroco
65 telas de 37 artistas italianos dos sécs. XVI e XVII. Até 04/06, no Paço Imperial. Grátis.
• Ukiyo-ê, Cenas do Mundo Flutuante. 80 obras japonesas, do séc. XVIII, no estilo Ukiyo-ê (desenhos que expressam a transitoriedade de um mundo “flutuante" e despreocupado, ligado ao erótico). Museu Nacional de Belas Artes, até 11 de junho. Das 10h às 18h. Grátis.

terça-feira, 23 de maio de 2006

Amigo urso


Cresci com um “dilema ecológico-existencial”. Por que nos filmes dos estúdios Disney todo mundo tinha medo de ursos se o Zé Colméia também era urso e era tão legal? Mesmo sem conseguir resolver essa equação, ela serviu de modelo para algumas posições que tive que assumir posteriormente. Explico, se o Zé Colméia era legal, os índios americanos não deviam ser assim tão malvados como os filmes queriam nos fazer crer. E mais tarde, os russos durante a Guerra Fria, os Vietcongs, os muçulmanos, os iranianos, os narcoguerrilheiros, o capitão Marcos...
Como eu ia dizendo na coluna anterior, assino uma revista que traz sempre uma diversidade de informação e curiosidades para todos os gostos, a National Geographic. E uma reportagem que me veio à lembrança recentemente foi a publicada em julho de 2001, sobre os assustadores ursos grizzly que (sobre)vivem na América do Norte.

Como todos vocês sabem, esses ursos são enormes, peludos e muito perigosos. Sabem, não sabem? Pois é, eu não sabia. Nem nunca tinha ouvido falar neles. De repente, fiquei sabendo de pessoas que ficaram deformadas para o resto da vida depois de terem sido "abraçadas" por um urso desses. Acampamentos invadidos e assaltados pelos peludos anarquistas (esses, sim, devem ter sido do bando do Zé Colméia, aquele malandro!). Antes de ser capturado entre as coníferas do norte de Idaho, um urso de apenas 2 anos transformou em palitos algumas árvores e a área próxima em um furdunço para madeireira clandestina na Amazônia nenhuma botar defeito.

Isso sem contar que um urso de 70kg precisa comer 2,5 mil mariposas do tamanho de uma jujuba por hora (ou 40 mil por dia) para acumular a energia necessária para se manter por um ano. Não tem vergonha? Por que não vai procurar alguém do tamanho dele? Deve ser porque uma mariposa dessas guarda mais caloria por grama do que a carne de um cervo. Eles podem até ser maus, mas, admitamos, os danados são inteligentes.

Em 1996, um urso invadiu um alojamento de vaqueiros, roubou farinha e açúcar, bebeu o uísque dos meninos e deixou vazio o frasco de Aspirina. Tempos depois, o fanfarrão foi visto, arrancando cascas de salgueiros, que não fazem parte da dieta dos ursos. Estranho? Não, a casca dessa árvore é rica em ácido salicílico, também conhecido como... Aspirina. Coitadinho, devia estar procurando remédio para dor!

Inteligentes. Coitadinhos. Estão sentindo uma certa simpatia no ar? Sabem o que é, vou explicar. Quando eles andam, remodelam com as patas o terreno, lançam sementes e liberam nitrogênio das camadas inferiores do solo, deixando-o muito mais rico e fértil para algumas espécies de plantas. Quando comem, espalham sementes de cerca de 70 mil frutos silvestres por dia, reflorestando as áreas das árvores que eles mesmos destroem para palitar seus dentinhos.

Vistos sob esse ângulo, até que os ursinhos parecem melhores do que muitos humanos. Alguns de nós parecemos tão graciosos, mas temos um abraço mais letal e traumatizante do que o de qualquer grizzly. Por outro lado, outros parecem não valer muita coisa e acabam surpreendendo, mostrando um terreno bem fecundo e garras, que pareciam tão ameaçadoras e inconseqüentes, capazes de carinhos e gestos os mais singelos.

Será que o lado bom que temos guardado é nosso urso escondido? Ou será que o lado mau de cada urso é o pouco de humano que eles têm guardados neles?

(Esse texto é dedicado ao “amigo urso” W. Mangelo.)
A ilustração que melhora esta coluna é de Anderson Ferraro. Thanx, Sir.
Filme sugerido: “O homem urso” ou “Grizzly Man”

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Marte foi apenas um ensaio, por isso os homens devem mesmo ser de lá...

"Tendo a Lua aquela gravidade
Aonde o homem flutua, merecia a visita
Não de militares, mas de bailarinos
E de você e eu..."
(Tendo a Lua, Herbert Vianna)


Desde pequena leio o JB. Sempre adorei ler o "Perfil do consumidor", que trazia as preferências de pessoas, na maioria das vezes, interessantes. Também respondia! Secretamente, e de formas diferentes a cada semana. Um dos itens do Perfil era "Homem inteligente". Nesse, a resposta era sempre a mesma - Marcelo Tas. Acompanho o trabalho dele há quase tanto tempo quanto o que leio o JB. Mas o tempo passou, cresci e Ernesto Varela (personagem de Tas) parou de aparecer na TV. Quando voltamos a nos encontrar, cada um de um lado da tela, ele apresentava o programa Vitrine, na TV Cultura, que falava de internet e cultura em geral.

Desmarcava qualquer compromisso para assisti-lo. Chovendo ou fazendo lua (porque passava à noite), lá estava eu grudada no sofá, babando diante de tanta sapiência e simpatia. E ai de quem ligasse na hora do programa para interromper meu esperado momento de deleite semanal. Um dia, durante um bate-papo, um entrevistado perguntou a Tas se ele tinha o hábito de ler a revista Playboy. E ele respondeu: "Não, eu não leio revistas de mulheres nuas. Eu leio revista de bichos nus: assino a National Geographic". (risos)

Nesse momento, meu coração quase parou de tanto orgulho. Também assino a revista! Meu Deus, leio a mesma revista que ele!!!!!!!!! Imaginem o que é para uma fã, dividir a mesma leitura com o ídolo...

Pois bem, essa história toda para falar de uma publicação que é muito mais do que uma revista de "bichos nus". Com exceção das matérias que envolvem aspectos políticos, das quais sempre discordo, a NG é impecável. Da forma elegante e inteligente como é escrita ao cuidado com as imagens, a revista é um banho de diversidade e curiosidades para todos os gostos.

Uma das matérias mais interessantes que já li foi a publicada em julho do ano passado, que descrevia o resultado das pesquisas feitas em Marte com base nas imagens enviadas pelos robôs Spirit e Opportunity, mandados ao planeta vermelho pela Nasa. Segundo os olhos quase humanos dos tais robôs, a superfície de Marte apresenta indícios de já terem escorrido por lá córregos, lagos, rios e mares, ou seja, uma grande quantidade de água, mais ou menos como um certo planeta que conhecemos...

O estudo do solo identificou formações de rocha iguais às encontradas em Utah, nos EUA, e apelidadas pelos índios locais (hopis) como "bolinhas de moqui", uma espécie de brinquedo dos espíritos dos seus antepassados. Tem mais! Os minerais marcianos são semelhantes aos encontrados na fronteira entre o Chile e a Argentina, onde os regatos possuem uma forte coloração avermelhada por conta da presença de hematita. Até um cânion de 7km de profundidade há em Marte.

Diante dessas e de outras semelhanças entre o planeta comunista e o nosso mundinho, fica difícil não acreditar que já houve gente andando por lá. E uma mente transloucada como a minha foi um pouco mais longe, já imaginando que o Cara que criou isso tudo aqui, andou ensaiando por lá antes. Fazendo uma espécie de rascunho do que viria a ser o nosso planeta. Deve ter sacado que usou algumas fórmulas erradas, exagerou no sal ali, derrubou tempero demais acolá. Estragou a receita. Resolveu parar tudo e refazer com mais cuidado, aqui na Terra. Um dia, quando Ele voltar a olhar para cá e vir a caca que nós fizemos com o sítio Dele, vai botar um ponto final na receita como fez com Marte. Então, vai refazer tudo ainda melhor em Vênus, mas segundo a teoria que explica as diferenças entre homens e mulheres, os habitantes de lá, já estão prontos...

A ilustração que melhora esta coluna é de Wagner Mourão. Thanx, boy!

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Dormir

No ano passado, eu reclamei pra caramba porque o dia do trabalho caiu num dia de descanso. Este ano, a coisa é diferente. O dia do trabalho caiu num dos piores dias de trabalho, a segunda. Pra você, qual é a melhor maneira de ir à forra? Pra mim, é dormindo. Vou aproveitar pra dormir até tarde. Ou de repente, até trocar o dia pela noite.

Não vou precisar me sentir melancólica (e até deprimida) quando ouvir a música de encerramento do Fantástico. Nem xingar a Glória Maria quando ela desejar “Uma boa semana”. Já repararam que ninguém na tv nos deseja um bom final de semana na sexta-feira à noite???

Que maravilha não ter de ir trabalhar na segunda-feira!!!! Melhor seria mesmo não ir mais trabalhar e continuar recebendo (de preferência com aumento trimestral, corrigido de acordo com a inflação real – aquela que vemos nos supermercados todo mês). Que tal, hein?

Vou mandar minha proposta para a agência de propaganda que está colocando criancinhas no ar falando de como vai ser o futuro. Elas só deram idéias caretas... Nada de REALMENTE divertido.

Alguém sugere algo diferente? Algo melhor? Duvido que sejam capazes...

DROPs
Maquinado: Esse é o nome da banda paralela de Lucio Maia (Nação Zumbi) + cabras da banda Cidadão Instigado. O som já está registrado e o namoro com gravadoras já começou. Atenção, carangueijos fãs dos Zumbis, antenas ligadas e barbas de molho...
Monobloco e Sisters of Mercy: 12 e 20 de maio, respectivamente, no Circo Voador!!!
Em maio, PE NA LAPA!!!!!!!!
• Otto: 12 de maio, no Odisséia
• DJ Dolores: 19 de maio, Odisséia
• Lenine: 20 de maio, na Fundição.

CINEMA – SUGESTAS
•"Crime Ferpeito": Cinema espanhol para rir.
•"A festa de Margarette": Cinema - mudo, p&b, de humor e crítica social - brasileiro!!!! No mínimo, curioso.
•"Tempo de Valentes": Cinema argentivo (oba!!!) para rir.
•"Bonecas Russas": Continuação de "Albergue espanhol", uma produção franco-inglesa e que conta com a doce Audrey Tautou (Amelie Poulain).
•"Manual do amor": A história de quatro casais que passam por momentos diferentes, mas pelos quais todos os casais passam, já passaram ou ainda vão passar. Num deles podem estar vocês. Além do mais, é um filme italiano!!! Será que é bom? Mama mia!
•"16 Quadras": Mos Def!!!! Teve gente que chorou no final. Levem lenço!
•"A lula e a baleia": Crianças vêem a separação dos pais de modos diferentes.
•"Paradise Now": O que acontece quando ataques suicidas não saem como o planejado?
•"Estrela Solitária": Não, não é sobre o Garrincha, nem sobre o Botafogo. É um filme de Win Wenders.
•"Clube da lua": Cinema argentino para rir, pensar e se emocionar.

PROGRAM(aç)ÕES

SEXTA, 28/04
Digitaldubs Sound System. Lançamento do cd Brasil Riddims (dub, reggae e dancehall). Teatro Odisséia, às 23h. R$ 16

SÁBADO, 29/04
•Microafetos. Lançamento do livro de poemas "Microafetos", de Wladimir Cazé. Sebo Baratos da Ribeiro (nº 354), às 14h. Grátis.
•Pessoas do Século Passado. Festa de rock/ pop/ mpb com o dj Dodô (esse cara é bom!). Casa Rosa (R. Alice, nº 550), às 23:30h.R$ 15
•Bangalafumenga. Cair na gandaia!!!! Teatro Odisséia, às 23h.R$ 20

DOMINGO, 30/04
•Echo & the Bunnymen. Eles voltaram. Claro Hall, às 20:30h. R$ 80

SEGUNDA, 01/05 FERIADOOO!!!!!!!!!
•DORMIR. Sonhar, roncar, descansar.Em casa. Grátis.
•TIM Música: Fernanda Abreu, Nando Reis e, infelizmente, Kid Abelha (bleargh!) – Deve dar pra sair mais cedo da praia... eheheheheObs.: Altura da Rua República do Peru. Praia de Copa, às 18:30h. Grátis.

SEXTA, 05/05
•Bonsucesso Samba Clube + DJ BRUNO PEDROSA (Esse cara também é bom!)E viva PE NA LAPA!!!! Teatro Odisséia, às 21h. R$ 20

EXPOSIÇÕES
•MIRABOLANTE MIRÓ. Acervo de 172 gravuras e 25 pôsteres, vindos da Galeria Lelong, de Paris, com a obra dos últimos 20 anos do catalão Juan Miro, no MAC. Das 10h às 18h(Ter. a dom.). Grátis.
•CARLOS CONTENTE. Desenhos, pinturas, esculturas... A Gentil Carioca (R. Gonçalves Ledo 17, Centro). Das 12h às 19h(terça a sáb.). Grátis.
•Ukiyo-ê, Cenas do Mundo Flutuante. 80 obras japonesas, do séc. XVIII no estilo Ukiyo-ê (desenhos que expressam a transitoriedade de um mundo “flutuante" e despreocupado, ligado ao erótico). Museu Nacional de Belas Artes, até 11 de junho. Das 10h às 18h. Grátis.
•A geração emergente. Cerâmicas e porcelanas japonesas feitas pela nova geração. Até 21/05. CCBB, Das 10h às 21h. Grátis.
•17º SALÃO CARIOCA DE HUMOR ÚLTIMOS DIAS. Casa de Cultura Laura Alvim. Das 12h às 21h. Grátis.
•O melhor do fotojornalismo ÚLTIMOS DIAS. Fotos vencedoras do Prêmio Esso. Até domingo. Centro Cultural da Justiça Federal, das 12h às 19h. Grátis.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Eu sou Eddie



Aqui no Rio, muita banda boa pendurou as chuteiras porque o glamour da cidade-grande-capital-cultural-alto-falante-da-mídia-nacional cruelmente impõe aos corajosos artistas estreantes a obrigação de estourar e vender milhões e milhões de cópias. A responsabilidade de ter que estar sob a luz esmagadora dos holofotes midiáticos acaba pesando demais e se os caras não têm a marra do D2, a ginga do Falcão ou a persistência de um BNegão, acabam largando o osso mesmo.

Por sorte, há muitos artistas bons correndo por fora, vindos de lugares equivocadamente considerados "menores". Lugares menos ofuscados pelas luzes dos tais holofotes, onde a pressão é menor e o ar é mais despreocupado.

Daí, surge a pergunta: "por que no rio tem pato comendo lama?" Porque pato do Rio de “pato” não tem nada e sabe que a lama é rica pra chuchu. E tem "pato carioca" comendo a lama do mangue pernambucano pra ficar forte e feliz. Prova disso foram os recentes shows das bandas Eddie e Mundo Livre S.A., respectivamente no Teatro Odisséia e Circo Voador, num intervalo de apenas uma semana entre os dois, no mês de março.

"Animação" foi a palavra da noite no show de lançamento do álbum "Metropolitano", da banda Eddie. O Teatro Odisséia encheu para receber o quinteto de Olinda, liderado por Fabio Trummer (também apresentador de um programa sobre a cena musical pernambucana na TV local).

Mesclando as músicas novas com as dos cds anteriores Sonic Mambo e Original Olinda Style, os olindenses colocaram todo mundo pra dançar com o "gafieira style" característico da banda. Explico: um misto de samba canção, frevo e reggae, com toques latinos. Irresistível.

Recuperado do machucado no olho esquerdo, provocado pelo cão de estimação, que o obrigou a usar um tapa olho no show de abertura pra Seu Jorge, na festa "Enquanto isso na sala de justiça" (no pré-carnaval de Olinda), Trummer e seus passos desengonçados cativaram o público que agitou bastante e acompanhou no gogó todas as músicas dos trabalhos anteriores.

As músicas do disco novo – destaque para a faixa título, "Vida Boa", "Lealdade", "Maranguape" e "Fuleragem", instantaneamente absorvidas pelos presentes – soam exatamente como as já conhecidas do público: melancólicas, mas espirituosas. Dançantes, mas inteligentes. O que assegurou o bom andamento do show, que também contou com as citações a "Eu bebo sim", de Luis Antônio e João do Violão (incidental em "O Amargo"), "Cristina", de Carlos Imperial e Tim Maia – erradamente creditada à banda Picassos Falsos –, e "Retrato de um forró", do imortal Gonzagão.

Quem está lendo e lamentando por não ter ido, agora já sabe o que perdeu.

Eddie é Fábio Trummer (Voz e Guitarra), os gêmeos Kiko Meira (Bateria) e Rob Meira (Baixo), Alexandre Ureia (Voz e Percussão) e André Oliveira (trompete, teclados e sample).


PROGRAMAÇÃO

SEXTA, 21/04
•Cia. Miguel Angel Berna apresenta Mudéjar. Um jogo de luz, sombra e cores aliado à dança, resultando em um espetáculo de belas imagens em que quatro bailarinas e oito músicos espanhóis acompanham o belo mestre das castanholas Miguel Angel. Informações: http://niteroiespanha.com.br/portugues.php .
Teatro Municipal de Niterói, às 21h. Grátis.

SÁBADO, 22/04
•Samba de Jorge. Nei Lopes e outros bambas homenageiam São Jorge. CC Carioca, às 22:30h. R$ 20

DOMINGO, 23/04
•Main Street Singers. Grupo vocal americano canta spirituals e músicas folclóricas de lá.Candelária, às 16h. Grátis.
•Cia. Miguel Angel Berna apresenta Mudéjar. O mesmo show apresentado na feriado, no Teatro Municipal de Niterói. Praia de Icaraí, às 19h. Grátis.

SEGUNDA, 24/04
•Mostra Brasil juventude transformando com arte. Grupos de 9 estados brasileiros mostram sua arte. Nesta segunda, Afroreggae. (Distribuição de senha 1h antes.). Teatro Carlos Gomes, às 19:30h. Grátis.

TERÇA, 25/04
• Mostra Brasil juventude transformando com arte. Espetáculos de dança.(Distribuição de senha 1h antes.). Teatro Carlos Gomes, às 19:30h. Grátis.
• Badi Assadi. A surpreendente cantora e violonista apresenta seu cd Wonderland e releituras. R$ 15 p/ os 200 primeiros. Teatro Rival, às 19:30h. R$ 30
•Namadera. Banda do consagrado baterista Wilson das Neves. Estrela da Lapa, às 21h. R$ 15

QUARTA, 26/04
•Mostra Brasil juventude transformando com arte. Espetáculos de teatro, circo e música.(Distribuição de senha 1h antes.). Teatro Carlos Gomes, às 19:30h. Grátis.
•Badi Assadi. A surpreendente cantora e violonista apresenta seu cd Wonderland e releituras. R$ 15 p/ os 200 primeiros. Teatro Rival, às 19:30h. R$ 30
•Cinema na Toca: 112 anos de Ipanema. A livraria Toca do Vinícius apresentará o filme Vinícius, em um telão exposto na calçada. R. Vinícius de Moraes, 129/c, às 20h. Grátis.

QUINTA, 27/04
•Orquestra Popular Céu na Terra. Samba, jongo, maxixe, maracatu, ciranda, afoxé, bumba-meu-boi... T. Odisséia, às 23h. R$ 16.

EXPOSIÇÕES
•MIRABOLANTE MIRÓ. Acervo de 172 gravuras e 25 pôsteres, vindos da Galeria Lelong, de Paris, com a obra dos últimos 20 anos do catalão Juan Miro, no MAC.Das 10h às 18h(Ter. a dom.). Grátis.
•JB 115 ANOS – 115 FOTOS. Trajetória e melhores fotos do JB, com seleção do conceituado Evandro Teixeira. De seg. a sáb., das 12h às 18h.(abertura na segunda-feira, 24/04). Casa Brasil (Av. Paulo de Frontin, 568). Grátis.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Cara a tapa

"Meu coração é uma máquina de escrever ilusões
É só você bater pra entrar na minha história"
("Máquina de Escrever" – Mathilda Kóvak e Luís Capucho)

Duas amigas solteiras conversam e bebem. Uma, a decepcionada, enumera para a outra, que prefere não arriscar nunca, as desilusões que vem sofrendo nos últimos tempos. "Não acerto uma..." Se acertasse não estaria lá para contar história. A que ouve só balança a cabeça, ora de cima para baixo, concordando, ou endossando secretamente suas próprias convicções, ora da direita para a esquerda, lamentando pelas desventuras e caras quebradas da amiga desiludida. "Se os gatos têm sete vidas", filosofa a sofrida, "que bicho sou eu que tenho várias caras. Não me canso de parti-las." Que bicho será ela?

Quando já não havia mais espaço no muro, as lamentações tomaram um outro rumo, sem contudo deixar de sê-las, o cinema. Depois de tantos copos, as memórias se confundem, mas da turbulência de imagens hollywoodianas, algumas lembranças emergem intactas e oportunas para ilustrar a sina-das-mulheres-que-sempre-se-dão-mal. Ponto Final, de Wood Allen. “O que era aquilo? Não bastava o mocinho matar a que foi desejada, assediada e, depois de muita insistência, transformada em amante, ainda tinha que se dar bem no final?”

Também já um pouco tonta, a amiga convicta resgata Código 46. “O Tim Robbins transforma a suspeita do crime que investiga em sua amante, a engravida, a incrimina, e, no final, depois de ter a memória apagada, volta para casa, para a esposa e o filho. Vivem felizes para sempre. A suspeita fica desempregada, exilada, sozinha e lembrando de tudo...”

Furiosos, os circundantes que não haviam assistido aos filmes, mas prestavam atenção ao chororô das amigas pra lá de alcoolizadas e amarguradas, resolvem dar o troco por terem o final dos dois filmes revelados, comentando duas fábulas do noticiário daquela noite – “o brasileiro está casando mais e mantendo por mais tempo seus casamentos”...

Ao ouvir o comentário dos descontentes, a amiga que nunca desiste tenta convencer a que nunca se arrisca, e a si mesma, de que a culpa é só delas: "Se você não tem namorado é porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilo e medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim." A que nunca se arrisca lembra vagamente de já ter ouvido aquilo antes, mas desiste de descobrir quando e onde, pois percebe que precisa levar a amiga intrépida para a casa. Ambas cambaleantes, continuarão solitárias por muito tempo ainda, mas sempre amigas.

Sugestões:
Para os ouvidos solitários
– “Máquina de Escrever”, com Pedro Luís e A Parede, em Astronauta Tupy.
– “Amor Algum”, de Djavan, em Vaidade.
Para olhos solitários
– “Ter ou não ter namorado”, de Artur da Távola.

A ilustração que melhora esta coluna é de Anderson Ferraro. Thanx, Sir!

sexta-feira, 7 de abril de 2006

A melhor vista espanhola para o Rio

Quando era pequena, ouvia minha mãe dizer que seu sonho era conhecer a Espanha. Hoje em dia, ela nem toca mais no assunto, mas essa história me despertou uma ponta de curiosidade sobre o país.

Numa tarde do longínquo ano de 2005 (!), entrei no Paço Imperial para assistir ao filme Exílios. Nele, um casal deixa Paris e atravessa a Espanha – detalhe: boa parte do território a pé – rumo ao Marrocos. Ao passarem por Sevilha, os pombinhos entram em uma taberna e se deparam com um maravilhoso show de dança e música flamenca. À minha volta, os demais espectadores observavam atentos, enquanto eu, pele arrepiada, não conseguia conter as lágrimas que vertiam como esguicho de bebedouro... O que me fez pensar que talvez o sonho de minha mãe tenha sido passado para mim, não por herança genética, mas por osmose ou, quem sabe, por encontros de outras vidas!

Ambas ainda não tivemos a oportunidade de conhecer a Espanha, mas neste findi (até 30/04) a montanha vem até Maomé. A cidade de Niterói apresenta o Encontro com Espanha. Um festival de artes plásticas, música, dança, cinema, literatura e gastronomia deste país de língua irmã, com um povo europeu na cultura, mas de sangue latino. Vámonos!

Informações: http://niteroiespanha.com.br/portugues.php

DROPS
IMPERDÍVEIS:

Domingo, 09/04, às 19h, na Praia de Icaraí, apresentação do Ballet Flamenco de Andalucia, liderado por Cristina Hoyos, e seu espetáculo "Viaje al sur". E no feriado de Tiradentes, a Cia. Miguel Angel Berna apresenta Mudéjar – um jogo de luz, sombra e cores aliado à dança, resultando em um espetáculo de belas imagens em que quatro bailarinas e oito músicos acompanham o belo mestre das castanholas Miguel Angel, no Teatro Municipal de Niterói, às 21h, ou no dia 23, na praia de Icaraí, às 19h. TUDO DE GRAÇA!

Semana cultural de Santa Tereza. O bairro abre suas portas e de seus bares, restaurantes e centros culturais para fotografias que mostrarão as tradicionais festas populares brasileiras. E, na quinta-feira, vários grupos de diferentes pontos da cidade montarão um grande tapete de serragem representando a Via Crúcis. Isso mostra que o bairro mais boêmio e carnavalesco da cidade também tem um quê de religião. As exposições vão até 15/04. Grátis.

• Domingo, às 10h, na Quinta da Boa Vista, uma grande aula de ioga ao ar livre abrirá a Semana da Ioga, que oferecerá aulas gratuitas em várias partes da cidade até o dia 16/04. Informações: 2264-9037. Grátis.

• Vai só até o dia 21/04, a Feira Internacional de Linguagem Eletrônica – FILE, no Centro Cultural Telemar!!! Grátis.

PROGRAMAÇÃO

SEXTA, 07/04
•Marcelinho da Lua. Show do projeto Tranqüilo Sound System. Recomendo!
Odisséia. R$ 20
•O RAPPA. Show do acústico registrado em dvd. Fundição Progresso. R$ 70
Mãos ao alto!

SÁBADO, 08/04
Jack Johnson. Músico havaiano, toca sua surf music de estilo casual e semi-acústico pra molecada. Apoteose. R$ 100

DOMINGO, 09/040
Mercado Mistureba. As bandas Binário e Moptop, que abriu o último show do Oasis no Brasil, serão as atrações musicais da feira. Vale conferir. Teatro Odisséia. R$ 3 ou um Kilo de ñ-perê.

CINEMA – ESTRÉIAS
"Bonecas Russas": Continuação de "Albergue espanhol", uma produção franco-inglesa e que conta com a doce Audrey Tautou (Amelie Poulain).
"Manual do amor": A história de quatro casais que passam por momentos diferentes, mas pelos quais todos os casais passam, já passaram ou ainda vão passar. Num deles podem estar vocês. Além do mais, é um filme italiano!!! Será que é bom? Mama mia!
"Não é você, sou eu" – Quem aí nunca ouviu ou falou isso antes??? Essa é uma frase tão ruim de falar quanto de ouvir, concordam? Além de ser argentino, uma atração a mais nesse filme é ver um cara mimado se dar mal e ter que lidar com isso. Depois de "Match Point" (o último e surpreendente filme de Woody Allen), nós mulheres merecemos isso!!!

TEATRO
Ensaio aberto da peça "Mordendo os lábios", que além de escrita e dirigida por Hamilton Vaz Pereira, conta com Caio Blat (precisa dizer mais alguma coisa?). O lado ruim é ter que aturar a Mel Lisboa (argh!). E.C. Sergio Porto, até 30/04. R$ 6

EXPOSIÇÕES
•MIRABOLANTE MIRÓ. Acervo de 172 gravuras e 25 pôsteres, vindos da Galeria Lelong, de Paris, com a obra dos últimos 20 anos do catalão Juan Miro, no MAC. Das 10h às 18h(Ter. a dom.). Grátis.
•CARLOS CONTENTE. Desenhos, pinturas, esculturas... A Gentil Carioca (R. Gonçalves Ledo 17, Centro). Das 12h às 19h(terça a sáb.). Grátis.
•17º SALÃO CARIOCA DE HUMOR. Centro Cultural dos Correios.Das 12h às 19h. Casa de Cultura Laura Alvim. Das 12h às 21h.Grátis.
•A CARA DO RIO 2006. Centro Cultural dos Correios. Das 12h às 19h. Grátis.

sexta-feira, 31 de março de 2006

O Rio "na fita"

Sempre ficava enciumada quando artistas cariocas escolhiam outras cidades para gravar seus dvds ou cds ao vivo. Ficava me perguntando, se os artistas estrangeiros vêm à cidade e a elegem como a mais bonita do mundo e seu público como o mais caloroso de todos, por que justamente os artistas locais vão gravar em outras praças?

A ciumeira bateu mais forte com o "Instinto coletivo", dO Rappa, e com o "MTV apresenta Seu Jorge", gravados, respectivamente em Porto Alegre e São Paulo. E nem adianta dizerem que “tantos outros já gravaram aqui”, ou que “o show do primeiro DVD dO Rappa é no Olimpo”, que “a Madonna adorou o Rio”, que “os Chili Peppers amam tocar aqui”, que “os Stones fazem show ‘de graça’ pra gente”, que “o Bono disse que o sonho dele era tocar no Maraca”, que o Jamiroquai e o Light House Family usam imagens da nossa cidade em seus clipes... NÃO ADIANTA!!! Somos (os cariocas) mimados e esses espinhos ficaram entalados em nossas gargantas.

Pois bem, parece que eu não fui a única enciumada. Prova disso é que o Barão Vermelho não negou suas origens e fez seu DVD com duas noites de Circo Voador. Ontem foi a vez de Fernanda Abreu, no Teatro Carlos Gomes; e, na próxima terça, Cidade Negra faz seu show-tipo-exportação na Fundição Progresso.

Esses são artistas que honram suas origens – a gema!
Eu também quero meu crachá! Sou carioca, pô!!!

DROPS
• Até terça-feira, das 09h às 18h, no Senac da rua Marquês de Abrantes, 99 (Flamengo), acontecem workshops, oficinas e exposição dos melhores projetos de design dos estudantes de 11 instituições de ensino. É a feira RIO FAZ DESIGN. Grátis.

• Segunda-feira, às 19:30h, a Livraria DaConde homenageia o escritor francês Honoré Balzac, com leitura de contos e textos. Grátis.

• Vai só até o dia 21 de abril, a Feira Internacional de Linguagem Eletrônica – FILE, no Centro Cultural Telemar!!! Grátis.

• Além do novo cd de Chico Buarque, que deve chegar às lojas em abril, uma outra novidade promete causar furdunço nos ouvidos cariocas – Sábado é o novo disco de Bena Lobo (filho de Edu Lobo). A bolachinha trará músicas suas em parceria com Seu Jorge, Pedro Luís e Lenine. Na banda que o acompanha, virão Arthur Maia e João Vianna. Ulalá!

• Às terças, a Modern Sound abrirá suas portas para pocket shows com os lançamentos da gravadora Deckdiscos. Enquanto isso, a Saraiva da rua do Ouvidor abre espaço para os lançamentos da gravadora Delira Música, às sextas, às 12:30h. TUDO DE GRAÇA!

PROGRAMAÇÃO

SEXTA, 31/03
Banda de Pífanos de Caruaru. Xote, ciranda, baião, samba e pífanos, claro!. Bar do Tom (R. Adalberto Ferreira 32, Leblon). R$ 20

SÁBADO, 01/04
Feira Rio Antigo. Antiquários, decoração, acessórios e boa música. Lavradio. Grátis.

TERÇA, 04/04
•CIDADE NEGRA grava seu dvd convidados especiais Lulu Santos e Paralamas do Sucesso.
Fundição Progresso. R$ 35
•Namadera. Banda do consagrado baterista Wilson das Neves. Estrela da Lapa. R$ 15

QUARTA, 05/04
•Gente Fina & outras coisas. No repertório da banda, Moacir Santos, Pixinguinha, Noel e Chico Buarque. Modern Sound. Grátis.

QUINTA, 06/04
•LOS DJANGOS e outros. Festival Geringonça – Amostra Grátis. Sesc Tijuca às 17:30h. Grátis.

Sexta e sábado, 07 e 08/04
•O RAPPA. Show acústico registrado em dvd. Fundição Progresso. R$ 35
•Jack Johnson. Músico havaiano, toca sua surf music de estilo casual e semi-acústico pra molecada. Apoteose. R$ 100

DOMINGO, 09/04
Mercado Mistureba. As bandas Binário e Moptop, que abriu o último show do Oasis no Brasil, serão as atrações musicais da feira. Vale conferir. Teatro Odisséia. R$ 3 ou um Kilo de ñ-perê.

CINEMA – ESTRÉIAS
•"Crianças invisíveis": falei nesse filme na semana passada, na matéria sobre o Spike Lee, lembram? Então, além dele e da Kátia Lund (BR), Riddley Scott, John Woo e mais 3 diretores de diferentes nacionalidades mostram as mazelas da criançada em seus respectivos países.
•"As férias da minha vida": A história eu nem sei se é boa, mas o elenco promete – LL-“I’m gonna knock you out”- Cool J., Queen Latifah e Gerard Depardieu... Humm!!!!

EXPOSIÇÕES
•CARLOS CONTENTE. Desenhos, pinturas, esculturas... A Gentil Carioca(R. Gonçalves Ledo, 17, Centro). Grátis.
•17º SALÃO CARIOCA DE HUMOR. Centro Cultural dos Correios e Casa de Cultura Laura Alvim. Das 12h às 19hDas 12h às 21h. Grátis.
•A CARA DO RIO 2006. Centro Cultural dos Correios. Das 12h às 19h. Grátis.
•VISÕES DUB.2. Arte, fotos, vídeo, design em ritmo de Dub.Espaço Repercussivo (Av. Gastão Senges 185, Barra da Tijuca). Das 12h às 19h(Seg. a sex.). Grátis.

quinta-feira, 30 de março de 2006

Carangueijos invadem a Lapa

Aqui no Rio, muita banda boa pendurou as chuteiras porque o glamour da cidade-grande-capital-cultural-alto-falante-da-mídia-nacional cruelmente impõe aos corajosos artistas estreantes a obrigação de estourar e vender milhões e milhões de cópias. A responsabilidade acaba pesando demais e se os caras não têm a marra do D2, a ginga do Falcão ou a persistência de um BNegão, acabam largando o osso mesmo.

Por sorte, há muitos artistas bons correndo por fora, vindos de lugares considerados "menores". Lugares menos ofuscados pelas luzes dos tais holofotes. Lugares onde a pressão é menor e o ar é mais despreocupado. Daí, surge a pergunta: "por que no rio tem pato comendo lama?" Porque o pato do rio não é bobo e sabe que a lama ali é rica pra chuchu.

E "pato carioca" come a lama do mangue pernambucano pra ficar feliz. Prova disso foram os recentes shows das bandas Eddie e Mundo Livre S.A., respectivamente no Teatro Odisséia e Circo Voador, num intervalo de uma semana entre os dois.

"Animação" foi a palavra da noite no show de lançamento do álbum "Metropolitano", da banda Eddie. O Teatro Odisséia encheu para receber o quinteto de Olinda, liderado por Fabio Trummer (também apresentador de um programa sobre a cena musical pernambucana na TV local).

Mesclando as músicas novas com as dos cds anteriores "Sonic Mambo" e "Original Olinda Style", os olindenses colocaram todo mundo pra dançar com o "gafieira style" característico da banda. Explico: um misto de samba canção, frevo e reggae, com toques latinos. Irresistível.

Recuperado do machucado no olho esquerdo, provocado pelo cão de estimação, que o obrigou a usar um tapa olho no show de abertura pra Seu Jorge na festa "Enquanto isso na sala de justiça", no pré-carnaval de Olinda, Trummer e seu jeito desengonçado de dançar cativaram o público que agitou bastante e acompanhou todas as músicas dos trabalhos anteriores.

As músicas do disco novo – destaque para a faixa que dá nome ao disco, "Vida Boa", "Lealdade", "Maranguape" e "Fuleragem", instantaneamente absorvidas pelos presentes – soam exatamente como as já conhecidas do público: melancólicas, mas espirituosas. Dançantes, mas inteligentes. O que assegurou o bom andamento do show, que também contou com as citações a "Eu bebo sim", de Luis Antônio e João do Violão (incidental em "O Amargo"), "Cristina", de Carlos Imperial e Tim Maia – erradamente creditada à banda Picassos Falsos –, e "Retrato de um forró", do imortal Gonzagão.

Quem está lendo e lamentando por não ter ido, agora já sabe o que está perdendo. Eddie deixou saudades...

Eddie é Fábio Trummer (Voz e Guitarra), os gêmeos Kiko Meira (Bateria) e Rob Meira (Baixo), Alexandre Ureia (Voz e Percussão) e André Oliveira (trompete, teclados e sample).

Resenha publicada no site 021.

terça-feira, 28 de março de 2006

Tecendo asas

“Meu fá, minha fã
A massa e a maçã
Minha diva, meu divã
Minha manha, meu amanhã
Meu lá, minha lã
Minha paga, minha pagã
Meu velar, minha avelã
Amor em Roma, aroma de romã
O sal e o são
O que é certo, o que é sertão
Meu Tao, e meu tão...
Nau de Nassau, minha nação”

(“Meu amanhã – Intuindo o til”, Lenine)

É delicioso observar uma pessoa que se expressa bem. Falar bem é uma arte. Não me refiro apenas à dicção ou à voz. Aliás, como sempre, a forma nem é tão importante se o conteúdo for interessante. O mesmo se aplica à letra e ao texto, mesmo hoje em tempos de teclado e monitor. É a articulação entre a idéia e as palavras que me encanta.

Admito que tem sido cada vez mais raro encontrar pessoas capazes disto, mas adoro parar para ouvir quem tem algo a dizer. E há aqueles que, mesmo sem ter nada a declarar, são tão convincentes que fazem o nada parecer relevante.

Desde que comecei a me interessar por literatura, percebi que os maiores autores escolhiam as palavras que melhor combinavam com o tema da história a ser contada. Se o texto relatasse a morte de alguém, palavras fúnebres já ambientavam o leitor para o desfecho que a cada linha se aproximava. Prosas de amor eram recheadas de “palavras cor de rosa”. Rubem Fonseca, por exemplo, me ensinou a escrever vários termos que via os delegados nas séries de TV usando.

O mesmo acontece com algumas pessoas à nossa volta. Podem reparar. Há pessoas que abrem a boca e, em poucos minutos, se desnudam. Nas primeiras frases, pelas palavras que escolhem, já denunciam se estão felizes ou infelizes. Doentes ou bem dispostas. Amando ou solitárias.

Mas há uma outra categoria de gente. Aquela que usa e abusa das palavras. Que ousa imprimir felicidade a uma palavra habitualmente triste. Vivifica seres inanimados. Sombreia até as lâmpadas mais incandescentes. São os poetas. Eles têm o poder de transformar o denotativo em conotativo e confundir os que dão os primeiros passos numa língua desconhecida.

Há poucos dias suei a camisa. Tentava convencer alunos, em seus primeiros passos na língua inglesa e com dicionários em punho, de que a tradução que dei para as palavras da música disposta no quadro negro, apesar de um pouco diferente da definição do dicionário, faria mais sentido se ainda houvesse aulas de literatura nas escolas. Não pareceram muito convencidos com a explicação de que o sentido literal é o apresentado nos glossários e que o bom poema brinca com as palavras, exatamente como Zeca Baleiro havia feito na música em questão, o “Samba do Approach”.

Citei vários exemplos que pude sacar na hora para mostrar a eles como os poetas se utilizam das palavras e das imagens para criar novas idéias e dar novas formas a velhas definições. A pedra no meio do caminho de Drummond, o amor “eterno enquanto dure” de Vinícius, o erro que tem vez para Leminski, a estrela cadente que se joga de Gilberto Gil e o “vigia” que cata a poesia entornada no chão ou o paletó que enlaça o vestido, de Chico Buarque. Alguns foram compreendidos. Outros, não.

Fiquei bastante preocupada. Estará surgindo uma geração de órfãos de poemas? E pior, de poesia? Se a literatura é uma janela aberta para sonhar e ampliar nossa visão de mundo, a poesia nos dá as asas para voar para fora dessa janela. Se esses meninos não sabem sonhar, esses meninos não podem voar! Que futuro árido nos aguarda...

A ilustração que melhora esta coluna é de Wilson Domingues. Thanx, Wilbor!

sexta-feira, 24 de março de 2006

Um plano perfeito para o final de semana

Admito. Não foi com as primeiras versões de A Escrava Isaura nem de Sinhá Moça que comecei a pensar e me irritar com a condição dos negros no Brasil. Foi com os filmes do Spike Lee. Devia ter uns 14 anos quando vi Faça a coisa certa pela primeira vez. Aprendi que preconceitos raciais existem não só contra negros e não só no Brasil. Depois disso, quase todos os filmes dele que entraram no grande (e médio) circuito eu fui conferir. Sim, a questão racial está presente em grande parte dos trabalhos desse diretor que quando não torce pelo time de Cuba, torce pelo Brasil nos panamericanos, mas a maneira de mostrá-los nunca é a mesma. E nunca é tão ranzinza que não consiga arrancar umas boas risadas no de(s)correr do tanto de informação que é socada para dentro do cérebro daqueles que se dispõem a assistir seus filmes com a atenção merecida.

No ano passado, foi representado no Festival BR de Cinema pelo filme Crianças invisíveis, no qual 7 diretores de diferentes nacionalidades (entre eles a brasileira Katia Lund) foram incumbidos de mostrar um pouco da realidade das crianças de rua de seus países.

Hoje entra em cartaz mais um filme de Lee, O plano perfeito. E, a exemplo de seus Malcolm X e Mais e melhores blues, o melhor ator negro americano interpreta o papel principal. Tem como perder um filme de Spike Lee, estrelado por Denzel Washington, que ainda por cima rivaliza com o malvado Clive Owen? É demais para meu pobre coração! Pena ter de encarar a louraça Jodie Foster... Mas pensando bem, além de boa atriz, os meninos-espectadores também merecem um colírio!

OBA OBA
Mostra de teatro estudantil no CCBB. Sábado e domingo, às 19h, até 26 de março. GRÁTIS.
http://www.bb.com.br/appbb/portal/bb/ctr/rj/index.jsp

PROGRAMAÇÃO
Sexta, 24/03
•O bloco do Boi Tatá anima a rua do Mercado, próxima à Praça XV, a partir das 20h. Grátis.
•MUNDO LIVRE S.A.: apresenta o show de seu último cd Bêbado Groove..., Circo Voador . R$ 30
•A FILIAL: festa Ronca Ronca + hip hop ao vivo . Teatro Odisséia . R$ 20.

Sábado , 25/03
Jamiroquai: Claro Hall, R$ 120 (ui!) MUITO CARO E MUITO LONGE.

Segunda, 27/04
•FORA DA ORDEM: show de protesto contra a Ordem dos Músicos do Brasil, sob os Arcos da Lapa, com Lenine, Barão, Jards Macalé, Claudio Zoli, Zelia Duncan, etc. A partir das 16h. Grátis.

Sexta e sábado, 30 e 31/03
•FERNANDA ABREU: grava seu dvd no Teatro Carlos Gomes. R$ 20

Terça, 04/04
•CIDADE NEGRA: e seus convidados especiais Lulu Santos e Paralamas do Sucesso. Fundição Progresso. R$ 35

Sexta e sábado, 07 e 08/04
•O RAPPA: apresenta, na Fundição Progresso, o show acústico registrado em dvd. R$ 35

EXPOSIÇÕES

•CARLOS CONTENTE: desenhos, pinturas, esculturas... A Gentil Carioca (R. Gonçalves Ledo, 17, Centro). Grátis.
•17º SALÃO CARIOCA DE HUMOR: Centro Cultural dos Correios . Das 12h às 19h. Casa de Cultura Laura Alvim. Das 12h às 21h. Grátis.
•FOTO 2005 – PRÊMIO HERCULE FLORENCE: Casa França Brasil. Das 12h às 20h. Grátis.
•A CARA DO RIO 2006: Cultural dos Correios. Das 12h às 19h. Grátis.

MOSTRA DE FILMES E DOCUMENTÁRIOS
•É TUDO VERDADE: http://www.itsalltrue.com.br/2006/index_2006.html Confiram! A programação é extensa e eclética.